LIFT TO EXPERIENCE AO VIVO: O CORPO LEMBRA

Antes de subir ao palco do Dan’s Silverleaf, em Denton, Texas, Esteites, dia 31 de maio de 2016, o Lift To Experience só havia tocado ao vivo quatorze anos antes, dia 27 de junho de 2002.

No seu pouco tempo de vida, a banda só engrossou o culto em torno dela, de modo que a longa espera pelo retorno aos palcos foi comemorada e projeta alguns desejos e significados.

O único disco lançado pelo trio, “The Texas-Jerusalem Crossroads”, em 2001 (conheça em detalhes a história aqui), ganhou uma nova mixagem e lançamento, marcado pra 3 de fevereiro de 2017, via Mute. De quebra, o que parecia impossível aconteceu: o trio voltou a tocar ao vivo – nem que por apenas cinco shows.

Josh Pearson, o maluco vocalista e guitarrista, explicou à Noisey a felicidade de ver a obra ser relançada, resolvendo uma questão que o incomodava há quinze anos: “estamos bastante empolgados com o relançamento, porque há um arrependimento pela forma como foi feita a mixagem à época. Não foi uma mixagem adequada porque nós não pudemos estar presentes durante o processo. Ninguém queria lançar o disco, exceto a Bella Union, e eles não tinha dinheiro pra nos mandar pro estúdio mixar, nem pra mandar o material pra gente mixar aqui no Texas. Eles disseram que tinham só uma semana pra pra mixar o disco, era tudo ou nada. Nós tentamos por um ano achar um outro selo, mas só eles puderam. Então, meu único arrependimento é que não foi mixado do jeito que deveria. Não soa como a banda é. Não tínhamos dinheiro. Pagamos a gravação nós mesmos. Se eu tivesse um pouco mais de confiança, tinha raspado minha conta e voado até lá. Mas eram outros tempos. Eu bebia pacas, minha guitarra e meus amplificadores estavam penhorados, e eu tinha um disco que eu achava que era um presente pra deus. Não estava mixado e ninguém o queria, a não ser o pessoal do Cocteau Twins (os donos da Bella Union, veja aqui), o que é uma loucura”.

Na verdade, Pearson já queria que a banda voltasse a tocar, mas queria esperar o disco sair, o que demorou mais do que imaginava. Daí, pintou o convite pra eles tocarem no festival Meltdown, em Londres, graças a um dos maiores fãs do Lift To Experience: Guy Garvey, do Elbow, que chegou a abrir shows do Lift, no começo da carreira do Elbow. E a grana era boa. Toparam. Foram ensaiar.

Os quatro shows anteriores, no Texas, foram como ensaios: 31 de maio, no Dan’s Silverleaf (Denton); dia 3 de junho, no Texas Hall (Tehuacana); dia 4, no Barracuda (Austin); e dia 5, no último dia de funcionamento da clássica casa de Denton Rubber Gloves Rehearsal Studios. Dali, voaram pra Londres, pra tocar no Royal Festival Hall, dia 10 de junho, o maior público da vida deles.

Não foi fácil voltar a tocar. Pearson conta que teve que que ver no YouTube vídeos pra lembrar as notas das próprias canções: “vi alguns repetidas vezes. É interessante ver como a mente funciona, e percebi que havia algumas passagens que eu não conseguiria reproduzir. Mas foi só plugar meus pedais e algumas dessas partes vieram até mim. Foi estimulante lembrar aquelas notas. Há uma passagem em ‘Waiting To Hit’ que eu não conseguia e então finalmente quando não estava pensando sobre ela, a nota surgiu, os acordes surgiram. É excitante ver que o corpo lembra. O corpo lembra. Eu faço uns alongamentos agora, porque estou usando diferentes músculos e diferentes modos de tocar guitarra. Eu não usava aquele tom há quatorze anos, mas o corpo me salvou”.

“Tudo isso tem sido muito bom pra nós. Eu realmente precisava disso. Foi uma montanha-russa emocional, mas no bom sentido. Houve um elemento de surpresa. Foi bom ser surpreendido e sentir essas emoções novamente que eu não sentia há tanto tempo: raiva, tristeza e felicidade. Você chega a um ponto em sua vida onde você acha que não tem mais certas emoções”, disse, na mesma entrevista.

E, por fim, há a questão no novo e desejado disco. Ele existe? “Não, nada. Nós gravamos um ensaio em fita cassete, naqueles dias, quatorze anos atrás. Não ouvi nada daquilo desde então. Estamos sem agenda. Eu deixei tudo pra lá e foquei apenas em cair na estrada e nas minhas coisas country. É desafiador pra mim, especialmente a parte vocal. Mas aquelas fitas existem em algum canto”.

Só torçamos pra não ter que esperar mais quinze anos por isso.

Aqui dois vídeos da apresentação no Rubber Gloves Rehearsal Studios, o show final da casa. O primeiro tem a sequência “Falling From Cloud 9”, “These Are The Days” e “The Ground So Soft”. O segundo é apenas com “The Ground So Soft” (o plano é diferente).


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