MIDLAKE EM COMANDATUBA

Escrever sempre foi uma coisa fácil.

Mas às vezes complica.

Nos últimos cinco dias, estive na Ilha de Comandatuba, para escrever e escrever num evento de uma grande empresa. Escrever num resort na Ilha de Comandatuba sugere que seria ainda mais fácil.

Mas às vezes complica.

É correria, é arquivo que se perde e tem-se que começar do zero, é exigência do cliente, é estresse pra cá e pra lá.

Como escrever é um ato solitário, nada melhor do que um iPod e um bom par de músicas para concentração e se isolar daquele corre-corre desenfreado. E lá fui eu, mais uma vez, utilizar essa tática.

Tentei Bob Marley, mais por causa do local. E nada. Não foi na veia.

Parti, então, para algo mais novo, pra ver ser dava. The Pains Of Being Pure At Heart foi a segunda opção. Não dava para ficar parado na cadeira, muito menos para concentrar.

Opção que sempre dá certo: Radiohead. Não rolou também. Deu sono. Daí, My Bloody Valentine. Idem. Então, Midlake.

Pronto: as linhas fluíam. “The Trials Of Van Occupanther” é um grande disco e rolou naquele paraíso de ponta a ponta algumas centenas de vezes. “Head Home”, então, foi eleita “a música da viagem”. Bastava ela tocar e estava tudo resolvido. Dois roteiros de vídeo, dois cerimoniais e mais um punhado de cartas foram escritas com ela. Vá entender.

Quer dizer… Dá para entender. O seguinte trecho quer dizer tudo, resume tudo: “Bring me a day full of honest work/And a roof that never leaks/And I’ll be satisfied”. Quer melhor?

Renova a alma. E eu ainda recebo por isso.

Poderão dizer que o Midlake faz um som que não é nada “pra cima”. Mas funcionou. Há felicidade à beça ali. É um rock medieval, como se pode supor pelo jeitão dos caras, das letras, dos clipes. Tudo felizão, alto astral, saca, bicho?!

Mas não tem nada a ver com o local. Passei cinco dias ouvindo nada além de música sertaneja e axé. E cheguei à conclusão de que não vivo nesse mundão… Em determinado momento do evento, tinha uma cidadã que se diz a cover da Ivete Sangalo. Meu Deus, se uma já é dureza, a cover… Já viu, né? Mas vá lá, é festa é para confraternização, é corporativo, vale tudo. E o show agradou a todos.

Eu fiquei boiando lá, sem saber do que se tratava aquelas notas horrorosamente tocadas. Que tocassem ao menos igual os originais, que eu nem conheço, mas tenho certeza que são bem melhores do que aquilo. Todos gostaram, todos gostam, todos conhecem, todos cantam junto, todos dançam, todos se divertem. Midlake não teria esse poder. Talvez nem a intenção.

Mas o que eu quero dizer é que vivo em outro mundo, pelo visto. Não conheço 1% daquelas músicas, seja sertanejo ou axé.

Lá pelas tantas, em outra parte do evento, porém, tocou Gal Costa. Entenda-me, não sou fã da cidadã, mas ela tem uma baita voz e a música que vinha aos meus ouvidos parecia Bach perto do que eu havia ouvido até ali. “Baby” já parecia “Head Home”. Boa demais. Quase me emocionei (mas aí abri mais uma latinha e passou).

Um grande profissional que conheci lá, o Fabrício, de Uberlândia, competente editor de vídeo, chegou em algum momento e disse que eu precisava ampliar os horizontes (e o cidadão nem bebe!). Ele talvez tenha razão. Jamais poderia ser DJ de um evento desses. Estaria deslocado como o queixo de alguém que mexe com a mulher do Mike Tyson na frente dele.

Esse é um conselho, enfim, que eu jamais poderia seguir. Acho que meus horizontes estão amplos (e ampliando…), mas não devo dizer que talvez não precise de tanto. Para isso, existem profissionais competentes que vão sempre alegrar a rapaziada. O Conselho, como se vê, serviu para a reflexão.

E eu, ao lado de loucos como esse pessoal de Uberlândia – o Fabrício, o maluco do Bruno, e a linda e inigualável Alessandra -, não me importo de me divertir junto ouvindo essas músicas ou qualquer uma que seja. Não importa a música (Midlake, axé, sertanejo ou Gal Costa – cada uma tem seu momento), importa a várzea, o momento e as risadas.

Por tudo isso valeu.

Por tudo isso, fica mais fácil fazer o meu trabalho. Que é só escrever.

P.S.: Desculpe-me se você se empolgou com o título deste post e achou que o Midlake poderia, por milagre que seja, vir tocar no Brasil. Só me pareceu oportuno.

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