LOOMER – DESERTER

“Deserter” é o segundo disco cheio da Loomer, a banda mais shoegaze do Brasil, se esse tipo de qualificação vale pra alguma coisa. Ele sai via Midsummer Madness e Sinewave (baixe de graça aqui) nesse dia 27 de outubro de 2017, sucedendo “You Wouldn’t Anyway”, de um já distante 2013 (leia e ouça aqui).

Ocorre que a Loomer é uma banda de processos lentos e passos demorados. O disco está sendo gestado há anos em estúdios como a Dissenso, em São Paulo, e Dub, no Rio Grande do Sul. Não é um grupo inserido em seu tempo, pelo contrário. A Loomer está em outra dimensão tempo-espaço. Não usa a Internet e as redes sociais pra se promover (ou forçar uma falsa promoção), não produz como pastelaria e não cria música pra conseguir contratos em SESCs.

Faz tudo ao contrário. “Deserter”, o título, dessa forma, faz todo o sentido. O quarteto é como um desertor da lógica dos nossos dias. Com o novo disco mais cru, pesado e barulhento, a banda ainda faz um shoegaze clássico, em inglês, pra My Bloody Valentine e Pin Ups (tá mais pra esse último) se orgulharem, e dá uma banana pra qualquer tipo de concessão.

É um trabalho pra vidrar a cabeça. Barulho, barulho, barulho. “Mind Control”, “Another Round” e principalmente “Miles”, com suas notas explosivas e efeitos retorcidos, fazem o ouvinte não adaptado pedir arrego. “Stardust” é uma deliciosa peça pop cheia de sujeira e “Plan B” é quase um Dinosaur Jr. se arrastando pelos cantos empoeirados do canal auditivo.

“É um jogo de tentativa e erro”, cantam em “Mind Control”, mesmo a gente sabendo que a Loomer acertar é um critério muito pessoal, não importando muito o que o resto vai achar. Não é discurso da boca pra fora. É a percepção de que esse é um jogo perdido. A banda não estará em festivais, na boca do povo, nem ganhando dinheiro com isso. Então, qual o sentido de se entregar? Desertar não é desistir, é simplesmente seguir o seu caminho.

“Do seu jeito ou de jeito nenhum”, como eles bem observam em “Opinions”, talvez o tema mais inserido nos tempos atuais que a Loomer pode chegar. Mas parece que pra banda isso não vale. Ela tem o jeito dela e quem quiser seguir, que siga, ou faça cada um do seu jeito. Do it yourself ou não?

De toda forma, não me consta que a Loomer faça esforço pra parecer ultrapassada ou queira ser premeditadamente saudosista de um tempo deliciosamente impraticável (e romântico) pra artistas subterrâneos. Acontece que ao desertar da lógica atual e olhar pras próprias preferências, incapacidades, erros, falhas e defeitos, a banda optou por se isolar no distanciamento seguro da auto-apreciação, sempre de portas abertas pros ouvidos atentos.

Esse posicionamento soa suficientemente provocativo. Ela faz do jeito dela, mas não quer interferir no jeito das outras pessoas fazerem as coisas. Em 2017, isso é punk pacas, é o que faz barulho.

01. Then You Go
02. Personal Illusion
03. Mind Control
04. I Have To Stay
05. Lack
06. Miles
07. Stardust
08. Plan B
09. Another Round
10. Opinions

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