MARC BOLAN – THE GODFATHER OF PUNK

Texto: Cristiano Bastos

Década de 1970. Músicas de vinte e seis minutos e quarenta e sete segundos: elas existem, pode acreditar. Sons tão complexos quanto o Alcorão e mais caudalosos que o Niágara desaguam dos sulcos dos vinis.

Valei-me hipérbole!

Esse modelo quase vira o único de uma geração que estava apenas crescendo nos 1970, mas pouco – ou nada – tinha a ver com a mania de grandeza sonora inventada pelos roqueiros. Os grandes músicos, ocupados com viagens egoastrais que mal cabiam nos LPs, nem percebiam que parte da juventude da época não sintonizava na mesma freqüência que a deles.

A década nascia com a ressaca dos sixties e, de largada, já prometia combinações completamente diferentes: individualismo com hedonismo, niilismo com diversão, perdição com drogadição. O futuro era bem mais excitante que o passado recente, que trouxera a espátula. O presente vinha com o bolo: já se desperdiçara um tempão afofando a massa – chegara a hora de atacar!

Só que velhos hábitos são uma praga: “me descola mais tempo num lado que ocupo na boa”, seria frase possível de se ouvir da boca de um músico insatisfeito com o espaço disponível num vinil, por volta de 1975.

Se rock progressivo clássico fosse coisa atual, com as mídias ilimitadas que se têm por aí, não se pode duvidar, esses mesmos caras fariam músicas de vinte e quatro horas, de uma semana – quem sabe, de meses, anos até! Expedições musicais com nascimento, desenvolvimento e morte da música; inclusive do próprio músico.

Tais epopéias só foram impedidas porque a pulsão que movia o prog-rock, em seu contexto histórico, hoje não existe com mesma intensidade.

Projeto: Música para uma Vida Inteira.

PLANETA TERRA: 1972-1977
Reich absoluto do rock progressivo. Bandas de duas toneladas e meia deixam, a cada pisada, pegadas maiores que a do King Kong. Os ouvidos dos jovens são massacrados pela megalomania dos rockstars de bata indiana.

Tempos há muuuito deletados – dos lados A & B, dos estéreos, das agulhas, das jaquetas LEE, dos Autoramas, da revista Pop! e dos singles.

Nos rock dos 1970, ser grande era documento: calçar grandes orgias, cheirar grandes botas de plataforma, dar grandes quantidades de cocaína (porque LSD tava fora de moda) – e, sim, fazer grandes shows, compor grandes canções & gravar grandes álbuns.

Mas o rock, que nascera bebê dinossauro, perdera o sentido original, a sacanagem e a direção; não era mais barulhento, se não fosse apoteótico, e pra ser pop, obrigatoriamente, precisava se pasteurizar como leite desnatado.

Aos dezessete minutos e meio do solo do teclado em alguma arena gigante, as cláusulas primárias firmadas no pacto que Robert Johnson fechou com Satã, o Pai do Rock, foram esquecidas nalguma encruzilhada do old south.

O rock tinha crescido e se tornado tudo, menos endiabrado: as excessões eram Led & Sabbath, que o impediam de ficar adulto de vez por todas. A tutela do Diabo fora escanteada; passara-se a negociar, às portas fechadas, com poderosas majors.

Elas passaram a representar a figura paterna & bastarda do capeta: tinham os contratos, mas eram apenas “padrastos” & “madrastas”. A alma, porém, ainda pertencia a Louis Cypher…

Até o punk implodir em 1977, com o start “oficial” dos Sex Pistols, na Inglaterra, e seu séquito de bandas, houve uma mente que vislumbrou a revolução pelo menos cinco anos antes: Marc Bolan.

Bolan viu que tudo andava muito chato e adulto e retomou as rédeas do negócio pro Diabo. Diversão com sensibilidade e genialidade ganhava devido lugar no rock após muitos anos. O capeta deu a maior força.

GODFATHER
Por isso, entre os britânicos, Marc Bolan é “The Godfather of Punk”. Algum incauto poderá dizer: “mas ele era glitter! Nada a ver – olha só o cabelo dele! E as roupas?! O sonzinho: punk?”.

Pode ser que, de primeira, você não caia na feitiçaria de Bolan e, muito menos, saque direito como ele comunica sua misteriosa música. Mas, com ouvidos e mente abertas, com o tempo, passa a entender que ele foi único.

O que mais impressiona, todavia, é sua simplicidade.

Marc era tão simples – e sempre exigente – que, segundo Tony Visconti, seu pordutor de longa data, se não acertava uma canção em três takes logo desencantava. Marc Bolan se transformou no grande herói dos adolescentes que, cinco anos a frente, assumiram o punk e o pós-punk na troca da guarda do glitter rock.

Esses jovens eram Morrisey, Sioux-Sioux, Johnny Marr, Billy Idol, Steve Jones – todos fãs. Quando Bolan teve o seu programa de televisão em 1977, “Marc Shows”, na TV Granada, “deu força” pra todas as bandas punk da época, de Generation X, Damned e The Jam.

David Bowie foi amigo e rival, mas confesso admirador que um dia entregou sua relativa inveja pelo amigo: “nunca tive nenhum adversário na Inglaterra, a não ser Marc Bolan. Eu tentei como um louco colocá-lo na lona. Na teoria, eu sabia que isso era bobagem, mas na prática eu realmente queria acabar com ele de qualquer maneira”.

Bowie fez pra ele a belíssima “Prettiest Star”, do álbum “Aladin Sane” (1973). Não precisa explicar mais nada. O Duke Magro cantou “Heroes” no televisivo de Bolan.

Marc Bolan foi “punk”, mas de uma forma bem elegante, na realidade: recuperou o antigo rock simples dos pioneiros Elvis & Perkins e, nem por isso, deixou de sofisticá-lo com sua visão pessoal.

Lembrou, pra que nunca se esqueça novamente, que rifes são a alma do rock: foram inventados pra se abusar, variar e derivar.

A gigantesca influência de Marc Bolan fez-se sentir em artistas dos estilos mais variados, que apareceram depois dele. Anacronicamente: Violent Femmes, Sigue-Sigue Sputnik, Patti Smith, Bauhaus, Guns’n’Roses (olha a cartola e o cabelo do Slash…), Supergrass, Kiss, Blondie, New York Dolls, Alice Cooper (Bolan tocou nas sessões de “Billion Dollar Babies”).

“Marc Bolan foi o primeiro artista que nos disse que o futuro era mais importante que o passado”, disse Morrisey na reportagem “The Rise & Fall Of The Ultimate ’70 Superstar”, capa da revista inglesa Mojo de maio de 2005.

ASGARD
Na tradição dos anos 1970, editar um single era o motivo pra lançar, no lado A, a “música de trabalho”, aquela escolhida pra promover o novo álbum. O precioso espaço do verso não era satisfatório pra caber toda grandiloquência de viagens cósmico-conceituais.

Um disco com o roteiro a seguir poderia muito bem ter sido feito – se é que não foi. Antes de ler imagine as brumas de Asgard, o primeiro dos três mundos do universo nórdico:

“É o reino dos deuses. Em Asgard está situada Valhalla, o palácio dos guerreiros mortos em batalha. Também em uma região de Asgard está Vanaheim, a terra dos Vanir e Alfheim, a terra dos Elfos Luminosos. Em Asgard estão também os palácios de cada um dos deuses, como também Gladsheim, o grande santuário na Planície de Ida”.

A fábula de Asgard, de jeito nenhum, caberia no formato pop, o comprimido formato clássico de 2:24 min. Nem à base de censura. Então, os caras não davam a mínima pro lance.

Leva a pensar que até os progressivos (os pré), um dia, foram mais simples. “The Story Of Simon Simopath”, álbum da banda Nirvana UK (a primeira a usar o nome), de 1967, é dessas histórias contadas de forma resumida.

Consegue ser mais pop, por ser menor, mas já dá pra notar que, a partir de então, clamam pra ganhar mais “páginas”. Os fãs gastavam seus tostões com os singles, com média de três músicas por compacto: o laureado lado A e, de lambuja, uma ou duas canções no B. Se houvesse algo de bom no verso, lucro!

Poucos artistas deixavam a preguiça de lado pra editar, no lado secundário, um par de canções tão excelentes quanto as apresentadas no principal. Afinal, provavelmente, as músicas do lado B, com muita chance, não estrelariam no novo álbum.

Marc Bolan viu que estava tudo errado e reverteu isso com grande efeito pra sua própria carreira, repleta de singles de sucesso que alcançaram o “Top Of The Pops”.

Quem saiu ganhando mesmo foi o miserável público de rock daqueles enfadonhos dias, que perambulava pelas lojas de discos se virando com as antigas bandas de garagem. Talvez seja por isso que Marc Bolan é considerado uma espécie de realeza na Inglaterra – o “Dandy In The Underworld”: abasteceu o “teenage dream” de ensolaradas canções pop.

BOOGIE ON!
Por ordem, a melhor maneira de iniciar-se no planeta T-Rex são os álbuns “Electric Warrior” (1971), a coletânea “Bolan Boogie” (1972), “The Slider” (1972) e “Tanx” (1973).

Todavia, a coletânea “Great Hits B-Sides (1972/1977)”, lançada pela Edsel em 1994, tem algo de very-very special. Dada perfeição, cuidado e esmero, os B-sides reunidos têm valor de verdadeiros A-sides.

Bolan teve muito cuidado em estúdio ao produzi-los: são deliciosamente pop, no que de melhor o sentido dá à reciclada terminologia.

Reza que Bolan preocupava-se com a grana que os adolescentes gastavam comprando seus singles. Em troca, queria presenteá-los com os melhores sons que conseguisse gravar.

“Great Hits B-Sides” é relíquia essencial pros fãs do T-Rex. Ouvintes casuais poderão ser fisgados pelo balanço manhoso de Bolan – daí, um aviso: não tem volta.

GREAT HITS B-SIDES
A partir de agora, comento todas os singles reunidos nesta compilação, “obrigação” que eu tinha desde adolescente comigo mesmo. E que, só agora, mobilizei-me pra fazer. Depois desses anos todos, só pude concluir o óbvio: o som continua maravilhosamente igual – até porque, nunca parei de ouvir o disco.

Sim, claro (!), todos os lados A foram hits terrivelmente “grandes” também. O próprio nome da banda já afirma sua grandeza: T-Rex.

CADILLAC (lado B de “Telegram Sam” – 21/1/72)
Hit grandioso nas rádios de toda a Europa. Rifes e timbres definidores da primeira fase do chamado “T-Rex Sound”. Número 1 no Reino Unido.

Era esperada nos concertos sold out da banda e quase foi lado A. “Cadillac”, na verdade, marca fato trágico da carreira de Bolan: ele nunca soube dirigir, tinha fascínio por automóveis e, no entanto, morreu no acidente automobilístico que comoveu a Inglaterra, em 16 de setembro de 1977. Sua esposa, a cantora estadunidense Gloria Jones, estava ao volante.

BABY STRANGE (Lado B de “Telegram Sam” – 21/1/72)
Power pop! “Baby Strange” é tão simples e contagiosa que nem dá pra acreditar. O embalo de três acordes e o apelo irresistível do chorus são sedutores: “Oh, you’re strange / Don’t lame me baby strange / Don’t lame me baby”.

Detalhe: not a guitar solo. Revoluções são forjadas bem antes do que posamos imaginar… Alex Chilton, do Big Star, captou a magnética pulsação de “Baby Strange” e a incluiu em seu repertório de shows.

A intelectual Camille Paglia, professora de humanidades na Universidade de Artes da Filadélfia, fez uma tese inteira sobre os jogos vocais de “Californian Dreaming”. Paglia desconstrói o clássico do Mamas And The Papas em sala de aula pra seus alunos e, depois, remonta-o “peça por peça”.

Eu também poderia apresentar uma tese acadêmica sobre simplicidade e a eficiência de “Baby Strange”. Sou mais, porém, ao invés disso, dar-lhes uma valiosa dica: num dia de sol, escancare as janelas, coloque a faixa no volume mais alto que conseguir (pra sentir a força da bateria) e deixe que então a energia do rock corra em suas veias. Medicina.

THUNDERWING (Lado B de “Metal Guru” – 5/5/72)
“Thunderwing” definitivamente colocou na cabeça de Bolan a coroa de “Rei do Boogie”. Sua batida irresistivelmente sincopada funciona, pode-se dizer, como uma espécie de versão remix de “Get It On”, seu big hit.

O resultado obtido em “Thunderwing” caracterizou o chamado “T-Rex Sound” que o Seahorses, banda do guitarrista John Squire (ex-Stone Roses), perseguiu ao lado de Tony Visconty em estúdio (leia mais aqui).

O som almejado por Squire, típico de “Thunderwing” era, entre outras artimanhas, resultado da bateria dobrada e dos reforços de Mickey Finn ao bongô conduzidos pelo sensual ritmo da Les Paul de Marc Bolan.

Uma levada muito difícil de emular, aliás. “Thunderwing”, single de sucesso, não perdeu o gancho passadas mais de quatro décadas. Dissemine numa pista de dança enlouquecida pra ver no que vai dar… Depois emende com “Do You Wanna Touch Me?”, de Gary Glitter. Combustão certeira.

LADY (Lado B de “Metal Guru” – 5/5/72)
Bolan entra descaradamente surrupiando a introdução de “Eight Days Week”, dos Beatles, pra seguir em frente reverenciando a escola Sun Records/Phill Spector, duas referências importantes em seu som.

“Lady”, cheia de overdubs de guitarras acústicas, é do tempo em que Bolan tirava canções da cartola. Os backing vocals são a cargo da dupla de peso Flo & Edie.

JITTERBUG LOVE (Lado B de “Children Of The Revolution” – 8/9/72)
A guitarrista do Cramps, Poison Ivy, confessou que, fora todo catálogo da Sun, das velharias rockabilly, dos Stooges e dos Trashman, nada mais lhe chamara atenção no rock – com excessão do T-Rex.

“Jitterbug Love” mostra como a guitarra de Bolan afetou o nervosismo dos The Cramps, ao subverter as formas tradicionais do boogie-woogie.

Neste single, Bolan adiciona distorções fuzz barulhentas e imprime uma pegada selvagem ao estilo que, depois, ganharia o nome de “psychobilly”.

SUNKEN RAGS (Lado B de “Children Of The Revolution” – 8/9/72)
“It’s a shame it’s sunken rags / The way you play me down / It’s a shame the way you hide me in the electric school / So ride on, fight on / Love is gonna win / It’s gonna beat your sins”.

Quanto mais ouvimos e nos rendemos a ela, mais pop soa “Suken Rags” – outra gema pop sem solo de guitarra. No auge da música, Bolan opta pelo clímax vocal de suas cantoras: é o solo.

XMAS RIFF (Lado B não-creditado de “Solid Gold Easy Action” – 1/12/72)

Mensagem de Natal subliminar de Marc Bolan que se tornou famosa entre os fãs. Presente do Papai Noel.

BORN TO BOOGIE (Lado B de “Solid Gold Easy Action” – 1/12/72)
Outro B-side que foi parar num álbum oficial, “Tanx” (1973). Também é o nome do filme-concerto do T-Rex. Separados ou na mesma bolacha, “Solid Gold Easy Action” e “Born To Boogie” formam uma explosiva liga boogie-woogie.

É letra é isso: “Baby baby / I was born to boogie / Baby baby / l was born to boogie / Spend some time with you / I wanna do all I wanna do / Boogie children, uh ah”. Repete 3 vezes. Precisa mais?

FREE ANGEL (Lado B de “20th Century Boy” – 2/3/73)
Refrigério depois do calor do lado A. Mais uma sem solo. Preza!

MIDNIGHT (Lado B de “The Groover” – 1/6/73)
Período em que Bolan começa a flertar mais com o heavy rock e mostra suas credencias, como já havia exibido em “Buick Mackane” e “Chariot Choogle”.

Em “Midnight”, o baterista Bill Legend e o baixista Steve Currie são levados a tocar em níveis pouca vezes exigidos em uma banda simples, mas sofisticada, com o T-Rex.

É a faceta mais hard do glitter rock, que influenciou linhagens de bandas rock poodle.

SITTING HERE (Lado B de “Truck On (Tyke)” – 16/11/73)
Essa coleção de singles não apresenta muitas baladas, um dos fortes de Bolan, mas tem canções singelas. Nessa, Bolan mostra nova faceta de sua intrigante voz.

Em “Sitting Here”, violões e melotrom servem de base pra que ele e sua esposa cantem juntinhos: “Sitting here / I don’t care for you / Sitting there / you don’t care for me / But I think we’re in love / Ain’t that funny”.

SATISFACTION PONY (Lado B de “Teenage Dream” – 28/1/74)
A guitarra soa alta e inocula maldade. Bolan grita com o nonsense de sempre: “Like a jungle touch, oh my, satisfation pony!”. O que isso quer dizer? Mínima ideia…

Os vocais de Gloria Jones são abrasivos. Registrada no verão de 1973, durante as sessões de “Zinc Alloy And Hidden Riders Of Tomorrow” (1974).

EXPLOSIVE MOUTH (Lado B de “Light Of Love” – 5/7/74)
Gravada no Eletric Lady Studios, em Nova Iorque, 1974. Baixo tortuoso e novos timbres de guitarras, mui modernos pra o tempo, mas pouco notados, ainda assim.

SPACE BOSS (Lado B de “Zip Gun Boogie” – 1/11/1974)
Foi ouvindo o lado A que o quadrinista Joe Sacco disse na HQ Derrotista: “Marc Bolan foi um enviado dos deuses pra lembrarmos que somos todos crianças”.

Em “Space Boss”, Bolan nos faz lembrar que, com as palavras, é mais divertido não fazer sentido o tempo todo.

CHROME SITAR (Lado B de “New York City” – 27/6/75)
Sim, o single foi gravado com uma cítara elétrica cromada! Pop exótico e estranho.

As vocalizações de Gloria Jones dão tom grandioso ao lado B. É do tipo que, à primeira ouvida, seja bem capaz de você não curtir. Quando começar a notar os detalhes, lá no fundo, vai querer descobrir o segredo de “Chrome Sitar”.

DO YOU WANNA DANCE? (Lado B de “Dreamy Lady” – 26/9/75)
Poucas das coveres gravadas por Bolan, desde “Summertime Blues”, lado B de “Ride A White Swan” – que só não entrou nessa compilação porque é de 1970. “Do You Wanna Dance” é a terceira parte do EP “T-Rex Disco Party” (1975).

Bolan deu tratamento funky ao megahit de Bob Freeman. Funciona numa pista de dança que só vendo. E, sim, casa bem com o proto-technopop-cabaré de “Dreamy Lady”.

DOCK OF BAY THE BAY (Lado B de “Dreamy Lady” – 26/9/75)
Versão pro hit póstumo de Otis Redding cantado com emoção por Gloria Jones. Keyboards pilotados por Billy Preston; Bolan assume a produção.

A melhor versão desse clássico, no vai-e-vem melodioso do mellotron. Perfeita pra namorar. Aproveite a maravilhosa coleção de fotos do casal Bolan & Jones.

SOLID BABY (Lado B de “London Boys” – 20/2/76)
Duas baterias somadas pra conseguir a dance music mais moderna da época. Guitarra em segundo plano, sax insano e clap hands frenéticos durante a música toda. Nada convencional, a começar pelo título, “Solid Baby”. Que te parece?

BABY BOOMERANG (Lado B de “I Love To Boogie” – 5/6/76)
Songwriter prolífico, Bolan, não se sabe bem o motivo, pegou a música de 1972, do álbum “The Slider”, pra compor o formato boogie desse single.

Não faz mal: “Baby Boomerang” é delícia que só melhorou com o tempo. A letra dissimula “Subterranean Home Sick Blues”, de Bob Dylan, e a linha de baixo rouba “Hound Dog”. Tá perdoado.

LIFE’S AN ELEVATOR (Lado B de “Laser Love” – 17/9/76)
Guitarras e mais guitarras depois, Bolan volta a gravar uma canção só ao violão, o que não fazia desde “Girl”, em “Eletric Warrior” (1971). Uma das mais belas de todas.

CITY PORT (Lado B de “To Know Him To Love Him” – 14/1/77)
Música escrita em 1972 pra cantora Pat Hall, artista que Marc Bolan produzia. A nova versão é um dueto entre Marc e Gloria nos vocais: soul music plastificada, mas, ainda assim, orgânica.

O vídeo de “Know Him To Love Him” é um registro doce e tocante de Bolan & Gloria Jones cantando juntos.

ALL ALONE (Lado B de “Soul Of My Suit” – 12/3/77)
Melodia voluptuosa com toques caribenhos. Entrou em “Futuristic Dragon” (1976) e simboliza o novo visual de Marc Bolan, dark e precursor do pós-punk e da new romantic que influenciou Damned, a banda punk apoiada por Bolan que acompanhou o T-Rex em sua derradeira turnê.

Sioux Sioux é uma xerox de Bolan nessa fase. O clipe de “Soul Of My Suit” tem a cara da incipiente new wave. É o T-Rex com duas guitarras. O novo Tyranossauro está com dentes afiados.

GROOVE A LITTLE (Lado B de “Dandy In The Underworld” – 30/5/77)
Funk branco-minimalista, cremoso feito sorvete de baunilha e cuja base nenhum dos espertos produtores ainda foi meter o bedelho até hoje. Te liga, EduK, tá dando bobeira!

“Groove A Little” é das últimas tentativas de Bolan em ganhar o mercado estadunidense. Não rolou, mas sobrou essa pérola. Repare no solo linear, de uma nota só e sintetizado, que racha a música no meio da purpurinagem.

Já o vídeo de “Dandy In The Underworld” é uma das últimas apresentações de Bolan num programa de TV. Captura o metal guru em plena forma, aos 29 anos. A performance é estonteante, especialmente o heroico final.

TAME MY TIGER (Lado B de “Dandy In The Underworld” – 30/5/77)
Kitsh até morrer e propositalmente pasteurizada, do jeito que só Bolan sabia produzir. Tamy é o tigre da capa. Marido e mulher duelam nos vocais. Tesourinho com seu pequeno valor pop.

RIDE MY WHEELS (Lado B de “Celebrate Summer” – 5/8/77)
Lado B absurdo, já que o verso, “Celebrate Summer”, é uma das canções mais pop-punk feitas por Marc Bolan.

“Ride My Wheels” é uma das últimas canções feitas por Bolan – uma amálgama funky, soul & pop à altura da sua espirituosidade: “I’m just a boy, be my toy / Ride my wheels / I’ve got some punk / To lay on you / Just be real girl / I never asked you to be true / Slim is the wind / And my head is slight / But lady / I want to / Oil your engines all night / Drive me baby / I give service”.

Que o paraíso o tenha.

Cristiano Bastos é jornalista. Autor dos livros “Gauleses Irredutíveis” e “Julio Reny – Histórias De Amor & Morte”. Atualmente biografa o artista Júpiter Maçã. O texto acima é uma compilação e adaptação de dois artigos publicados originalmente no seu blogue, Zuboski, em 2008. A compilação e a adaptação foi realizada pelo próprio Cristiano Bastos, especialmente pro Floga-se

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Um comentário

  1. Uau, que texto! Bolan foi realmente um ícone, um gênio bem à frente do seu tempo. Pena que nos deixou cedo.

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