O PRIMEIRO SHOW DO NEW ORDER NO ORIENTE MÉDIO

“Poucas bandas dividem opiniões tanto quanto o New Order. Eles são capazes de alguns dos momentos mais sublimes da música eletrônica e da música com guitarras, mas os seus críticos afirmam há uma dúvida persistente sobre a sua capacidade de transferir os sons do estúdio pro palco.

Os pessimistas vão dizer que a banda carece de força desde a saída amarga do co-fundador e baixista Peter Hook há alguns anos, e que a música é demasiadamente programada pra fazer sucesso nos palcos.

Pois aqueles que duvidam foram colocados nos seus devidos lugares, após o show no Dubai Duty Free Tennis Stadium, na sexta-feira à noite, dia 7 de abril de 2017.

Pra sua estreia Oriente Médio, o New Order entregou um show impressionante, surfando entre seu catálogo antigo estelar e os destaques de ‘Music Complete’, satisfatório álbum de 2015 que marca o retorno da banda aos estúdios, além de mergulhar em alguns dos melhores dias do Joy Division”.

De acordo com o trecho acima, tirado do The National, jornal de notícias dos Emirados Árabes Unidos, assinado por Nick March, a estreia do New Order no Oriente Médio foi um sucesso.

O país, que há até bem pouco tempo também nunca havia recebido um show sequer dos Rolling Stones (isso aconteceu só em 2014), vem se abrindo à cultura ocidental da maneira mais acelerada possível. Há o Grande Prêmio de Fórmula 1, há torneios de tênis, desfiles de moda, lojas grandes marcas de roupas e… shows de música.

O petróleo, descoberto no local em 1966, já está no fim (estima-se que as reservas durem até 2040 no máximo) e representa hoje apenas 6% do PIB de Dubai, que sobrevive com força do turismo, comércio e indústria imobiliária, civil e financeira. Dubai se reinventou rapidamente.

Não há eleições em Dubai. O emirado é governado desde 1833 pela mesma família. Há gravíssimas acusações de violações dos direitos humanos, especialmente na área trabalhista, mas o que Dubai mostra ao mundo são seus prédios espelhados enormes, suas ilhas artificiais, suas largas avenidas que recebem os mais potentes e caros carros do mundo, seus shopping centers reluzentes e muita ostentação. É isso que atrai o turismo. Tem dado certo.

Dubai também é um dos polos mundiais de inovação em engenharia. O autódromo que recebe a corrida de Fórmula 1 é um belo exemplo dessa pujança e excelência. O mesmo se pode dizer do Dubai Duty Free Tennis Centre, que era o antigo Clube de Aviação, onde o New Order se apresentou. No centro, há um famoso torneio de tênis que ocorre desde 1993 – hoje um ATP 500 e um evento WTA Premier 5. O estádio do complexo foi inaugurado em 1996 e tem capacidade pra mais de cinco mil pessoas – sentadas!

O Oriente Médio não é um destino usual pros artistas por variadas questões, sejam os impedimentos religiosos, sejam os conflitos civis e militares, sejam as instabilidades econômicas. Dubai tem virado o jogo há um bom tempo.

Por ali, especialmente no Dubai Duty Free Tennis Centre, já passaram nomes como Sting, Bryan Adams, Enrique Iglesias, Gloria Gaynor, Coolio, Shaggy, Big Mountain e agora New Order. Mas há outros locais de shows na cidade, por onde já passaram toda sorte de artistas, de Nouvelle Vague a Shakira, Mariah Carey e Jennifer Lopez.

Mas viver nesse oásis tem um preço. Os valores dos ingressos pro New Order seriam proibitivos pra brasileiros. Enquanto o show que a banda fez no Brasil em dezembro de 2016 tinha valores que iam de R$ 95,00 (a meia-entrada da pista comum) a R$ 360,00 (a inteira da pista premium), em Dubai, os ingressos iam de R$ 295,00 (349 dirhames, a cadeira simples) a R$ 845,00 (999 dirhames, a pista VIP, com bebidas incluídas – apenas estrangeiros podem beber e em locais específicos). Isso não impediu a lotação quase completa do estádio do complexo.

Esse era apenas o segundo show da banda em 2017, com Bernard Sumner, Stephen Morris, Gillian Gilbert, Tom Chapman e Phil Cunningham tendo tirado dois meses de férias, após as cinco derradeiras apresentações de 2016, justamente as na América Latina.

O grupo não pareceu enferrujado e tocou por duas horas. Os fãs deliraram. Foram quatorze músicas, com direito a um bis composto por duas canções do Joy Division (veja setlist abaixo).

March segue, em sua resenha: “este foi um momento de alegria pros fãs, uma profusão de sons retrôs e modernos, uma exibição de recursos visuais deslumbrantes e presença de palco estelar – uma lembrança de bons tempos passados de uma banda cuja sombra é tão intensa quanto a do Burj Khalifa (o mais alto prédio da cidade). Depois de quatro décadas, a idade e a ausência de Hook não reprimiram o fogo da banda – só alimentaram”.

A lição que o jornalista deixa transparecer, olhando a reação das pessoas, é que a música transcende as dificuldades impostas pelas diferentes sociedades. O New Order ou qualquer outra banda pode ter fãs tão fervorosos seja no Brasil, na Indonésia, na Inglaterra, na Suécia, no Tajiquistão ou nos Emirados Árabes.

Alguns fãs, da plateia, filmaram a apresentação toda. Os melhores momentos você vê e ouve no vídeo a seguir (um apanhado de algumas canções) e logo após o setlist em vídeos separados:

01. Singularity
02. Ceremony
03. Academic
04. Crystal
05. Your Silent Face
06. Bizarre Love Triangle
07. The Perfect Kiss
08. Tutti Frutti
09. People On The High Line
10. True Faith
11. Blue Monday
12. Temptation

BIS 1
13. Decades (Joy Division cover)
14. Love Will Tear Us Apart (Joy Division cover)

“Singularity”:

“Ceremony”:

“Bizarre Love Triangle”:

“True Faith”:

“Love Will Tears Us Apart”:

Foto que abre o artigo: Mona Al Marzooqi / The National

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