LINGERING LAST DROPS – ATAVISMO

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No sexto disco, “Atavismo”, lançado em 12 de janeiro de 2017, de maneira independente, o Lingering Last Drops dá mais uma amostra da sua diversidade com o manuseio das próprias influências.

Atavismo: “hereditariedade biológica de características psicológicas, intelectuais, comportamentais”, segundo o dicionário. É uma reminiscência evolutiva, algo que ficou no meio do caminho nas gerações anteriores e que voltou a aparecer.

Mas também pode ser aquilo que herdamos e que nem nos damos conta, mas que manuseamos no dia a dia, culturalmente, no trato com as outras pessoas, características que definem o que somos e como somos.

Carlos Paraná, o cabeça do projeto, assim como qualquer pessoa e em especial como qualquer artista, está mostrando o resultado de seu “atavismo cultural” há tempos, desde o primeiro disco, lá em 2009. Realocar, desestruturar, reafirmar, realinhar influências são atos que o artista precisa ter a todo instante. A criação busca pontos de partida de lugares não imaginados. Entretanto, são lugares e inspirações que sempre se fizeram presentes, podendo estar inativos esperando sua reativação.

“Atavismo” é um disco bem diferente de seu anterior, “Bresson Bergman” (leia e ouça aqui), que tinha protagonismo das guitarras e dos ruídos. Em “Waterstains”, o pós-punk dava as cartas (leia e ouça aqui). Porém, o novo disco parece ter nascido de outra premissa.

Paraná apresenta um universo sonoro distante, frio, soturno e preenchido por vazios. São peças climáticas, que embora estejam mais pra “canções” do que pra “texturas sonoras”, se mostram tão distantes do ouvinte que a contemplação (ou o escape) pode ser a melhor forma de reagir.

“Naked” tem desleixo meio punk-lo-fi, nos vocais, logo encoberto pelas poucas vezes que a guitarra se faz presente – o instrumento praticamente se despede aqui. É o ponto fraco do disco. O melhor ainda está por vir.

A faixa-título, com seus quase dez minutos, tem uma guitarra enlouquecida nos seus primeiros minutos, mas os sopros jazzísticos e os drones é que dão o tom. É como se o “roqueiro” (perdão pelo termo) desse lugar a um gene adormecido de compreensão mais ampla da música, daquilo que o universo sonoro pode oferecer. A faixa é um bom exemplo de experimentalismo – soa como um ensaio, mas é obviamente muito bem acabada.

“Snö” e “Imprecision” são ainda mais soturnas, delicadas e distantes, trilhas de filmes de terror ou do mais solitário personagem de ficção científica. São duas belas peças dessa face do Lingering Last Drops, que também tem fôlego pra reler Nina Simone, em “Come Ye”. O disco termina com a “acústica” “Sight”, com sopros tristes, como numa procissão fúnebre.

No som do Lingering Last Drops sempre foi possível identificar essa proximidade com a estranheza. Mas a banda vinha “escondendo” a explosão experimental que mostrou nesse disco. Se “os terrores orquestrados de Scott Walker e o batmacumba dos Mutantes” são a marca do seu som, como disse Paraná certa vez (leia aqui), a genética inativa revivida aqui dá a dimensão do quanto nós temos potencial pra nos reinventar.

1. Naked
2. Atavismo
3. Snö
4. Imprecision
5. Come Ye (Nina Simone cover)
6. Projection 182016
7. Sight

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