“‘Para vencer na vida não precisa ser rebelde’
Diziam assim para mim lá no colégio
Pois o valor de um homem somente é atestado
Por sua capacidade de obedecer as regras
Porém mais tarde eu descobri que estava tudo errado
E ninguém dá valor a um pobre pau mandado
Então se alguém disser que obedecer é um privilégio
Estou disposto pra lhe dar um soco atravessado”
“Se você quer ação vá à praça central
Se quiser ficção então leia o jornal
Então não pense na realidade
Pois é tudo uma invenção
Esqueça os barulhos da cidade
Isso sim é revolução”
A poesia de protesto de Matheus Borges, o Nosso Querido Figueiredo, é simples e sem firulas. Pode parecer óbvia e nada rebuscada, mas é direta pro momento que o Brasil vive – de ruptura democrática, de forte escalada conservadora e de asfaltamento da truculência.
A sonoridade segue uma linha que o Nosso Querido Figueiredo vem aplicando há tempo, com variações ora bruscas, ora sutis, mas pontuais. No bojo, orbita entre oitentismos sintetizados, com teclas, baterias eletrônicas, baixos distorcidos e uma voz declamante metálica. As duas canções desse single publicado em 10 de maio de 2017 espelham o melhor dessa estrutura.
“Quando comecei (a compor essas duas), tava pensando em Wipers e Mission Of Burma, mas depois foi se afastando disso. Depois que eu botei os solos de synth, então, nem sei pra onde eu fui. Naturalmente, as canções não seguem o mesmo estilo, como sempre”, diz Borges.
Apesar disso, ele concorda que as canções do NQF seguem uma lógica dentro de determinado espectro: “sim, todas elas dialogam com algumas coisas, tanto políticas quanto pessoais. Essas duas, por exemplo, são as mais políticas. As outras são mais introspectivas, mas é uma introspecção que vem desse momento de merda do mundo. É bem a continuação do “Eu Não Estou Em Sintonia” (disco de 2015) mesmo, só que mais pessimista”.
Em março de 2017, o NQF lançou o single “O GRANDE GOLPISTA Versus Fantasma Da Alvorada”, uma tiração de sarro crítica sobre o ridículo que foi essa notícia, expondo o país a mais um escárnio mundial. Mas era um exercício desconexo com a obra de Borges, embora o protesto, nesse caso bem-humorado, permaneça em evidência. Ouça aqui.
“Para Vencer Na Vida Não Precisa Ser Rebelde” é um reajuste de rota, prenunciando o próximo disco que deve chegar ainda este ano.
Ouça: