OS DISCOS DA VIDA: BELA INFANTA

Quatro rapazes do sul do país. Joinville fica tão longe de centros importantes como São Paulo e Rio de Janeiro, quanto de Londres. Mesmo assim, a Bela Infanta taí, diminuindo essa distância.

Já são dois EPs, “Bela Infanta” (Ou “Branco”), de 2009; e “Às Vezes Os Pássaros Não Voam Para O Mesmo Lado No Inverno”, de 2011; ambos bebendo na fonte do dark e do pós-punk, tal como um The Cure – algo ousado e meio estranho nos dias de hoje, onde todo mundo tenta “parecer” inovador e original. A Bela Infanta não esconde suas preferências.

O Cure está no seu DNA. Assim como a The Daysleepers, banda de Nova Iorque, cuja ligação me dei conta apenas pela citação dupla nessa edição de “Os Discos da Vida”. O Bela Infanta é a The Daysleepers, tal e qual. Nova Iorque também fica pertinho de Joinville.

Bela Infanta é Stenio L. de Souza (baixo), Deivys Joenck (teclado e voz), Israel Rolim (guitarra) e Marcelo Casas (bateria). Eles já mostraram o que podem fazer com essas influências. Agora mostram as influências.

Esses são “Os Discos da Vida” deles.

DEIVYS JOENCK (teclado e voz)

Barão Vermelho – “Maior Abandonado” (1984)
O primeiro contato com o rock, e foi nacional. Aproximadamente 1986, e eu com seis anos de idade, sempre ficava sob os cuidados de uma prima que tinha esse álbum e sempre ouvíamos mais de uma vez por dia. Foi a primeira vez que eu ouvi um disco de rock. Creio que posso dizer que comecei bem. É um álbum excelente e um orgulho para o rock nacional.

Ouça “Maior Abandonado”:

Bad Religion – “Stranger Than Fiction” (1994)
O primeiro disco comprado com o próprio dinheiro. Nesse caso já era década de 90. Nessa época eu andava de skate com o pessoal do bairro e ouvia outras bandas de punk, hip-hop etc. Este álbum marcou em particular, pois foi o primeiro que eu comprei com dinheiro de salário. Na ocasião, havia em Joinville uma loja que fazia aluguel de CDs. A loja fechou e vendeu todo o estoque a preços bem acessíveis pra época.

Ouça “Incomplete”:

Vários – “Pulp Fiction” (1994)
A primeira trilha sonora de filme. Tarantino é Tarantino. Sempre gostei bastante desse filme em particular e achei esse CD em um sebo da região por uma bagatela. Até aquele momento eu nunca havia tido a oportunidade de prestar atenção nas trilhas sonoras de filmes como um componente tão impactante e importante do cinema. Comprei.

Ouça “Son of a Preacher Man” (Dusty Springfield):

Interpol – “Turn on the Bright Lights” (2002)
Aquele que deixou saudades de uma época. Esse fez parte de uma época em que tive que lidar com emoções das mais variadas. Foi em 2005/2006 a situação em que esse álbum me foi apresentado pelo Israel Rolim. Eu não conhecia Interpol, e esse álbum tomou conta do meu dia-a-dia e da minha namorada na época, que passou junto comigo por esse período tão amargo devido ao falecimento de um querido amigo/irmão e companheiro de banda. Chorarmos no carro, ouvindo dentro de um misto de dor e saudades, foi uma constante nesse período.

Ouça “Obstacle 1”:

Bela Infanta – “Bela Infanta” (2009)
O primeiro a gente nunca esquece. Esse é como se fosse um filho né?! É o motivo de orgulho, de mostrar pra família inteira. Aquele que faz você se sentir importante. Que te possibilita sonhar. Gravado e lançado em 2009, o primeiro EP da Bela Infanta é um presente pra mim e pra todos os integrantes da banda. É o que te faz bater no peito e dizer: “eu fiz parte de algo importante na minha vida”.

Ouça “Refratário” (ao vivo):

ISRAEL ROLIM (guitarra)

The Cure – “The Head On The Door” (1985)
Quando muleque, adorava ouvir rádio. O clima suave de “In Between Days”, ficava o dia inteiro ressoando nos meus ouvidos depois que tocava. Lá com os meus 13 anos que eu comecei a me interessar de fato pelo trabalho desta magnifica banda chamada The Cure e “The Head On The Door” foi o meu primeiro vinil. Os discos do Padre Zezinho da minha mãe deram lugar às melodias de uma banda que ficaria pra sempre no meu coração.

Ouça “In Between Days”:

Bad Religion – “All Ages” (1995)
Em um campeonato de skate em 1995, o DJ pôs duas musicas seguidas de uma banda que nuca ouvi mas que me soou muito interessante por ter boas melodias de guitarra e que, ao primeiro contato, ganhou meus ouvidos. Imediatamente fui perguntar que banda era e o cara me respondeu: “carinha, a primeira música se chama ‘To Conquer The World’ e a segunda se chama ‘Against The Grain’, da coletânea ‘All Ages’, da banda Bad Religion”. Ele anotou tudo pra mim e no mesmo dia, fui até uma loja gravar uma fita cassete que ficou muito tempo no meu walkman, embalando as minhas tardes de skate.

Ouça: “Against The Grain”:

Dinosaur Jr. – “Without A Sound” (1994)
Houve uma época de “baixa”, de certa forma, de conhecer coisas novas e boas ao mesmo tempo. Meus amigos só vinham com bandas de rock’n’roll com som que eu achava “putamente” datado pros meus ouvidos ávidos por bandas que viessem a trazer algo de cativante. Fui até uma loja no shopping e fiquei por lá a tarde inteira caçando discos “só pela capa” (é, é isso mesmo que você leu: pela capa). Me deparo com uma capa muito esquisita, com uma pintura de algo estranho que parecia um coelho doente e com fundo de uma pintura irregular. Quando pus no player pra tocar, meus pés começaram instantaneamente a bater no chão, acompanhando as batidas simples de “Feel The Pain” e, no momento que o J. Mascis começou a cantar, também achei muito estranho por ser uma voz preguiçosa, arrastada e completamente desinteressada, o que ia de encontro com as bandas “consagradas”, com seus vocalistas que duelavam por um volume e timbres mais altos e precisos pra ganhar os ouvidos da molecada. Dessa forma, o Dinosaur Jr. ganhou meus ouvidos, sem contar que na época eu estava sem grana e minha mãe resolveu aterrar o terreno lá em casa. Vi uma oportunidade de ganhar o dinheiro necessário pra comprar o disco que me apaixonara desde então. Não foi uma tarefa fácil. O cenário demasiado desproporcional: uma montanha gigantesca de uma mescla assustadora de pedras com um barro muito duro ao lado de um adolescente magrelo e preguiçoso. Foram 15 dias de sofrimento, mas valeu a pena, ainda mais por saber que o J. Mascis também andava de skate!

Ouça “Feel The Pain”:

Cocteau Twins – “Treasure” (1984)
Ainda perdurava a época do “escolher o CD pela capa”. Dera certo da última vez (risos). Uma capa azul que não dizia coisa alguma, mas que me intrigara de uma forma inexplicável. Não ouvi o CD na primeira vez, demorou muito tempo até eu me propor novamente a dedicar meu tempo às “capas estranhas”. Não sei se esse é o termo correto mas, foi “assustador”. Retirei da prateleira e coloquei no player. Alguns calafrios me tomaram de assalto quando ouvi a guitarra e a “bateria” com reverbs absurdos na canção “Ivo”. A sensação de lugar inóspito produzida pelos reverbs, me pareceu algo como “estar sozinho diante de um abismo” e, ao entrar aquela linha forte de contra-baixo, com efeitos de modulação e não com menos reverb, seguida dos vocais etéreos de Liz, fez com que eu recebesse de uma forma muito estranha uma camada sonora onírica, que fez meu coração bater diferente. Acho que não preciso mais dizer nada…

Ouça “Ivo”:

The Daysleepers – “Drowned In The Sea Of Sound” (2008)
É um disco que ganhou meu coração pelo belo casamento entre reverbs, modulações e delays. O que mais me chamou atenção foi a grande influência da minha banda do coração, o The Cure. Pra mim, foi um prato cheio pois, esse disco mescla coisas que atualmente me fazem acreditar que vale a pena procurar por coisas boas, e essas ando encontrando muito nos estilos shoegaze, dream pop, post-rock.

Ouça “Twilight Bloom”:

MARCELO CASAS (bateria)
Obs.: Marcelo escolheu apenas três discos

Black Sabbath – “Sabbath Bloody Sabbath” (1973)
Foi o primeiro disco que eu comprei na minha vida, devia ter de 15 pra 16 anos. Rifes simples e perfeitos que me deixaram em transe, principalmente ao escutar a faixa-titulo.

Ouça “Sabbath Bloody Sabbath”:

Led Zeppelin – “Led Zeppelin II” (1969)
Sem dúvida uma das maiores bandas de rock que já passou por esse planeta. Na batera a pegada forte e característica de John Bonham é o que mais me fascina até hoje. Destaque pra “Heartbreaker”.

Ouça: “Heartbreaker”:

Alice In Chain – “Facelift” (1990)
Rifes, vocais marcantes, arranjos lentos e pesados. Pra mim, fica evidente a influencia de hard-rock e heavy metal, mas acaba sendo classificada como grunge por ser de Seatlle bem na época em que o Nirvana atinge os holofotes. Destaque vai logo para a primeira faixa, “We Die Young”.

Ouça “We Die Young”:

STENIO L. DE SOUZA (baixo)

Ramones – “Adios Amigos!” (1996)
O primeiro CD que comprei. Na época, nem me interessava com discos, comprei este por já gostar da banda e achei a capa bem legal (e não é?). Foi viciante, ouvia sem parar. É o último disco deles: “Life’s A Gas”, “I Love You” e “She Talks To Rainbows” eram minhas favoritas. Acho as músicas mais “baladinhas” dos Ramones geniais. Também tenho história com a banda por tocar bastante no começo (por ser fácil)! Um dia ainda monto uma banda pra fazer um tributo pra poder tocar algumas músicas geniais: “Daytimme Dilemma”, “Howling At The Moon”, e por aí vai.

Ouça “Howling At The Moon”:

Smashing Pumpkins – “Adore” (1995)
Os amigos vinham tocando “Quiet” nos ensaios, depois falavam de “Cherub Rock” com certa devoção, tocavam e eu só ficava ali olhando, até que fui atrás e – bum! – foi paixão à primeira vista. O “Adore” foi importante pelo fato de no começo preferir outros álbuns, e achar este meio parado, achava esquesito teclado em banda, algo assim… Aí o tempo foi passando e fui tomando conta de que é uma obra-prima: Um disco intenso, profundo… E como diria o Corgan, foi o álbum que ele parou de falar com a adolecentes e falaria com o mundo. É só escutar “For Martha” pra entender!

Ouça: “For Martha”:

New Order – “Movement” (1981)
De inicio que me envolvi em tocar com banda, gostava muito de punk rock na época. Tínhamos um estúdio onde iam bandas do bairro, tocavam rock 60’s, 70’s, punk e grunge. Até que um dia o Israel viu um show de uma de minhas bandas e decidiu me convidar pra tocar trip hop. Ele explicou por cima mas eu não sabia o que era isso… Acabei aceitando porque ele era gente fina e já tinha bandas com qualidade boa na época. Foi só entrar nessa banda que surgiram as primeiras influências oitentistas e post-punk, de ínicio tocávamos covers do New Order e Jpy Division, que nos primeiros ensaios eu tocava sem conhecer. Depois fui atrás destas bandas e aí comecei a ter novas percepções pra música. O “Movement” é importante por causa disto, ele traz um New Order com cara de Joy Division. Tenho muito influência em Peter Hook hoje em dia. A banda que era pra ser trip hop se tornou a Bela Infanta. E o trip hop eu ainda não sei o que é (risos). Brincadeira.

Ouça “Dreams Never End”:

The Daysleepers – “Drowned In The Sea Of Sound” (2008)
Esta banda foi essencial pra que eu começasse a gostar de shoegaze, dream pop e afins, não faz muito tempo, acho que dois ou três anos atrás. Na época não digeria muito bem algumas bandas clássicas do shoegaze, e comecei ouvindo Daysleepers, Airiel, e Adorable que inicialmente foram bem marcantes. Tem uma das músicas mais lindas de todos os tempos: “Summerdreamer”. É um álbum completo do ínicio ao fim, etéreo, denso, muitos reverbs e efeitos. Ótimo disco!

Ouça “Summerdreamer”:

Twilight Sad – “Forget The Night Ahead” (2009)
Uma das melhores coisas que ouvi nos últimos tempos, é um disco introspectivo com paredes de guitarras perfeitas. A voz do James Graham é marcante também, até pelo seu sotaque. Instrumental, no geral, perfeito. Tem climas de outro mundo! E com tanta música moderna sendo bombardeada em cima da gente é muito bom ver bandas alternativas extremamente boas e barulhentas. “I became A Prostitute” e “That Room” são as faixas preferidas.

Ouça “The Room”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: The Sorry Shop”.

Leia mais:

Comentários

comentários

2 comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.