“Juventude” não é um disco otimista ou mesmo positivo com relação a essa fase da vida. Uma constante brincadeira aconselha aos jovens largar a rabugice dos pais da seguinte forma: “arrume um emprego, ganhe sua própria grana, pague suas contas e vá ser feliz, enquanto você ainda sabe de tudo”.
Ser jovem nos anos dez deste novo século não é mais difícil quanto sempre foi, mas é fato que começar a ser adulto é ainda mais difícil, justamente porque você descobre que na verdade não tem aquelas certezas todas que queria convencer aos seus pais que tinha e que há mais dúvidas e perguntas do que respostas. Aliás, as respostas que existem nem sempre são satisfatórias.
Aquilo que te satisfazia antes já não é suficiente, como diz Matheus Borges, em “Isso Sim É Revolução!”: “se você quer ação vá à praça central / se quiser ficção então leia o jornal / então não pense na realidade / pois é tudo uma invenção / esqueça os barulhos da cidade / isso sim é revolução!”.
O mundo lá fora acontece enquanto suas verdades vão sendo demolidas e ficar na sua é uma revolução no seu modo de vida pra encarar a vida toda de um jeito mais sadio. “Juventude”, o disco cheio que o Nosso Querido Figueiredo de Borges lançou em 13 de novembro de 2017, de maneira independente, trata dessa passagem. “Esqueça a mudança / que a mudança já morreu”, diz a faixa-título.
Algumas músicas do disco já eram conhecidas do seu (pouco, infelizmente) público: “Para Vencer Na Vida Não Precisa Ser Rebelde”, “Isso Sim É Revolução!”, “Imbecil” e “Eu Vivo No Estado Com O Maior Registro De Suicídios No Brasil”, mostrando que com a “maturidade” chegam certas responsabilidades – e não se trata só de pagar boletos, mas responsabilidades sociais e éticas; é preciso encarar a cruel realidade de uma sociedade doente e que vai se calando sobre seus problemas pra ver se assim eles deixam de existir; “Juventude”, pois, é um disco político, como o Nosso Querido Figueiredo vem se assumindo há um tempo, desde “Eu Não Estou Em Sintonia” (ouça e leia aqui).
Há obviedades, como “Canção Do Golpista Arrependido”, mas que não comprometem o todo. Borges é um letrista objetivo e hábil em criar rimas fáceis e mesmo nas obviedades o ouvinte se diverte com o que ele tem a dizer.
Isso porque o tecnopop meio minimalista e deprê, com voz, teclas, bateria eletrônica e guitarra, dá ao ouvinte mais velho (aos pais dessa geração?) uma “sensação de saudosismo” que não é bem saudosismo, nem melancolia, mas talvez um espanto de como a música se recicla tanto quanto as próprias percepções da vida de qualquer geração.
O que terá acontecido com essa juventude, que tem ficado mais conservadora e menos contestadora? O Nosso Querido Figueiredo não dá voadora no sistema, como um Sex Pistols ou como um Racionais, mas questionar nunca é dispensável em qualquer amplitude. “Sim, esse é o fim da minha juventude. Mas isso não quer dizer que eu tenha amadurecido. Afinal de contas, o que é a juventude?”. É só uma fase, Borges, que infelizmente a gente gasta sem nenhuma sabedoria. Ou felizmente.
01. Juventude
02. Para Vencer Na Vida Não Precisa Ser Rebelde (clique aqui pra ver o vídeo)
03. Isso Sim É Revolução!
04. Homens Pequenos
05. A Degradação Nunca Foi Tão Popular
06. Imbecil
07. Eu Vivo No Estado Com O Maior Registro De Suicídios No Brasil
08. Mosca Da Vaidade
09. Salvador
10. Canção Do Golpista Arrependido
11. Esse É O Som Do Fim Da Sua Juventude
12. Hoje Não… E Nem Nunca Mais (clique aqui pra ver o vídeo)
13. Ônibus (clique aqui pra ver o vídeo)
14. Minhas Opções