NEIL YOUNG NO MAD COOL FESTIVAL – COMO FOI

Quando Neil Young veio ao Brasil, no Rock In Rio de 2001 – um sábado, dia 20 de janeiro – cento e vinte mil pessoas estavam na Cidade Do Rock pra vê-lo. Eu não era uma delas, embora tivesse o ingresso em mãos, comprado meses antes. Na semana anterior, aquele mesmo Palco Mundo me deu a chance de ver REM, Oasis, Foo Fighters, Beck e Guns N’ Roses, na melhor escalação que a família Medina já promoveu em solo pátrio. Neil Young só viria fechar em grande estilo essa semana.

Mas eu não fui. Mesmo com ingresso na mão, não fui. E foi pelo melhor e mais importante motivo, pela melhor notícia que aconteceu na minha vida: o nascimento da minha filha. Ela estava programada pra chegar dias depois do show de Neil Young, veio antes, pra minha imensa alegria, e assim, mandei às favas: Neil Young ficou pra depois.

Pra exatamente quinze anos depois. Não no Brasil (quando teremos outra chance?), mas em Madri, Espanha, e outro festival, o novato Mad Cool, em sua primeira edição, que também escalou The Who, Prodigy, Die Antwoord, Two Door Cinema Club, Jane’s Adiction, Biff Clyro, Editors, Garbage, Band Of Horses, Caribou, Kings Of Convenience, Stereophonics, DIIV, Temples, Wild Beasts, Is Tropical e mais um monte de gente.

Pela primeira vez assistiria o velhinho em questão. O festival aconteceu dias 16, 17 e 18 de junho de 2016, num lugar lindo perto das montanhas e árvores do bairro San Fermín, e sob o pôr-do-sol e a lua cheia iluminando o lugar.

O endereço era A Caixa Mágica (La Caja Magica), um complexo esportivo inaugurado em 2009, com três quadras de tênis com teto retrátil, onde acontece desde então o Master 1000 de Madri, e onde os organizadores conseguiram encaixas seis palcos, sendo os dois maiores, um deles onde Neil Young tocou, montados no enorme estacionamento ao fundo.

Eram 21:15h quando Neil entrou no palco, sozinho, sentou ao piano, com sua gaita a tiracolo, e atacou “After The Gold Rush”, “Heart Of Gold”, “The Needle And The Damage Done” e “Mother Earth (Natural Anthem)”. Sim, sozinho, ecoando ainda mais arrasador sobre aquele silêncio ensurdecedor e respeitoso de trinta mil fãs.

Foi assim a primeira meia hora de show: só ele, sua gaita, violão, piano e voz. Haja culhão pra segurar trinta mil pessoas assim! O cara é um monstro.

Comecei a ficar emocionado, não só pelo conteúdo e pelo espetáculo, mas por minha “história” com Neil Young – e quando olho em volta uma porção de gente está chorando também. É aquela sensação de estar ouvindo e vendo em ação alguém fora da curva, acima das pessoas “comuns”.

Depois dessa meia hora, entra no palco a Promise Of The Real, banda de apoio formada pelo Lukas, filho do Willie Nelson, e seus compadres. Os moleques mandam muito bem e aí começa o porradaria. Uma sequência que vai com “Out On The Weekend”, “From Hank To Hendrix”, “Human Highway”, “Unknown Legend”, “Someday”, “Alabama”, “Words (Between The Lines Of Age)”, “Winterlong”, “Like A Hurricane” e… “Rockin’ In The Free World”. Foi de arrepiar e não tinha quase intervalo entre as músicas. Um petardo atrás do outro, sem descanso, sem sossego e, agora, sem silêncio, com a plateia cantando junto.

Neil, em nenhum momento, dirigiu-se ao público pra falar um “oi” ou qualquer coisa que seja pra jogar pra galera, como é de praxe nos showmen que o mercado adora colocar nesses grandes palcos. Neil não é esse cara. Não toca no automático. Ele toca pra ele, faz o show que ele quer. Por isso, pela sua história e pela sua vitalidade, provoca uma catarse nos corações que se atrevem a enfrentar tanta emoção junta, enquanto na cabeça surge a questão: quem pode bater esse cara?

No meu caso, nem o tempo. Os quinze anos se passaram e saio como todos aqueles espanhóis se perguntando a mesma coisa: quem poderia ser melhor que Neil Young?

01. After The Gold Rush
02. Heart Of Gold
03. The Needle And The Damage Done
04. Mother Earth (Natural Anthem)
05. Out On The Weekend
06. From Hank To Hendrix
07. Human Highway
08. Unknown Legend
09. Someday
10. Alabama
11. Words (Between The Lines Of Age)
12. Winterlong
13. Down By The River
14. Mansion On The Hill
15. Like A Hurricane
16. Western Hero
17. Rockin’ In The Free World

BIS
18. Love And Only Love

Aqui, um vídeo de “Like A Hurricane”:

Texto: Ricardo Lilo Alves
Fotos: Divulgação do Festival

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