MACACO BONG – DEIXA QUIETO

O sexto disco de estúdio do Macaco Bong é algo curioso. Pra além da ousadia de recriar o maior ícone musical pra juventude de guitarras dos anos 1990, o “Nevermind”, do Nirvarna (disco de 1991), o trio comandado pelo guitarrista Bruno Kayapy reverteu toda a lógica que seguem as homenagens no mundo da música e não só recriou o clássico álbum como esmigalhou, baratinou e rearrumou as canções pra que elas virassem outra coisa.

Aqui, no campo do risco, Kayapy e sua turma – a saber: Daniel Hortides (baixo) e Renato Pestana (bateria) – seguiram pelo menos trilhado dos poucos caminhos possíveis numa homenagem: destruir pra reconstruir, quando normalmente apenas se reinterpreta ou se acrescenta poucas novidades. O Macaco Bong assumiu a reconstrução.

Ao mesmo tempo em que é uma ousadia, é também um escudo pra termos de comparação e pra crítica. A música não é a mesma, guarda elementos da original, um tênue fio-guia, de modo que não se pode chegar nem a comparar, algo aparentemente inevitável pelos fãs radicais (e eles existem nesse caso aos borbotões, como uma seita). A ousadia do Macaco Bong está mais no terreno de bulir com ícones santificados do que na reinterpretação em si, que, oras, tem lá sua curiosidade, mas até a banda deve ter ciência que não vai passar disso.

Por via das dúvidas, a banda se encarregou de deixar claro: “este trabalho não é um tributo e nem homenagem ao Nirvana, todos os arranjos são do Macaco Bong”, mesmo que, não se pode negar, de fato seja uma espécie de homenagem.

Dito isso e tendo clamado as palmas a quem tem direito, vale dizer que “Deixa Quieto” (a tradução mais “rua” pra “Nevermind”) é mais um exercício pro trio enumerar suas qualidades de músicos do que uma homenagem em si, como eles afirmam. Não deve ser fácil fragmentar canções tão incrustadas no ideário popular e reformulá-las de maneira que elas ainda existam sem que se pareçam. O homenageador, como notado acima e desde sempre, tem a tendência quase natural de se aproximar do homenageado ao máximo. É melhor não mexer no que se considera perfeito, é isso o que usualmente se pensa. Mas o Macaco mudou desde a ordem das músicas no disco (perceba abaixo), passando pelo nome das canções, com traduções divertidinhas (“Come As You Are” virou “Com Easy Ou Uber” e “Something In The Way” virou “Somente Whey”), até o andamento, o arranjo e, claro, a interpretação, tirando vocais (o Macaco é um trio instrumental, afinal de contas) e muito do peso e urgência das músicas. Virou outra coisa, mais com a cara matemática do Macaco Bong, menos com a crudeza, raiva e adolescência inflamada do Nirvana.

Se o resultado é bom ou ruim aí já é outra história – mesmo que de antemão já se possa imaginar o veredito dos radicais. Nas primeiras audições, o disco se mostrou cansativo e a percepção é a de que parece uma gravação de um aquecimento de ensaio. Não tem como não imaginar e pedir de volta os cantos esgoelados de Kurt Cobain e a bateria esmagadora de Dave Grohl. A magia conseguida pelo Nirvana é daquelas que mudam a história da música, como de fato ocorreu. No fio-guia a que o Macaco Bong se agarrou em suas revisões o efeito que dá ao ouvinte é essa vontade de voltar ao original.

De qualquer forma, a banda consegue imprimar certa identidade em suas versões, como é o caso de “Salão”, uma versão com toques de baião de “Lougen Act” e que remete também ao grande trabalho anterior do grupo, “Macaco Bong”, de 2016 (leia e ouça aqui).

Vale notar também a bela ideia da capa, com um pescador já idoso em busca do seu ganha-pão, ao invés do bebê hipnotizado pelo dólar.

Ouça o disco na íntegra e tire suas conclusões:

A produção, gravação, mixagem e masterização é de Bruno Kayapy. As gravações se deram em São Paulo, durante o ano de 2017. O disco tem lançamento da Sinewave e sai no começo de setembro de 2017 (linco assim que o selo publicar).

Eis a nova ordem do “Nevermind” do Macaco Bong e a relação das músicas:

01. Smiles Nike Tim Sprite (Smells Like Teen Spirit)
02. Móviaje (On a Plain)
03. Nublum (In Bloom)
04. Briza (Breed)
05. Loló (Polly)
06. Com Easy Ou Uber (Come As You Are)
07. Lírio (Lithium)
08. Drive-in You (Drain You)
09. Salão (Lounge Act)
10. Território Piercing (Territorial Pissings)
11. Longe De Tudo (Stay Away)
12. Somente Whey (Something In The Way)

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