Feliz 2012, leitores da Noise Waves!
O ano começou e já tem álbuns espetaculares lançados, é melhor ficar de olhos e ouvidos bem atentos porque promete: vem ai o debute do Dead Leaf Echo, do Lost Rivers, novos do December Sound, A Place To Bury Strangers e por ai, só pra ficarmos na expectativa…
Mas aqui a vez será de um álbum que mexeu absurdamente comigo desde a primeira audição, tardia diga-se de passagem, pois o disquinho é do já distante 2011. Essa pérola ferrou totalmente com minha lista pessoal dos melhores de 2011. É foda, sempre assim, quando menos se espera aparece algo totalmente assombroso de tão perfeito.
A teoria novamente veio à tona: dessa vez com o segundo álbum do Belong, intitulado “Common Era”. Um daqueles álbuns que simplesmente é impossível não ficar boquiaberto. Nos primeiros 30 segundos da abertura de “Come See” o estrago já esta feito. Um wall of sound ensurdecedor, ao melhor estilo Flying Saucer Attack somado logicamente aos patrimônios J&MC e MBV. Daí por diante, as delirantes faixas de “Common Era” entorpecem sua alma com o mais puro shoegazer.
Ouça “Come See”
Aqui, cabem varias vírgulas. A primeira que ainda não comentei foi como e porque cheguei ao Belong.
O debut deles é datado de cinco anos atrás (“October Language”, de 2006). Cheguei a ouvi-lo, mas confesso que na ocasião certamente havia outras audições que dominaram este que vos escreve. Com isso, o álbum ficou esquecido no limbo dos meus arquivos – arquivos estes que vão sumindo conforme os álbuns físicos vão chegando.
A apresentação do disco veio através do grande amigo de longa, longa data: Gilberto Custódio, e aqui começa uma grande viagem diretamente à clássica era alternativa da cena nacional, início dos anos 90. A Zona Oeste de São Paulo era uma das mecas do público alternativo da época e conheci o Gilberto não sei direito em qual inferninho da cena, podia ter sido no Retrô, Der Termple, Armaggedon, Holleish, Urbania, vai lá saber. A época era insana pra todos nós. Vivíamos intensamente e o amor pela música era notório. O Gilberto era e é até os dias de hoje um grande ativista da cena alternativa nacional. Dentre seus projetos, há fanzines; duas bandas, a Comespace e a Magic Crayon; e atualmente a melhor loja do país em termos de música, a Locomotiva Discos.
Esse amigo me apresentou Belong, com a seguinte frase: “eles elevaram o shoegaze a outro patamar, Malizia”. Porra, o Giba me conhece há mais de 20 anos e o cara tem propriedade pra falar porque como eu é um grande admirador do estilo.
Ouça “Perfect Life”:
Obviamente que “Common Era” me consumiu desde então. Audições ininterruptas, viagens pessoais, instrospectivas ou não, o Belong pega o shoegaze e seus mestres e acrescenta uma modernidade e um “q” de tons épicos que fazem os mais xiitas se renderem à mistura fascinante de pós-punk e, como coloquei no inicio, FSA+J&MC+MBV. Daí, é inegável o quão fascinante é o álbum.
Numa de minhas audições intermináveis, postei um vídeo e prontamente outro memorável amigo lá dos 90’s emendou no Facebook: “Renatão, isto está na minha lista dos melhores do ano”. Palavras sábias de outro shoegaze nato, Mr. Carlos Umilta ou Fininho, pros íntimos. Aqui valem novas vírgulas e adendos: outra região de SP que continha uma cena fortíssima nos 90’s era a região do ABC. Fininho e outros ilustres membros da região, também amigos e assíduos freqüentadores dos famosos inferninhos, contribuíram imensamente pra toda a formação musical daquele pessoal.
Mostrei o Belong pra outros comparsas, estes de outra região dominante da época, Guarulhos e a ZL, caras como Plinio (Ex-Retrô), Vagner e Robson (The Concept), e ilustres xiitas da cena, Cícero, Marcos, Adriano, todos sem exceção elegeram Belong como a bola da vez.
Ouça “Never Came Close”
Aqui fica a seguinte consideração: primeiro em relação ao Belong e o fantástico e essencial “Common Era”, uma obra shoegazer absolutamente grandiosa, que deve ser saboreada como saboreamos os clássicos eternos; e segundo, vejam só, 20 anos passados, 20 longos anos, e aquela cena lá do inicio dos 90’s ainda vive. Hoje os jovens senhores mencionados neste texto já sofreram mudanças, logicamente pelo causa natural que é viver, mas acima de qualquer coisa, aquela chama, aquela verve ainda está dentro de cada um. O desejo de vivenciar algo novo é latente, hoje as nossas loucuras são outras, mas de vez em quando se faz necessário nos jogarmos de cabeça nos inferninhos e se o DJ for bom mesmo certamente estará rolando Belong.
1. Come See
2. Never Came Close
3. A Walk
4. Perfect Life
5. Keep Still
6. Different Heart
7. Make Me Return
8. Common Era
9. Very Careful
Belong é: Turk Dietrich e Mike Jone
Álbum – Common Era
Lançamento – 21 de março de 2011
Gravadora – Kranky Records
Tempo total – 41 minutos e 21 segundos
Contato – Facebook e Blogue Oficial
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Renato Malizia é editor do blogue The Blog That Celebrates Itself.
Cara o mundo esta salvo…
amem
Esse álbum ficou entre meus 5 preferidos de 2011. Pena q as pessoas não se interessaram. (Pena deles rs)