Pros brasileiros, não é novidade. Há uma lista sem fim de clássicos gringos que foram traduzidos pro português e fizeram um considerável sucesso nas rádios daqui.
Quem não se lembra do “Astronauta De Mármore”, releitura do Nenhum De Nós pra “Starman”, do David Bowie? Ou “Patches”, de Clarence Carter, que os Titãs transformaram em “Marvin”? Ou a infame “Vi Shows”, do Hanói Hanói, por conta de “Vicious”, de Lou Reed? Teve ainda “O Passageiro”, que o Capital Inicial traduziu de “The Passenger”, do Iggy Pop; “Então Se Joga”, o sertanejo-descerebrado-universitário de Henrique Costa com “Psycho Killer”, do Talking Heads; e “Só O Fim”, que Marcelo Nova jura que nada tem a ver com “Gimme Shelter”, do Rolling Stones. A lista é, repito, infindável.
Por isso, quando a imprensa gringa em 2016 se viu diante de um curioso “fenômeno” chamado Mexrrissey, deu o espaço necessário pra tratar da excentricidade.
O Mexrrissey não é exatamente um tributo ao Morrissey, mas uma releitura em espanhol da músicas do vocalista dos Smiths. Não só as letras, mas sonoramente, de cumbia a samba, sete canções do Morrissey viraram uma festa mariachi.
Assim como nos casos brasileiros que venderam muitos discos, o Mexrrissey não é responsabilidade de aventureiros brincalhões. Por trás da empreitada, estão duas figuras de renome internacional: Camilo Lara, o DJ do respeitado Instituto Mexicano Del Sonido; e Sergio Mendoza, tecladista de turnê do Calexico. É Mendoza quem traduz as letras e toca quase todo tipo de instrumento em estúdio. Ao vivo, o Mexrrissey ganha corpo com Alejandro Flores, violinista do Café Tacvba; Jay De La Cueva; a cantora Ceci Batisda, da punk Tijuana No!; e o baterista Ricardo Nájera.
Numa matéria de 9 de maio de 2015 do Los Angeles Times, Carolina Miranda conversou com Camilo Lara, que explicou os motivos da aventura: “meu primeiro disco foi dos Smiths, quando eu tinha seis anos de idade. Eu ouvia o disco da ‘Vila Sésamo’, e de repente estava ouvindo Smiths e Bauhaus. Foi parte do meu amadurecimento”.
Sobre as intenções do projeto, ele disse: “eu jamais quis fazer uma propaganda do México, como se o governo fizesse um show sobre o país. Eu só queria dar o sabor pras pessoas entenderem um pouco o que é a mexicanidade”.
Em 10 de março de 2016, o Guardian publicou alguns parágrafos sobre a banda, assinados por Robin Denselow. O autor diz que há apenas “uma decepção: existem só sete músicas gravadas, e nenhuma delas é uma parceria Morrissey-Marr, nem mesmo ‘Panic’ ou ‘How Soon Is Now?’ são apresentadas ao vivo. Por que não? Parece que Johnny Marr não deu permissão pra isso”.
Bem, Denselow aparentemente se enganou, porque o Mexrrissey se atreveu a fazer uma versão um tanto “timbalada” de “Ask” e de “The Boy With The Thorn On His Side”, ambas assinadas por Morrissey e Marr:
Mas as duas não entraram no disco que o Mexrrissey teve a manha de lançar em 4 de março de 2016, chamado “No Manchester”, através do renomado selo indie Cooking Vinyl. No disco, estão as sete canções citadas pela matéria do Guardian, todas da carreira-solo de Morrissey, com adição de cinco delas em versões ao vivo.
Durante 2016 e 2017, a banda excursionou pela Europa, Esteites e até América do Sul, passando pelo Personal Fest, da Argentina. Ao vivo, eles tocam bastante músicas dos Smiths, incluindo “Girlfriend In A Coma”, “Bigmouth Strikes Again”, “How Soon Is Now?”, “Panic” e outros clássicos mais (no Youtube, tem quase tudo, de várias fontes, em vários palcos, vale a pesquisa).
Bom, nem mesmo a ideia é tão singular. Há na Inglaterra uma tal Manchester Mariachi, que faz versões Mariachi de vários grupos, incluindo dos Smiths.
O grupo ainda é visto como uma coisa excêntrica. A aposta é que se esgote em breve, afinal, não há sentido no Mexrrissey fora do seu ambiente de idolatria (que sentido teria uma composição original deles?). Além do mais, uma piada contada mais de uma vez perde a graça.
E ouça o disco na íntegra:
01. El Primero Del Gang (First Of The Gang To Die)
02. Cada Día Es Domingo (Everyday Is Like Sunday)
03. International Playgirl (The Last Of The Famous International Playboys)
04. México (Mexico)
05. Estuvo Bien (Suedehead)
06. Entre Más Me Ignoras, Más Cerca Estaré (The More You Ignore Me, The Closer I Get)
07. Me Choca Cuando mis Amigos Triunfan (We Hate It When Our Friends Become Successful)
08. El Primero Del Gang (First Of The Gang To Die) (Live at RadioLoveFest WNYC, BAM, NY)
09. International Playgirl (The Last Of The Famous International Playboys) (Live at RadioLoveFest WNYC, BAM, NY)
10. Estuvo Bien (Suedehead) (Live at RadioLoveFest WNYC, BAM, NY)
11. Cada Día es Domingo (Everyday Is Like Sunday) (Live at RadioLoveFest WNYC, BAM, NY)
12. México (Mexico) (Live at RadioLoveFest WNYC, BAM, NY)