Aqui o negócio agora é shoegazer ok? Shoegazer é algo que antigamente era mais ou menos assim: AME ou ODEIE. Isso lá pela metade dos anos 1990, quando o britpop tomou conta da música e contribuiu pra decadência e banalização do termo indie.
Entretanto, no início dos 90’s, ostentar camisetas do Ride, My Bloody Valentine, Telescopes, Slowdive era possuir conhecimento musical apurado, estar devidamente situado com a postura da música naquela época. A The Scene That Celebrates Itselfs criou verdadeiros seguidores xiitas, a ponto de se alguém ou qualquer meio de comunicação da época menosprezasse obras como “Nowhere” (Ride, 1990), “Loveless” (My Bloody Valentine, 1991) e afins era motivo pra ódio e ojeriza mortal.
Me enquadro exatamente nesses xiitas e quem me conhece sabe bem que o buraco é bem mais embaixo quando o assunto é shoegazing. De uns tempos pra cá, houve um absurdo resgate daquele estilo menosprezado e banalizado, como citei, pelo britpop; sendo que hoje centenas e centenas de bandas shoegazers surgem nos quatro cantos do mundo, novamente ostentando as mesmas camisetas que há duas décadas voltaram à tona.
O motivo de tudo isso??! Vai lá saber… O fato é que o shoegazing voltou com uma roupagem atualizada e extremamente inspiradora; e é exatamente neste ponto que quero chegar: há exatos três anos, iniciei meus escritos mais particulares no The Blog That Celebrates Itself, onde a proposta inicial era, então, somente escrever sobre o que me interessava e ponto final. Porém, sem mais nem menos, o negócio virou algo celebrado por uma “cena que celebra a ela mesma”, composta pelas bandas da atualidade e pelos velhos e novos xiitas seguidores do bom e velho shoegazing.
Entrevistas vieram e se tornaram marca do blogue e uma banda em especial marcou os três anos de existência. Trata-se do 93 Million Miles From The Sun. De cara, chapei com o nome – aliás, uma velha e linda música do patrimônio Swervedriver (N.E.: lançado originalmente como single, em 1997, como 93 Million Miles From The Sun… And Counting”). E, no segundo momento, o som do 93MMFTS é shoegazer clássico, sem tirar nem por, pra escutar vendo as nuvens se movimentando e extremamente alto, o mais alto que seu rádio e seus tímpanos permitirem.
Porém, o shoegazer da banda não é tão “aceitável” assim. Não existem hits nos álbuns, as músicas são conduzidas de forma a serem escutadas juntas, de modo que daí sim a obra faz todo sentido. Como um bom livro, deve-se ouvir por completo, sem pular capítulos. Isso era o primeiro álbum.
Mas o fator determinante foi eu ter me identificado com o símbolo da banda. Aí tatuei no meu antebraço e meio que sem querer a banda teve acesso à tattoo… Daí, meu caro, viramos amigos eu Rob (Hogg, baixo, efeitos) e Nick (Mainline, guitarras, efeitos e vocais). Amigos mesmo, de falar sobre esbornia, gostos, meter pau nas bandas, tirar sarro e só faltou mesmo uma cachaça entre nós em qualquer boteco ou de São Paulo ou de Doncaster, Inglaterra (terra natal da banda). Mas oportunidades não faltarão certo, guys?
O 93MMFT acaba de lançar no mercado o segundo álbum, “Northern Sky” (o primeiro é homônimo, de 2009). Na capa, um por do sol deslumbrante, uma paisagem convidativa pra que seja colocado o mais rápido possivel o cdzinho pra rodar; e quando o fiz e fui ver os detalhes da capa, daí realmente a surpresa veio à tona: meu nome está nos créditos de agradecimento da banda. Aí, ah… Aí, sim!
Detalhe do agradecimento a Malizia na contracapa do disco
Sozinho foi impossível ouvir o álbum. Fui obrigado a chamar meus amigos xiitas pra uma noitada de sexta em casa e colocar o artefato alto, mas bem alto pra sentirmos mais uma vez o quão bom é ouvir o wall of sound soterradíssimo, sentir os vocais como instrumentos coadjuvantes e quando menos se espera, instintivamente suas mãos se posicionam empunhando uma guitarra imaginária e naturalmente ou você estaá olhando pras estrelas ou você está olhando fixamente pra seus sapatos. E isso, meus caros, é a essência do shoegazing.
“Northern Sky” é assim, sem hits ou canções cantarolantes, simplesmente deve ser escutado como uma obra literária. O 93MMFTS eleva o shoegaze ao topo. Literalmente o shoegaze virou épico nas mãos desses ingleses.
Ouça “As Bright As The Sky”:
Ouça “Before You Leave”:
01. Waiting There
02. As Bright As The Sky
03. Before You Leave (veja o vídeo aqui)
07. All You’ve Found You’ve Left behind
04. Always
05. Sorrow Song
06. Tall Buildings In Large Cities (veja o vídeo aqui)
07. All You’ve Found You’ve Left behind
08. Time Lasts Forever
09. Echoes
10. Sonic Assault
93 Million Miles From The Sun
Álbum – Northern Sky
Gravadora – In At The Eye Records
Lançamento – 24 de outubro de 2011
Tempo total – 63 minutos e 9 segundos
Veja o vídeo de “Waiting Here”:
Renato Malizia é editor do blogue The Blog That Celebrates Itself. Ele resenhou o primeiro disco do 93MMFTS, aqui (você também pode baixá-lo na íntegra).
Lento, sem hits mas olha o poder desse negócio! Poderoso como o shoegazer é.
Quando eu comecei a entrar na onda do shoegaze lá pelos idos de 2009 eu via como algo caído, longe de ser um ame ou odeie. Que bom que tá voltando a ser relevante a ponto de ser odiado!
“O motivo de tudo isso??! Vai lá saber… O fato é que o shoegazing voltou com uma roupagem atualizada e extremamente inspiradora;”
Existe um fenômeno que eu aprendi lá nas minhas aulas de literatura no ensino médio, uma das aulas menos relevantes que eu tinha mas que me mostrou uma das coisas que eu mais vejo e faz todo o sentido.
Lá nos distantes séculos XVI e nos seguintes existia a predominância de determinadas escolas literárias em certos períodos. Depois de algum tempo aquela escola se desgastava e dava lugar a outra. A nova escola literária que surgia tendia a negar a anterior. Exemplo: O Barroco era marcado pelo temor a Deus e o medo de ir para o inferno. Depois veio o Arcadismo que tinha como mote a idéia do “Carpe Diem”. E mais pra frente, a escola que surgia negava a antecessora, e se inspirava na escola anterior à sua imediata antecessora.
O mesmo vale para a música, especialmente a partir da segunda metade do século XX, que é quando a coisa esquentou. Troquemos as escolas literárias por décadas, como muito do que se produziu passou a ser segmentado. Uma década nega anterior e reafirma a que veio antes da sua imediata antecessora. Trocando em miúdos, um culto ao que rolou 20 anos atrás. E estamos em 2011, vinte anos do Loveless.
seu comentario ” Uma década nega anterior e reafirma a que veio antes da sua imediata antecessora” é vero …
Renato, de onde tu tirou que o “britpop” matou o shoegaze? ou AME ou ODEIE?
Nunca vi uma coisa tão absurda na minha vida.
“De uns tempos pra cá, houve um absurdo resgate daquele estilo menosprezado e banalizado, como citei, pelo britpop; sendo que hoje centenas e centenas de bandas shoegazers surgem nos quatro cantos do mundo, ”
Quem está banalizando o “estilo” é justamente um texto como este. O britpop não concorreu, não banalizou e nem nada com o shoegaze. Oasis e My Bloody inclusive compartilhavam a mesma gravadora no início, gente do “movimento shoegaze” tocou no Oasis e etc.
E por último, o estilo não foi banalizado nem menosprezado, não é um estilo de música pra vender milhões de discos ou pra tocar exaustivamente em rádios, não é um estilo para multidões, tudo que abusa um pouco da estrutura mais simples/pop fica longe de rádios e multidões.
As bandas que lançam discos hoje em dia se dizendo shoegaze ou chamadas assim por jornalistas estúpidos que falam do que não entendem não chegam aos pés do My Bloody, Jesus e outras coisas boas que saíram no fim dos anos 80, apenas dão um pequeno consolo para os ouvidos.
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha otimo comentario para eu ir direto ao bar tomar minha merecida cervejinha de sexta feira, tá afim?!?!quer discutir o assunto mais a vontade?!?!?!
o engraçado é que a sua opinião foi a unica que discordou do contexto geral…sera que você esta com a razão e estamos todos equivocados?? Who Knows??!?!?! o dia que eu banalizar o shoegazer meu carissimo pode ter certeza que eu esteja passando por alguma tipo de problema….
passar bem….
Renato, banalizaste sim mas Quem é o Renato, quem é o Arlen né? Não importa. Mas é mais que fato que a tua comparação entre os dois estilos e um banalizar o outro não existe.
E é claro que todos concordaram contigo
“Quando eu comecei a entrar na onda do shoegaze lá pelos idos de 2009 eu via como algo caído, longe de ser um ame ou odeie. Que bom que tá voltando a ser relevante a ponto de ser odiado!”
sugiro a você ler mais a respeito sobre a The Scene That Celebrates Itself e os motivos do surgimento, apice e queda do shoegazing…
Não lerei e talvez seja esta a diferença eu vivi a época do nascimento, os revivals e etc.
hahahahahahahahahahahahahaha blz então…passar bem!!
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