Em determinada época de minha vida, houve um enorme momento de desilusão com a música. Frustrações pessoais, musicais e um total descaso de minha parte com toda e qualquer banda.
Esse descaso nasceu e cresceu em mim como um abismo monstruoso em ojeriza total à industria fonográfica. Foi mais ou menos quando do apogeu de bandas como Oasis, Blur e toda aquela fase do engrandecimento do britpop. Veio ao encontro de uma fase de entressafra minha pra comigo mesmo, um período sombrio e tão distante que mesmo eu tentando resgatar memórias, estas já se tornaram paginas queimadas e pisoteadas.
Fato é que nada me excitava, não havia mais as “bandas da minha vida”, todas estavam se dissipando, com exceção de Jason Pierce e seu Spiritualized, mas, fora isso, onde estavam as bandas novas, onde estava o tesão, onde e quando arderia novamente o desejo insano de entronar uma guitarra, ou explodir decibéis tal como em épocas atrás?
Mas houve uma banda que resgatou e fez expurgar todos os demônios existentes. Essa pequena banda de Fredericksburg, Virginia, EUA, basicamente foi como uma catapulta pro resgate, nos dias de hoje, da imensidão de grandes bandas noise, shoegazers, etéreas ou não, psychgazers, de todas as derivações ou subgêneros, misturando-os com a modernidade. Essa pequena banda atendia pela alcunha de Skywave.
Oliver Ackermann (na foto que abre o post), Paul Baker e John Fedowitz buscaram nos baluartes Jesus & Mary Chain, My Bloody Valentine e toda a cena pós-punk, mais precisamente a coldwave, a força motriz de sua música e moldaram canções de amor, ódio, violência explícita, contracenando com distorções cavalares e vocais gélidos.
O Skywave assassinou o rock’n’roll fofinho daquela época, colocando querosene nas chamas mais quentes e explicitando a raiva contida. Mas principalmente resgatando céticos como eu e reacendendo aquele sentimento mais íntimo, o tesão de viver pela música.
Dois álbuns há muito fora de catálogo foram lançados e são peças raríssimas em pouquíssimas coleções: “Echodrone” e o descomunal “Synthstastic”. São obras-primas que possivelmente serão relançadas com toda a extensa e torta discografia de singles, EPs e faixas contidas em compilações. O fato é que o Skywave estava muito a frente do seu próprio tempo.
Ouça “Over And Over”:
A trajetória do Skywave foi curta e dolorosa. A música que fazia, na virada dos 90’s pros 00’s, tal e qual as grandes e eternizadas bandas, foi incompreendida e sucumbiu a si própria. Mas ao contrario do término da maioria das bandas, o Skywave terminou porque Oliver mudou-se da Virginia pra Nova Iorque, e não por brigas internas ou ego inflados, simplesmente uma era chegara ao fim.
Mas dai, caríssimo… Daí, outra etapa bem mais conhecida por todos nós iniciaria…
Com o fim do Skywave, Fedowitz e Baker se viram sem o comparsa responsável pelas barulheiras sônicas da banda e tomaram a decisão mais assertiva de todas: juntaram os trapos e conceberam o grandioso rebento Ceremony.
Com um currículo invejável, o Ceremony segue à risca os ensinamentos do Skywave, porém mesclando J&MC com New Order, criando uma sonoridade única e atual. “Rocket Fire” foi um dos melhores álbuns de 2011, e facilmente faz o culto permanecer vivo e forte.
Detalhe, o Ceremony pode aterrizar em solo nacional mais cedo do que muitos imaginam.
Ouça “Someday”:
Por outro lado, Oliver Ackermann, já em Nova Iorque, não demorou muito tempo pra criar a melhor e mais barulhenta banda da atualidade, A Place To Bury Strangers.
Em 2001, Ackermann através do APTBS, criou e redesenhou o “Psychocandy”, atualizando-o e estilhaçando tudo e todos, com uma sonoridade autêntica, através de seu set próprio de pedais. Aliás, personalizados e criados por ele mesmo, via Death By Audio, sua fábrica pessoal e caseira de pedais.
O debute veio apenas em 2006, e foi um eletro-choque pros tímpanos desavisados. Um clássico instantâneo nasceu. “Missing You” apresenta o poderio sombrio e sônico do APTBS, tendo sua catarse completa na derradeira “Ocean”, uma devastação sem precedentes.
Ouça “Ocean”:
Veio “Exploding Head”, saindo por uma multinacional (a Mute), um tanto mais bem gravado mas não menos contido, o que não tira o tamanho do tiroteio sônico. “Deadbeat” e “I Live My Life To Stand In The Shadow Of Your Heart” mostram o tamanho da ferocidade de Ackerman.
Ouça “Deadbeat”:
Há poucos dias, o APTBS jogou no mercado “Worship”, um petardo mais sombrio ainda e barulhento, ao que Oliver diz ser sua melhor análise do que a banda deve soar, porém mais tenso e dolorido, levando o ouvinte ao iminente choque. Um álbum que certamente figurará dentre os melhores do ano nas listas que se prezem.
Sobretudo, depois de uma longa espera, dia 11 de julho, teremos algo absurdamente imperdível: APTBS estará frente a frente com todos nós, nos confrontando pessoalmente, e este show, particularmente pra mim, significa e tem o mesmo frescor de quando vi os Ramones em 1986 no Palace, ou quando presenciei J&MC no Projeto SP.
É a oportunidade única de presenciar uma banda em seu auge e cujas microfonias existentes em suas canções têm ares históricos desde já. A historia estará sendo passada aos nossos olhos, tal como com os Bunnymen em 1987, ou com o Nick Cave em 1989. Sugiro a todos com o mínimo de bom senso e amor pela música que estejam presentes nesta data que será lembrada durante anos e anos, ou jamais esquecida.
Um pouco antes do lançamento de “Exploding Head”, através do TBTCI, tive o prazer de reverenciar a história que conto aqui, com entrevistas históricas realizadas em três etapas. A primeira com o Ceremony, ou seja Paul Baker e John Fedowitz. A segunda, realizada com a banda co-irmã Screen Vinyl Image – na época do Skywave, havia outra preciosidade chamada Alcian Blue. E a terceira e definitiva etapa com o próprio Oliver Ackermann e seu APTBS, todas explicando o quão essencial foi uma banda “pequena” chamada Skywave, que definitivamente criou esse “monstro xiita” chamado Renato Malizia.
O resto é história…
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Abaixo, listo a discografia das três bandas, mas só os álbuns. Ainda há uma penca, uma lista enorme de EPs, singles e raridades que você pode caçar por aí.
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A discografia do Skywave é essa:
Álbum – Echodrone
Lançamento (original) – 1999
Gravadora – Cherry Coated Records
Tempo total – 31 minutos e 50 segundos
01. Under The Moon
02. Nothing
03. Baby It’s Just You
04. Got That Feeling
05. Sixteen
06. Get The Girl
07. All I Had
08. Slow In Space
09. Girlfriend’s Dead
10. It’s In Your Eyes
Álbum – Synthstatic
Lançamento (original) – 19 de janeiro de 2004
Gravadora – Blisscent Records e Alison Records
Tempo total – 47 minutos e 51 segundos
01. Tsunami
02. Here She Comes
03. Don’t Say Slow
04. Nothing Left To Say
05. Over And Over
06. Fire
07. Wear This Dress
08. Angela’s An Angel
09. Knife
10. Adore
11. I Believe
12. Life To Take Your Hand
13. Kill Me Dead
14. Kiss
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A discografia do Ceremony é essa (veja o Floga-se publicou sobre):
Álbum – Disappear
Lançamento (original) – 7 de janeiro de 2008
Gravadora – Safranin
Tempo total – 36 minutos e 21 segundos
01. Dull Life
02. You Never Stay
03. Never Love Again0
04. Nothing Inside
05. Cold Cold Night
06. Eurotrain
07. No Good For You
08. I Heard You Call My Name
09. Future
10. Without Your Love
11. Miss You
Álbum – Ceremony
Lançamento (original) – 9 de abril de 2009
Gravadora – Safranin
Tempo total – 27 minutos e 03 segundos
1. Nothing In The Sun
2. Forever Lost
3. Living For Today
4. Too Many Times
5. Our Last Goodbye
6. Clouds
7. Old
Álbum – Rocket Fire
Lançamento (original) – 27 de abril de 2010
Gravadora – Safranin
Tempo total – 34 minutos e 47 segundos
01. Stars Fall
02. Never Make You Cry
03. Breaking Up
04. For Her Smile
05. Marianne
06. Silhouette
07. Don’t Leave Me Behind
08. Someday
09. It’s Too Late
10. Regret
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A discografia do A Place To Bury Strangers é essa (com os respectivos links do Floga-se):
Álbum – A Place To Bury Strangers
Lançamento (original) – 17 de setembro de 2007
Gravadora – Killer Pimp
Tempo total – 37 minutos e 58 segundos
Link do Floga-se – clique aqui
01. Missing You
02. Don’t Think Lover
03. To Fix The Gash In Your Head
04. The Falling Sun
05. Another Step Away
06. Breathe
07. I Know I’ll See You
08. She Dies
09. My Weakness
10. Ocean
Álbum – Exploding Heads
Lançamento (original) – 13 de outubro de 2009
Gravadora – Mute
Tempo total – 43 minutos e 03 segundos
Link do Floga-se – clique aqui
01. It Is Nothing
02. In Your Heart
03. Lost Feeling
04. Deadbeat
05. Keep Slipping Away
06. Ego Death
07. Smile When You Smile
08. Everything Always Goes Wrong
09. Exploding Head
10. I Lived My Life To Stand In The Shadow Of Your Heart
Álbum – Worship
Lançamento (original) – 26 de junho de 2012
Gravadora – Dead Oceans
Tempo total – 44 minutos e 35 segundos
Resenha do Floga-se – clique aqui
01. Alone
02. You Are The One
03. Mind Control
04. Worship
05. Fear
06. Dissolved
07. Why I Can’t Cry Anymore
08. Revenge
09. And I’m Up
10. Slide
11. Leaving Tomorrow
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Renato Malizia é editor do blogue The Blog That Celebrates Itself.
Agora em vezes de dois corações, tenho tres.
Pior q o Ceremony novo ficou uma bela porcaria, tava indo tao bem. Primeira vez q vejo uma bateria eletronica ser melhor q um ser humano.
Sobre o APTBS vai ser incrível ver eles, no auge.