Ainda não consigo entender essa lógica por trás da briga contra os downloads ilegais. Primeiro, porque não considero ilegal de fato, se o cidadão baixa a música e ouve em casa ou no seu iPod, sem revender, sem realmente ganhar um cascalho em cima da obra dos outros.
Ok, há o uso do trabalho de alguém sem o devido pagamento por ele. Mas a maioria dos artistas, principalmente os iniciantes, está vendo nessa ferramenta uma maneira única e inigualável de promoção ou para mostrar o seu trabalho sem depender de gravadoras, agentes e mercenários correlatos.
Segundo, porque é uma briga perdida. A indústria e os governantes podem armar leis, caçar internautas, arrochar os provedores de acesso, fazer o diabo e ainda assim estarão muito atrás do mundo real. É inevitável a música parar na Internet.
Lily Allen está puta com o Radiohead e com outros artistas “bem-sucedidos”, da tal FAC (Features Artits Coalition), que apóiam o compartilhamento de arquivos, porque ela não acha “justo com os novos artistas”. Ela defende a causa dos artistas iniciantes “pobres e oprimidos” pela injustiça da Internet e parece que um bocado de gente, como a NME, anda apoiando a moça.
No seu blogue, Lily Allen escreveu que está dando um aviso aos artistas britânicos: “compartilhamento de arquivos (de música) não é legal pra música britanica. Precisamos achar um novo jeito de ajudar os consumidores a ter acesso e a comprar música legalmente, mas dizer que a troca de arquivos é bacana não ajuda ninguém e definitivamente não ajuda a música britânica”.
Vê-se que não há de fato um argumento aqui. Nem ali. Dizer que não ajuda a música britânica não quer dizer nada, porque ninguém disse que trocar música na Internet ajuda a música britânica – ou a música em si, sob a bandeira de qualquer país. E dizer que os artistas de sucesso podem liberar geral porque eles já têm vários discos no currículo e já estão estabelecidos é meio remar contra a lógica, afinal esses é que deveriam ficar preocupados (como ela está), pois a fonte de renda deles, pretensamente, ainda são os discos, mas deveria ser os shows.
Digo isso há muito tempo, o que parece estar em concordância com muitos artistas: show é que dá dinheiro.
Como bem disse Jon McClure, do Reverend And The Makers, “acho que compartilhar arquivos é um fato da vida”. Lily Allen parece estar pregrando em nome próprio. Porque se há algo pra se preocupar não é isso, mas em qual alternativa o artista pode fazer as pessoas voltarem a querer gastar dinheiro com a música deles.
É a tal lei de mercado: o cidadão tem um produto, mas o consumidor prefere comprar qualquer outra coisa; aí o cidadão precisa dar um jeito de transformar o produto dele numa coisa mais atraente que valha a pena ser remunerada. Hoje, a indústria musical não entrega um produto que valha a pena ser pago por ele. A música em si talvez não seja mais o produto, mas sim o artista. Se o artista for interessante o suficiente para merecer ser pago para ser visto ou ouvido, ele será pago – mas não a sua música.
É possível dizer que estou falando uma insanidade aqui, mas não. Definitivamente não. A música é uma forma de promover o artista, de fazer o artista ser interessante a ponto de merecer ser pago para tocá-la àqueles que gostam de sua criação. A ferramenta principal que o artista tem para ser reconhecidamente interessante é a sua música, mas não é a única: existe a postura, existem os próprios shows que podem ser espetaculares em qualquer sentido (não pirotécnicos, veja bem…), existe a roupa, existe a letra da música, existe a capa do CD, existem outras formas de embalar a música que não só o CD e por aí vai.
O mais importante é: existem formas que não se conhecem ainda e é trabalho de quem está gastando rios de dinheiro e energia contra os downloads ilegais, ao invés de ser criativos, achar essas formas. Ninguém disse que não quer pagar por música. Aparentemente só não vale a pena pagar por ela, se ela está à disposição.
Isso ainda vai render muita discussão, ah vai. De que lado você quer estar?
Espero que bandas como o Radiohead, que têm conteúdo, prossigam facilitando os nossos deleites.
Lilly Allen?! Quem seria?