LUVBUGS – DIAS EM LO-FI

Depois do ótimo “Enxaqueca” (de 2015, leia e ouça aqui), a dupla carioca Luvbugs lança seu segundo disco cheio, “Dias Em Lo-Fi”, dia 13 de julho de 2017, via seu próprio selo, Violeta Discos.

São onze canções produzidas e masterizadas pelo guitarrista e vocalista Rodrigo Pastore, que versam sobre um estilo de vida arejado e desejado pela dupla, formada também pela baterista Paloma Vasconcellos.

Em bate-papo com o Floga-se, Rodrigo afirma, portanto, que “Dias Em Lo-Fi” não é exatamente uma afirmação sobre o tipo de som da banda. “Às vezes penso (também) que não é exatamente nosso estilo de vida atual, mas um estilo de vida que buscamos”, diz. “Não sei se é um sonho inalcançável, alguns dias em lo-fi rolam, o que talvez seja inalcançável seja uma vida totalmente assim. Não sei se consigo planejar muito as coisas; a partir de quando deixei a vida levar e pensar menos num futuro, as coisas começaram a caminhar… A gente tem tentado ir mais à praia, ter um pouco mais de paz na vida”, completa.

Ampliando o espectro, Paloma afirma que “o lo-fi ao qual nos referimos não é nada pueril, muito pelo contrário. É o lo-fi do modo de viver sabendo valorizar as coisas simples da vida. Algo muito difícil de se encontrar nesse mundo capitalista de hoje, infelizmente. Quanto à sonoridade, é a mesma referência. Se você ouvir o disco com atenção perceberá que fizemos tudo – letras, melodias, gravação – do modo mais simplista possível. No sentido de que menos é mais. Viver dias em lo-fi pode ser libertador, mas só pra pessoa que souber viver e ser livre, que souber dar valor pras coisas mais simples, verdadeiramente”.

É curioso, nesse sentido, comparar com “Enxaqueca”, cujo título remete a algo mais estressante. “Pra mim”, diz Rodrigo, “a maior diferença é que eu considero as letras desse mais pessoais, tem algumas ‘angústias’ que eu não via no anterior, porque na verdade cada música tem uma história. Cada faixa vem de uma experiência vivida”.

Falar sobre o sol, sobre o entardecer, passeios de bicicleta, amores juvenis, pra muita gente, em tempos bicudos, pode soar fútil, mas a dupla afirma que não é bem assim: “nos preocupamos, sim, com a profundidade das letras, incluindo as emoções que elas passarão aos ouvintes. Assim, cantar sobre a natureza, ou dias de folga, ou ficar ao sol pode ser tudo, menos pueril. Mas isso tudo, claro, depende da pessoa ouvir o disco atentamente e interpretar as coisas à sua maneira. Porque afinal cada um tem sua própria bagagem que implica na forma como cada um interpretará e quais emoções sentirá ou como irá se identificar com as nossas músicas”.

Levar a vida talvez seja a solução que muitos de nós encontra pra enfrentar as topadas e os desafios do cotidiano. Entretanto, as facilidades da tecnologia e da Internet deram a uma geração inteira a possibilidade de produzir, gravar e distribuir uma arte que expresse seus anseios e angústias na forma que achar melhor. A Luvbugs faz isso, junto com o desejo de levar uma vida mais leve. E aqui, em “Dias De Lo-Fi”, faz um tratado de como seria o seu ideal de vida, ao mesmo tempo que usa a arte como válvula de escape pra tirar pesos e pesos das costas.

Rodrigo exemplifica o que seriam as tais “angústias” e “vivências” que citou: “‘Bike Verde’ representa boa parte da minha infância, em que eu morava numa vila no interior de Angra dos Reis (‘minha bike era minha melhor amiga’, destaque da letra pelo editor)… A primeira, ‘Perder Sentido’, que diz ‘ainda é fácil se estressar e perder sentido, só a vida pra ensinar a perder o medo’, são algumas angústias que vivemos sempre que convivemos com outras pessoas; quando a gente briga, muitas vezes perdemos sentido. E tem a ‘Ouvindo Neil Young’ que eu fiz pra um amigo que se foi…”.

“Dias Em Lo-Fi” tem dois anos de distância pra “Enxaqueca”, um tempo elástico pros nossos dias facilitados, mas isso não quer dizer que a dupla tenha tido dificuldades pra gravar ou coisa que o valha. “Apenas demoramos pra iniciar as gravações porque como não temos bateria em casa, tivemos que esperar conseguir data disponível no estúdio em que queríamos pra Paloma gravar. Além de algumas pequenas questões pessoais. E o resto – guitarra, vocal, mixagem, master – foi super tranquilo já que foi tudo feito em casa mesmo. Totalizando o processo, (levou) do final de dezembro de 2016 a fevereiro de 2017″.

A dupla fala do processo como uma tranquilidade que transporta o leitor e o ouvinte pra um imaginário de total sossego, exatamente como a música do Luvbugs tenta transparecer. Há de se crer que talvez, mesmo sem saber, a dupla já tenha alcançado de alguma forma, ou em alguma dimensão, esse estilo de vida lo-fi que poetizam e sonorizam.

É uma utopia que deixa de ser utopia quando se assume a própria realidade como um ideal a ser melhorado pelas arestas, aperfeiçoado aos poucos. A torcida é que os dias em lo-fi sejam uma regra na vida de todos.

01. Perder Sentido (clique aqui e veja o vídeo)
02. Vou Só
03. Dias Em Lo-Fi (clique aqui e veja o vídeo)
04. Ela Sabe O Que É Certo
05. Elevador
06. Bike Verde
07. Eu Queria Ver O Sol (clique aqui e veja o vídeo)
08. Coração Desbotado (clique aqui e veja o vídeo)
09. Ouvindo Neil Young
10. Voar Por Aí
11. Insolação

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