Eis um disco que já nasceu provocativo. Quer dizer, nem nasceu ainda. “Quarup”, a ousada ideia de um “disco duplo” dos mineiros da Lupe De Lupe, está em maturação, mas o Floga-se adianta um pouco dessa “loucura”.
Primeiro, por que “loucura”? A resposta é simples, com um espanto em forma de outra pergunta: quem diabos, em sã consciência, no Brasil e nos dias de hoje, lança um disco duplo?
Em tempos em que ninguém mais lê, em que ninguém mais vai a shows de bandas subterrâneas, em que ninguém gosta de provocações, em que ninguém mais ouve discos longos, como esperar que alguém abrace a ideia de um álbum de vinte e uma canções?
Pois a Lupe De Lupe resolveu abraçar a ideia e “Quarup” está aí, em 12 de novembro de 2014, surgindo de forma arrebatadora.
Já dá pra ter uma ideia. Aos poucos, a banda vai divulgando algumas faixas. E percebe-se que esses mineiros não ficam só no discurso. São canções ruidosas e provocativas, calmas e bonitas, instigantes, com apelo pop e com apelo experimental. Primeiro, “Eu Já Venci” (ouça aqui), depois “Ágape” (ouça aqui), então “Fogo-Fátuo”, que você ouve abaixo, e, com exclusividade pelo Floga-se, a nova “Querubim”:
Vitor Brauer fala sobre “Querubim”: “composta pelo Renan Benini, direto de Pelotas, onde ele tá morando, ele gravou a voz lá e nós arranjamos o resto aqui por BH. Esse épico tem uma letra que é um caso curioso: o Renan revisita canções passadas dele, como a primeira da sua história como compositor, ‘A Escrava Isaura’ (o querubim em questão é uma alegoria de amor perdido ou algo assim, não sabemos direito), e ‘Os Dias Morrem’. A letra é um pouco vaga pra gente (a letra está aqui), mas parece tratar de sua desilusão com a vida em si, e até a desilusão com o mundo da música, um pouco. Essa música dita muito sobre a ambientação do disco ‘negativo’ do ‘Quarup’. Distorção e reverb em camadas densas, essas coisas”.
Sim, porque “Quarup” tem essa dualidade: um disco ruidoso, um disco mais manso, um disco “negativo”, um disco “positivo”. São vinte e uma canções no total, todas produzidas por Brauer e a banda, sem nenhuma interferência externa, praticamente tudo no estúdio caseiro Geração Perdida.
“A nossa banda sempre teve brigas com produtores e engenheiros de som em geral porque eles não entendem que o nosso som tem de ser potente, tem de clipar, tem de ser bagunçado, quando ele precisa disso. Então, em um disco duplo, é mais um momento pra gente se firmar, sim. Nós fizemos tudo, só a gente. Sem ajuda de ninguém. Por isso, que as nossas coisas têm a nossa cara também, mesmo que não tenha distorção. O nosso estilo tá nas letras, na produção, na mixagem, tá em tudo. Essa é a vantagem da gente fazer as nossas coisas. Temos mais liberdade na composição e menos preocupação com o resultado final, porque a gente é muito tranquilo com isso”, revela.
Há canções compostas pelos integrantes da banda separadamente, e só uma delas é assinada pela banda toda. O guitarrista Gustavo Scholz assina duas; o bvaixista Renan Benini, nove; o vocalista Vitor Brauer, outras nove.
Cadu Tenório participa de “Jurupari”.
Aqui estão as músicas, sem separação por disco, já que o lançamento se dará de forma independente, pelo Bandcamp mesmo, sem selo algum assinando, e é essa a experiência que o ouvinte terá: ouvir tudo de uma vez.
Mais pra frente, a ideia é lançar também em CD e vinil duplo (bem mais difícil, pela questão financeira), mas é quando a noção dos dois discos fará mais sentido fisicamente.
Escute aqui na íntegra:
01. O Futuro É Feminino
02. O Arrependimento
03. RJ (Moreninha)
04. Gaúcha (clique aqui pra ver o vídeo)
05. SP (Pais Solteiros)
06. Colgate (clique aqui pra ver o vídeo)
07. Ao Meu Verdadeiro Amor
08. Esse Topper Foi Feito Pra Andar
09. Ágape
10. Fogo-Fátuo
11. PKA Prefácio
12. Jurupari
13. Orquestra Pra Três
14. Minha Cidade Em Ruínas
15. Querubim
16. Eu Já Venci (clique aqui pra ver o vídeo)
17. Noma
18. Reino Dos Mortos
19. Você É Fraco
20. A César O Que É De César, A Deus O Que É De Deus
21. Carnaval (clique aqui pra ver o vídeo)