Que grata surpresa esse EP do NEGATIVE MANTRAS, de São Paulo. Formado por Julito Cavalcante e Taian Cavalca, com V.Masta na retaguarda, a banda foge da mesmice noventista lo-fi ou grungista que pairou em muitas bandas do subterrâneo nacional – eles mesmos envolvidos em projetos mais ou menos nesse estilo: Julito do Sin Ayuda e The Vain; e Taian do Cabana Café.
Aqui, a dupla ataca de psychdub (desculpe-me pela invenção do rótulo, mas é o que é), uma sonoridade viajante, que não é reggae, mas não é psicodélico sessentista: tem umas verves orientais (“Éris”) e outras world music (“Maçã Dourada”).
A melhor do disco é a faixa de abertura, “Pineal”, viajante, com um tanto de experimentalismo, incluindo ruídos e texturas. Lembra um tanto as boas sacadas do Gorillaz de Damon Albarn (leve isso como elogio).
Pra conhecer faixa a faixa, o Altnewspaper fez essa bela matéria com a banda. Leia.
Mas o Floga-se também conversou com Julito Cavalcante, que deu uma boa explicação sobre o que é o Negative Mantras.
“O Negative Mantras existiu durante 2009 e 2010 fazendo alguns shows, mas sem nenhuma gravação. Surgiu de referências que eu e o V.Masta não usamos no The Vain, como o dub, música experimental, cavaquinhos, escaleta, batidas eletrônicas, vocalizações e letras em português, mas acabou quando o V.Masta saiu do The Vain e do Negative Mantras”, diz.
Sobre o dub, Julito conta que “surgiu quando começamos a ouvir coisas do Augustus Pablo, Clutchy Hopkins, De Facto, Dry And Heavy e nós estávamos pirando em NEU! e Can. Com isso surgiu a ideia de misturarmos o cavaquinho e a escaleta porque eram instrumentos que a gente sempre brincava, tocando desde versões de Black Sabbath, uns raps tipo Sabotage, até os pagodes anos 90, quando nos reuníamos pra tomar umas”.
O livro “Principia Discordia”, de Gregory Hill e Kerry Wendell Thornley, de 1965, sobre a Sociedade Discordiana e a sua Deusa Éris (sim, a da música do Negative Mantras), foi outra importante inspiração: “na mesma época, a gente leu pela primeira vez o livro, então a ideia era juntar dub, discordianismo, cavaquinho, escaleta, loops e muito delay“.
Um pouco, bem pouco, sobre Discorianismo aqui.
Depois do fim do The Vain, em 2012, e dois anos tocando no Sin Ayuda, Julito e V.Masta se reaproximaram. Mas Masta não se apresenta ao vivo. Daí, que no palco a banda se resume a Julito e Taian. V.Masta cuida da produção dos beats em estúdio. Rafael Oliveira cuida do cavaco em “Maçã Dourada”, “Éris” e “Claridão”.
“Em março e abril (de 2014), fizemos alguns shows como duo pra testar algumas músicas, gravamos onze e lançamos essas cinco no EP”, revela. A produção do EP é da própria banda, que gravou e mixou tudo no MonoMono Studio, em São Paulo. A masterização é de Matschulat, em Berlim, Alemanha.
O disco saiu oficialmente via Bigorna Discos, dia 26 de setembro de 2014.
Ouça na íntegra:
1. Pineal
2. Maçã Dourada
3. Gayo Seco
4. Éris
5. Claridão
Há dois vídeos oficiais da banda. O primeiro, pra “Pineal”, é de autoria de 2022, também autor da bela capa do EP. O segundo, pra “Claridão”, é de autoria de Cassio Cricor. Os dois você vê abaixo, respectivamente: