Três músicas e vinte e cinco minutos de duas mãos e um violão. Mas parecem ser mais. O dobro. O triplo. Marcos Campello (Chinese Cookie Poets) lança mais um disco solo (lembra do ótimo “Bamsa”?), agora via Seminal Records, dia 17 de fevereiro de 2018.
Um banquinho e um violão segue como sinônimo de trilha de barzinho chinfrim e melancólico, mas Campello distorceu um bocado essa imagem com esse “Li O Vão O Sol”. Um disco que nas aparências e na apresentação se mostra singelo, poético, quase infantil. Só que pelas suas muitas mãos e seu violão que igualmente parecem outros tantos, Campello transforma os bucólicos momentos no campo (num sítio, na fazenda?) em uma sucessão de esporros explosivos, que se alternam eventualmente, como a dar descanso ao ouvinte, com passagens realmente bucólicas.
Imagine-se numa noite gélida de inverno, num sítio, ao redor da fogueira e os participantes desse contundente cenário lugar-comum observando o momento numa brisa ácida ou ébria o suficiente pra dar vazão a um revigorante desabafo musical. Eis a poesia sonora do disco. Um banquinho e um violão pintado por Dali.
Esse tipo de experimentação normalmente se apresenta a partir de ruídos de campo, disposições eletrônicas ou improvisações livres de guitarra, pelo jazz ou na linha dos mais variados tipos de noise. Entretanto Campello não é um artista de clichês. Com seu violão ele consegue voluntariamente entortar a melodia que se dispõe, o que basicamente requer não só habilidade como talento.
Esse disco é de fato uma poesia. Desconstruído e torto, mas ainda assim uma poesia.
Marcos Campello tocou sozinho no disco e masterizou e mixou a obra. Ele foi gravado por Pedro Azevedo e Alex Cichoski na indefectível Audio Rebel, no Rio de Janeiro.
O disco marca o quinquagésimo lançamento do selo Seminal Records, um dos mais importantes do subterrâneo nacional.
1. Cocadinha
2. Amendoeira Caiu Raio E Derrubou
3. Resto De Chinelo Mastigado
Foto que abre o artigo: Érica Rocha Marinho