Em 1992, André Barcinski lançou “Barulho – Uma Viagem Pelo Underground do Rock Americano”. Ali, apresentou pra uma geração (a minha geração) nomes como Nirvana, Red Hot Chili Peppers, Ministry, Mudhoney, Tad, além de entrevistar Ramones, Cramps, Jello Biafra… É o melhor livro de música pop lançado originalmente em português desde então.
Já é um feito considerável, que faria a fama de muito jornalista, mas ele também passou pelos Notícias Populares, Bizz, foi, por um tempo, sócio da casa de shows (a Clash, em São Paulo, por muito tempo palco dos melhores shows da cidade), lançou livro sobre a história do Sepultura e deu o devido valor à obra de um dos maiores gênios do cinema nacional, o Zé do Caixão.
Escreveu a biografia “Maldito – A Vida e o Cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão” e acabou vencendo o Prêmio do Júri no Festival de Cienma de Sundance, em 2001, com o documentário “Maldito”, sobre o Coffin Joe (como Zé do Caixão é conhecido nos Esteites).
Hoje, seu blogue “Uma Confraria de Tolos” é um dos mais acessados e lidos (e cultuados) do Portal UOL. É crítico musical, literário e de cinema dos mais perspicazes e inteligentes do país.
Houve um tempo em que eu queria ser como ele, coisa de adolescente que projeta seu futuro através do sucesso e eficiência do ídolo. Hoje, acho que todos que falam sobre cultura deveriam ser como ele, provocativo e sem rabo preso com quem quer que seja. “A maioria das pessoas gosta de críticas das quais elas concordam”, disse certa vez, “já eu penso o contrário, porque se eu já acho aquilo, por que eu vou ler algo que só vai corroborar o que eu já acho? A gente tá vivendo um período esquizofrênico, tem muita música, muito cinema, muita literatura disponível, só que as pessoas estão passando cada vez mais tempo ouvindo música, mas não apreciando música”.
E manda a máxima pela qual a gente aqui no Floga-se procura se guiar: “a palavra ‘crítico’ é levada mais a sério do que ela deveria”. Humor, acidez, provocação. Barcinski ensinou um bocado de coisas.
Está tudo aqui nesses dez discos que ele escolheu pra esta edição de “Os Discos da Vida”. É pra rir, não é pra levar a sério como um” bíblia”, mas é pra tentar compreender a mensagem: o lugar-comum é chato pra cacete.
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ANDRE BARCINSKI
Costinha – “O Peru Da Festa” (1981)
Toda vez que leio alguém fazendo uma lista de discos “da vida”, o cara só põe joia. É Velvet Underground pra cá, Bowie pra lá, como se ele tivesse bom gosto desde os oito anos de idade. Pura cascata. Todo mundo ouviu discos vagabundos e adorou, em algum momento da vida. Este, do Costinha, não saía da minha vitrola quando eu tinha uns 12 anos. Decorei algumas partes até hoje.
Ouça na íntegra:
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Black Sabbath – “Vol 4” (1972)
O primeiro disco que comprei com dinheiro do meu próprio salário. Foi na Moto Discos da Sete de Setembro, no Rio. Lembro até hoje: cheguei em casa, tirei o disco da vitrola e ouviu dez vezes seguidas. Um clássico.
Ouça “Supernaut”:
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Ramones – “Rocket To Russia” (1977)
O melhor disco dos Ramones e, pra mim, o melhor disco do punk. Todas as faixas são clássicas, a produção tem um minimalismo lindo que eu adoro, e a capa é maravilhosa. Perfeito.
Ouça “Teenage Lobotomy”:
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Aracy de Almeida – “Noel Rosa” (1950)
(N.E.: Foram lançados dois volumes da coletânea: o primeiro em 1950 e o segundo e 1951, originalmente em vinil de 78 rotações – a canção “Último Desejo” está no primeiro volume)
Sou fanático por Noel Rosa, o maior gênio da música brasileira, e só consigo gostar de duas pessoas cantando suas músicas: ele próprio, e Aracy de Almeida. Este disco tem músicas do Noel, cantadas por Aracy, com arranjos de Radamés Gnatalli e capa do Di Cavalcanti. Não se faz mais discos como esse. É uma obra-prima. Dá vontade de emoldurar a capa e pendurar na sala.
Ouça “Último Desejo”:
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Chet Baker – “Chet Baker Sings” (1956)
Disco ideal pra um domingo de manhã, vendo o sol batendo no jardim. “I Get Along Without You Very Well” é a coisa mais linda gravada em todos os tempos. Uma história curiosa: quando minha filha nasceu, preparei no IPod uma lista só de Chet Baker e Nina Simone, pra ela nascer ouvindo coisa boa. Mas o parto demorou tanto que a bateria do IPod acabou, e o anestesista ofereceu o dele. A primeira música que ele colocou foi Capital Inicial. Pedi para ele desligar aquela merda correndo.
Ouça “I Get Along Without You Very Well”:
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Gang Of Four – “Entertainment” (1979)
A junção perfeita de músculos e cérebro. Som empolgante sem ser estúpido, inteligente sem ser chato. Funk branco de primeira, com pitadas de industrial nas guitarras de Andy Gill. Uma obra-prima do pós-punk, com letras até hoje inigualadas. Ouvimos direto aqui em casa.
Ouça “I Found That Essence Rare”:
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Jerry Lee Lewis – “Live At The Star Club, Hamburg” (1964)
O melhor disco ao vivo que conheço: The Killer, cercado por uma multidão de alemães bêbados gritando “Zerry, Zerry!”, invade o lugar onde os Beatles fizeram fama e mostra como se faz.
Ouça “Mean Woman Blues”:
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Jorge Ben – “A Tábua De Esmeraldas” (1974)
Se Ben fosse americano, esse disco seria considerado uma joia do soul psicodélico dos anos 70. Tenho o vinil original da época e quase não sai de perto da vitrola, de tanto que toca aqui em casa.
Ouça “O Namorado Da Viúva”:
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Wilco – “Kicking Television: Live In Chicago” (2005)
Acho que é o disco que mais ouvi nos últimos anos. Geralmente não gosto de discos ao vivo, mas este é tão bem tocado, o repertório é tão bom e a ordem das músicas tão bem escolhida, que é difícil parar no meio.
Ouça “Company In My Back”:
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Mudhoney – “Superfuzz Bigmuff And Early Singles” (1990)
Pra mim, daquela geração grunge, ninguém chega perto do Mudhoney. Já era fã dos caras antes de conhecê-los, depois virou uma obsessão. São os sujeitos mais inteligentes, talentosos e cultos que conheci no rock. E, diferentemente de muita gente culta no rock, não são pedantes e sabem se divertir.
Ouça “Touch Me I’m Sick”:
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Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Wayne Hussey”.
Muito massa, mas só tem um errinho no post: no final, o André cita o disco do Mudhoney, mas a imagem tá do Pet Sounds do Beach Boys. Tá certo isso, Arnaldo?
Só uma coisa: esse disco do Chet Baker não é de 56?
Sim, Yasmin. Já arrumei: valeu pelo toque!
[…] edição anterior, “Os Discos da Vida: André Barcinski”. Compartilhar isto:Leia mais:OS DISCOS DA VIDA: ANDRE BARCINSKIOS DISCOS DA VIDA: WAYNE HUSSEYOS […]
[…] (janeiro), Gaía Passarelli e Fábio Bridges (março), Tom Leão (abril), Wayne Hussey (junho, André Barcinski (julho), e Victor De Almeida (agosto), entre outros, incluindo bandas, artistas etc. Em todas elas, […]
horrível…