Foto: Carol Ribeiro (We Shot Them)
Quando ouvi o Hierofante Púrpura pela primeira vez, rolou uma certa nostalgia. O problema é que não sabia especificar exatamente a raiz desse sentimento.
Ouvi adoidado o disco cheio, “Transe Só” (um compilado dos três EPs da banda), fui a um show (e meio), conversei um bocado com eles e o mistério não se resolvia: pra onde esse som me remete?
Não se trata de identificar referência. Não. Isso seria até relativamente fácil. Eu me refiro a um sentimento.
A resposta veio nesse post. Os quinze discos que mudaram a visão musical dos três integrantes do Hierofante Púrpura deram uma luz pra mim e achei em cheio a solução pra tal “enigma” (em especial um escolhido pelo baixista, tecladista e vocalista Danilo Sevali, o do Patife Band – sim, é isso, o Hierofante me remete à Patife Band!).
Esse apanhado contundente e difícil (uma lista de apenas cinco discos que “mudaram a vida” não é fácil) e desnuda muito do que é a banda de Mogi das Cruzes. E, assim, talvez você também encontre o “seu” Hierofante Púrpura aqui:
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GABRIEL MATTOS (guitarra)
Arnaldo Baptista – “Lóki?” (1974)
Sempre comento que pra mim esse disco é a obra-prima nacional, o disco tem todo o peso dramático e cômico… Direcionado à Rita Lee… É um disco que não tem guitarra, a psicodelia é em cima do piano magistralmente composto pelo mestre Arnaldo Baptista… Uma vez uma amiga de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Fernanda Brigatti escreveu sobre o Hierofante Púrpura: “um sopro de vida num imenso mar de caretice que a gente vive, antídoto contra o tédio, passeio na loucura”. Faço dessas palavras o que sinto quando escuto meu LP ou quando assisto o filme que conta tudo desse registro que mais me orgulha ainda por ser brasileiro.
Ouça “Cê Tá Pensando Que Eu Sou Lóki?”:
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The Clash – “London Calling” (1979)
É o chamado disco perfeito pra mim. Todas as músicas sem excessão são muito boas, muito fodas mesmo e olha que são 19 belas e dançantes músicas… Timbres de gravação incríveis, guitarras, bateria preenchida, o baixo nem se fala… “London Calling” é um clássico de punk rock, com uma pitada de musica jamaicana, um pouco de ska, coisa fina. Uma passagem incrível aconteceu com o próprio Hierofante Púrpura, quando tocamos no Festival Fogo no Cerrado (Campo Grande, Mato Grosso do Sul), em 2010: um grande amigo, o baterista Mark Paschoal, fez aquele show conosco e na música “Discutindo” ele colocou umas batidas que chamava de… “pô, vou meter uns The Clash”, e foi demais, uma noite incrível e o show também! Não tinha como ficar de fora dessa lista.
Ouça “London Calling”:
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Jimi Hendrix – “Axis Bold As Love” (1967)
Pra mim, os timbres dessa gravação são de chorar. “Castles Made Of Sand” tem aquela letra extensa, linda. Na sequência, me vem “She’s So Fine”… Fica a dica. Destaque pra aquela arte linda e psicodélica demais. Muita responsabilidade, pois é o album sucessor do lendário “Are You Experienced?”. Considero mais uma obra-prima e diferente do que muitos pensam que ele “deixa a desejar em relação ao anterior”. “Little Wing” é tipo aquilo que eles falam no filme “Trainspoting”: é o orgasmo multiplicado por 100. Ainda tem a versão do SRV dessa pérola, só bruxo!
Ouça “Little Wings”:
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Fugazi – “In On The Kill Taker ” (1993)
Penso que é o album completo dos caras. Dinâmica incrivel, gritos até não ter mais voz, peso grave. O que é “Returning The Screw”? E aquele vocal insano do Guy Piccioto em “Rend it”? Só paulada esse disco. Lembro quando um amigo de Mogi, conhecido como Daniel “Japoneis”, comprou uma cópia desse CD na galeria. A gente ouvia uma vez atrás da outra, todo mundo tava ligadão no Fugazi e até hoje tento me inspirar nos guitarristas/vocalistas Ian Mackeye e Guy Piccioto. “Great Cop” é uma música que toquei diversas vezes com minha antiga banda, (chamada) Agentes. Grandes momentos esse disco nos proporcionou.
Ouça “Great Cop”:
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Dinosaur Jr. – “You´re Living All Over Me” (1987)
Confesso que estou viciado nesse maravilhoso disco, nas linhas de guitarra, efeitos, vocais e na gravação garagera fudida. Dica do parceirasso de Mogi, o Thiago, que sempre tá apresentando discos surreais! “Raisans” e “The Lung” são as minhas preferidas… O disco é só o segundo dos caras. E nada mais é que só mais um dos discos fodas da época áurea da SST Records.
Ouça “The Lung”:
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DANILO SEVALI (vocal e baixo)
“Tarefa meio complicada eleger um Top Cinco, posso cometer injustiças, mas essa é uma resposta padrão pra todo o tipo de lista, portanto, bora lá para os ‘Cinco Magníficos’.
Quero fazer uma breve introdução sobre essa lista, pois todos sabem que a formação musical de uma pessoa se deve bastante às boas influências relacionada às amizades, aos bons amigos que indicam, compartilham e dividem suas experiências. Eu posso citar três pessoas que, em momentos distintos da minha vida, falaram o nome certo da banda certa, e são eles, respectivamente: Felipe Lima (ex-Fud) Samuel Rato (ex-Riverboys) Fernando Sanches (ex-Againe)”.
The Beatles – “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (1967)
Esse disco me apareceu de maneira tardia, e o “estrago” que fez me rende fortes emoções até hoje. Era um momento em que a molecada ouvia alucinadamente, desesperadamente o hardcore, era bumbo duplo e guitarra oitavada pra tudo que é lado, até que Felipe Lima me apareceu com essa doce obra-prima psicódelica do fabuloso quarteto em Cd-R, e ele gritava com a gente: “para de ouvir HC, é só HC HC, chega!”. Sou grato ao hardcore de algum jeito, mas sou muitíssimo mais grato ao Sargento Pimenta. A musicalidade, os ritmos, os instrumentos, as letras, a liberdade, tudo fez muito mais sentido, foi simples entender que evoluir é preciso.
Ouça “A Day In Life”:
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Pavement – “Slanted And Enchanted” (1992)
Dolorosamente evoluindo, o leque de bandas que passamos a escutar cresceu de uma forma bastante empolgante, tornou-se ilimitada, infinita. Lembro-me que as baladas do “The Blue Album” do Weezer me faziam chorar, todas aquelas guitarras, ouvíamos à exaustão, e queríamos mais. O Samuel Rato, que trombava a gente na época da faculdade, percebendo que nos identificávamos com esse nicho, deu uma atravessada boa na gente falando: “pô, vocês ficam falando aí de Weezer, ja conhecem o Pavement?”. O nome ficou grudado na cabeça, a curiosidade ficou atiçada, e dá-lhe procurar a tal banda. Na época, não era simples de baixar na web os discos, e curiosamente me deparei com um CD original do Pavement na casa de um chegado que eu nunca imaginei que possuiria tal gosto musical. Era o “Slanted And Enchanted”. Roubei emprestado, coloquei no meu CD player, ouvi inteiro, não entendi nada, fiz uma cópia tosca, enfiei na disqueteira entre tantos outros, devolvi o original pro meu amigo, e quase UM ANO depois, decidi dar mais uma chance para aquela loufaizera e tive uma epifania indie soberba. Ave Stephen Malkmus, Ave Pavement, até a morte.
Ouça: “Summer Babe (Winter Version)”:
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Superchunk – “Indoor Living” (1997)
Banda sugerida pelo Fernando Sanches, no momento em que estávamos gravando um EP do FUD. Foi em 2003. Notando que o Sanches era um cara de gosto refinado, que ja havia tocado (e tocava) em ótimas bandas, cheguei junto e perguntei qual banda ele estava ouvindo na atualidade; ele me respondeu sem pensar muito: Superchunk. Achei o nome curioso, remeti ao nome de uma extinta sessão de desenhos da Cartoon Network, chamada “Pedação”, em inglês era mesmo SuperChunk. Fixei o nome, pá! E olha a feliz coincidência, na mesma caixa em que encontrei o Pavement, lá estava um disco de capa azul, belíssima arte, intitulado “Indoor Living”. Roubei emprestado (devolvi depois), e esse já foi amor à primeira ouvida (?!?). Revolucionou minha alma, cada composição, um rife raro, aquele vocal agudo no ponto certo, os arranjos, o balanço da bateria. Eternos heróis que tive o prazer de assistir ao vivo e cumprimentá-los no backstage quando eles tocaram la pros lados de Mogi das Cruzes. Momentos!
Ouça “Nu Bruises”:
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Patife Band – “Corredor Polonês” (1987)
Achei esse disco num passeio despretensioso que eu estava fazendo na Galeria do Rock. Gostei da capa, gostei do nome, gostei do ano em que havia sido gravado. Já andava estudando e lendo algo sobre a Vanguarda Paulista e sabia que os tais irmãos Barnabé tinham grande influência no movimento. Peguei num esquema de fiado na loja duns ex-amigos, nunca paguei por ele, o que eu pago é um pau até hoje pra essa obra que escuto, escuto, escuto e não tem como enjoar. É só pedrada, uma atrás da outra, impressionante a mistura que fazem, algo entre o punk, improvisos jazzísticos, instrumentos de sopro e solos de guitarra. Gosto muito da canção “Poema Em Linha Reta” que cita um trecho do poema de Fernado Pessoa, musicado por esses loucos vanguardistas. Acho que esse álbum estará eternamente à frente de qualquer tempo, mesmo.
Ouça “Corredor Polonês”:
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Os Mutantes – “A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado” (1970)
Fiz questão de comprar o vinil, paguei caro num sebo lá em Porto Alegre, mas me orgulho muito de possui-lo. É a tal Tropicália, a tal Psicodelia Brasileira atingindo seu auge criativo. Em épicas composições, cantaroladas por Arnaldinho, Rita e Sérgio, que para mim, superam até mesmo alguns álbuns dos Beatles ou qualquer outro gringo que se propunha a fazer o mesmo na época. Existe um mistério naquelas timbragens, naquelas ambientações, orquestrações, parece que não foi feito nesse plano astral. É um disco pesado, ritmado, me proporciona sensações diversas, do desespero ao gozo, do medo à total resignação, como se realmente estivesse postado diante de uma entidade divina. Ave Lúcifer.
Ouça “Ave, Lúcifer”:
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DIOGO MENICHELLI (bateria)
Rancid – “…And Out Come The Wolves” (1995)
Esse album eu considero como o meu marco-zero no rock. Foi sem dúvida determinante. Lembro como se fosse hoje, em 1998, no caminho de casa para escola, discman na bochila, volume no talo e só parava de escutar quando chagava na sala de aula ou se a bateria acabasse. Foi assim umas duas semanas seguidas. Agradeço ao amigo Lopes pelo empréstimo.
Ouça “Time Bomb”:
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At The Drive-In – “Vaya EP” (1992)
Esse disco me causou certa estranheza a princípio. Depois de um tempo, e com mais calma talvez tenha entendido o lance dos caras. Eu já tocava, tinha uma banda com outros amigos e esse disco naquele momento (2001) foi de grande influência para todos nós por um longo tempo, e creio eu que positivamente, me despertou de um monte de conceitos sobre bateria e arranjos de composição.
Ouça: “Metronome Arthritis”:
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Arnaldo Baptista – “Lóki?” (1974)
Sem sobras de dúvidas, o coloco como o meu disco número um. Quando escutei pela primeira vez, já conhecia Os Mutantes, e inclusive o “Let It Bed”, do próprio Arnaldo, mas foi esse o disco que mais me chocou na música brasileira. Às vezes, fico meses sem escutá-lo só pra poder matar a saudade e ele continua soando muito especial pra mim.
Ouça “Honky Tonky”:
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Love – “Da Capo” (1967)
As músicas desse disco são lindas e os arranjos, geniais. É um disco perfeito e muito bem produzido na época. Quando escutei pela primeira vez, fiquei realmente emocionado.
Ouça “Orange Skies”:
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Yo La Tengo – “I Am Not Afraid Of You And I Will Beat Your Ass ” (2006)
Das bandas em atividade que tive o privilégio de assistir, Yo La Tengo é na minha opinião a mais talentosa. Esse disco foi o primeiro que conheci deles, por indicação inclusive dos parceiros do Hierofante. Escutei e ainda estudo muito esse disco, vale muito a pena. Detalhe foi que conheci pessoalmente a Georgia Hubley (baterista / vocalista) e fiquei ainda mais fã.
Ouça “I Feel Like Going Home”:
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Na próxima edição de “Os Discos da Vida”, Lê Almeida.
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Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Starfire Connective Sound”.
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