Os vídeos de Anthony Fantano são mais famosos do que seu site, o The Needle Drop. O rapaz careca, de óculos de aro escuro, cara de nerdão, fala sobre os mais recentes lançamentos da música alternativa (e mainstream também, vez por outra) com tal desenvoltura, muitas vezes por mais de dez minutos, veemência e comicidade, que se torna irresistível.
Mas nem sempre foi assim. No começo, Fantano parecia se levar a sério demais. Só que logo os vídeos de suas resenhas foram se adaptando ao gosto dos jovens que o assistiam e ele foi se soltando. Um bom exemplo de como Fantano domina o formato que criou é a recente resenha de “mbv”, do My Bloody Valentine.
Hoje, ele divide sua diversão pessoal com o trabalho na WNPR, a rádio pública de Connecticut, Esteites, que provavelmente quase ninguém no Brasil tem o hábito de ouvir, embora já tenha acessado o enorme NPR, que publica material da emissora.
Fantano fala sobre hip hop, punk, shoegaze, indie, pop, o que cair na mão e for do agrado do seu radar.
Aqui, nessa edição de “Os Discos Da Vida” (graças ao parça João Vitor Medeiros), Fantano foca suas preferências e você, se já se divertiu com a figura, pode ver finalmente o que fez a cabeça e moldou o gosto do engraçado falastrão.
Se eu fizesse um vídeo sobre essa lista, diria simplesmente: “muito bem, senhor Fantano, sua vida é bem divertida”.
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ANTHONY FANTANO
Earth – “Earth 2” (1993)
No começo dos meus vinte anos, esse álbum ajudou a descobrir o poder e a versatilidade da música ambient e do drone. Já havia escutado algumas obras-primas como “Ambient 1: Music For Airports”, do Brian Eno, mas essa foi a primeira vez que senti minha mente afetada por esse tipo de música. É pesado, alto e entorpecente. Ouça com a expectativa de ficar relaxado, e deixe sua mente aberta de um jeito agressivo.
Ouça “Teeth Of Lions Rule The Divine”:
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Wire – “Pink Flag” (1977)
Wire me impressionou à primeira audição, e acho que foi por conta do enorme quantidade de coisa que não fiz – e não o que eles fizeram. Embora eles seja muitas vezes rotulados como punk e pós-punk, não é o gênero da banda que me atrai. O que faz a banda soar tão diferente dos seus contemporâneos punks é a pegada minimalista perto do rock em geral. Quase todas as canções em “Pink Flag” soam despojadas diante dos fundamentos essenciais do rock. As guitarras e o baixo são bastante simples e básicos, é estranho ouvir guitarras com tal energia, tão robóticas e rígidas. A banda ainda chega a invocar alguma arrogância nos vocais, mas isso é o mais simples que o punk consegue ser
Ouça “Pink Flag”:
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Dead Kennedys – “Plastic Surgery Disasters” (1982)
Essa banda e esse disco acabaram por me tornar um apaixonante ouvinte de punk. Até o momento em que ouvi o disco, achava que o punk era um subgênero pela falta de musicalidade dos principais álbuns do estilo. Mas de jeito nenhum esse é o caso do Dead Kennedys. Não só porque cada membro da banda já era fantasticamente talentoso nessa altura da carreira, mas as canções são incrivelmente chamativas, detalhadas e cheia de detalhes pra uma música punk. Adicione o discurso mordaz e quase atemporal de Jello Biafra, e você tem um disco punk perfeito.
Ouça “Trust Your Mechanic”:
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Godspeed You! Black Emperor – “Lift Your Skinny Fists Like Antennas To Heaven” (2000)
Uma obra-prima seminal do post-rock que é incrivelmente merecedora do seu louvor e lugara na história de música moderna. Ao ouvir esse disco, minha mente se abriu a toda sorte de possibilidades nas composições musicais. Nunca ouvi guitarras, baterias e baixos tocados de forma tão delicada em meio a orquestrações. Não só momentos como os seis primeiros minutos valem as lágrimas, como as peças de drones e noises são absolutamente arrepiantes.
Ouça “Antennas To Heaven”:
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Tom Waits – “Real Gone” (2004)
Não é o melhor disco de Tom Waits, mas é o que me apresentou a sua música, e me pegou em cheio, numa longa e sinuosa obsessão pelo cantor-compositor, durante um tempo. Tom tem um sexto sentido pros sons, com o qual poucas pessoas foram abençoadas, e ele tem a voz do diabo, eu juro. Minha primeira experiência Tom Waits foi, na verdade, com a canção “Shake It”, que ouvi num estéreo que estava a duas salas de distância de onde eu estava no momento. Meus ouvidos se animaram na hora, porque eu estava convencido de que se tratava de uma banda de rockabilly vindo do inferno se apresentando ali ao lado.
Ouça “Shake It”:
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Frank Zappa – “Apostrophe” (1974)
Não só o Frank Zappa era um fantástico guitarrista e visionário musical, mas seu senso de humor matador convenceu-me, há muito tempo, que não há razão alguma pro humor não ter lugar na música “séria”. Este nem é seu álbum mais insano, mas imagens de alguém comendo neve amarela (N.E.: “Don’t Eat the Yellow Snow”, a música, faz referência a algo que crianças sempre ouvem pra não fazer – e comer neve amarela, ou “urinada” pelos animais, é coisa de doido) e um café-da-manhã recheado de panquecas fazer de você um guardião, por certo são (insanas).
Ouça “Apostrophe”:
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Madvillain – “Madvillainy” (2004)
Provavelmente, o mais notável álbum de hip hop underground dos anos 2000, e o LP que me mostrou a versatilidade que o hip hop pode ter no futuro. Além disso, ajudou a pavimentar o caminho pra todos esses novos nomes de hip hop abstrato que vemos hoje. Temo que nunca veremos uma sequência, e se isso não acontecer, está tudo bem. Não estou bem certo se é possível fazer algo muito melhor do que esse álbum.
Ouça: “Meat Grinder”:
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Rashaan Roland Kirk – “The Inflated Tear” (1968)
Um saxofonista que levou o jazz e a performance, e minha mente, a novos lugares. Não só despejou algumas canções fantásticas, mas ouvi-lo tocar nesse disco seminal é uma experiência surreal.
Ouça “The Inflated Tear”:
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Squarepusher – “Hard Normal Daddy” (1997)
Basicamente, op disco que me introduziu à música eletrônica. Acho que àquela época, achava que a eletrônica era um tanto robótica, rígida. Entendo que esse é o ponto, mas Tom Jenkinson construiu a ponte que me fez atravessa pro outro lado com essa incrível coleção de faixas que fundem drum’n’bass com jazz fusion maravilhosamente.
Ouça “Beep Street”:
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Rage Against The Machine – “Evil Empire” (1996)
Hip hop e metal políticos parecem um inferno na teoria, mas o Rage Against The Machine de alguma forma transformou tudo em muitos discos fantásticos, e nenhum melhor do que “Evil Empire”, na minha opinião. Não só foi um disco de grande aceitação pra minha raiva pré-adolescente, como lançou um olhar sombrio sobre um mundo injusto, que meio que fundiu minha cuca na época do lançamento.
Ouça “Bulls On Parade”:
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Na edição anterior, “Os Discos da Vida: A Trip To Forget Someone”.
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