OS DISCOS DA VIDA: HOMINIS CANIDAE

Diego Albuquerque criou o Hominis Canidae em 2009. São apenas dois anos – espante-se, porque nesse pouco tempo, o blogue virou referência pra música alternativa brasileira. Veja bem: alternativa mesmo. Referência e um exemplo de dedicação.

“Este não é um blog operacional, é uma alternativa. Trata-se de um depósito virtual de discos, de preferência nacionais alternativos e independentes…”, diz o descritivo do próprio blogue.

Mas não há só bandas independentes ali, há coisas “mainstream” também, o que pode valer a ira de alguma dessas entidades retrógradas em busca dos últimos níqueis dos direitos autorais na música. O primeiro Hominis Canidae, por exemplo, foi excluído do Google (Blogspot) por isso.

Mas Albuquerque, mais do que querer provar alguma teoria, embora sem se esquivar de dar um tapa na cara do sistema vigente, seguiu em frente e montou uma versão mais “profissa” do site. O depósito continua ativo e enchendo cada vez mais.

Curioso é saber que Diego é biólogo e esse traço de sua trajetória pode ser identificado no nome do blogue, Hominis Canidae: “(..) é homem-cachorro, hiena e por aí vai. Na verdade, ele é o nomw de um álbum da banda paulista ‘Eu serei a hiena’, que eu gosto muito”, disse, em entrevista ao Estado de S. Paulo, em 30 de abril último. Vale ler a entrevista.

Eu mesmo conheço-o apenas via chat. Nunca vi Diego pessoalmente e nossos papos são pouco profundos, sempre falando de música mesmo. Dá pra sacar pouco sobre a figura. Porém, dá pra perceber com nitidez sua vontade de defender essa bandeira do alternativo nacional. O que é louvável.

A escolha pelo Hominis Canidae pra esta edição de “Os Discos da Vida” é pra mostrar que o Floga-se reverencia a importância do trabalho de Diego e seus colaboradores.

O resto quem pode explicar melhor é o próprio.

“É meio complicado escrever sobre “discos da vida”, não só pela ampla complexidade em torno da porra da frase, mas também é complicado quando você não tem realmente discos da vida, e sim bandas. Logicamente que tem um disco que acha o melhor daquela banda x ou y, mas normalmente é uma coisa meio de fase (o disco muda e a banda fica a maior parte do tempo).

Daí, quando o Fernando me pediu pra escrever sobre “discos da vida”, fiquei martelando sobre quais discos poderia falar ou deveria falar. Cheguei à conclusão que os discos mais marcantes seriam de bandas não tão marcantes assim e que a expressão “discos da vida” traz uma nostalgia enorme, então escolhi discos que me lembram momentos (não necessariamente ainda os escute ou sejam os melhores discos que já ouvi).

O Hominis Canidae é uma coisa bem simples, um depósito virtual de discos, apenas isso. A maior parte dos discos que lá estão são do independente nacional e estão lá com liberação das bandas (que nos enviaram material via e-mail ou simplesmente sabemos do seu posicionamento perante o download). Isso não quer dizer que pedimos autorização pra alguma coisa, o lance é apenas fazer girar a informação e a boa música nacional pro maior número de ouvintes e pessoas possíveis! Logicamente, agradecemos a atenção dada ao blogue, mas nunca achamos nada de mais no que fazemos por lá!

Eu nunca tive muito acesso em casa a bons sons, passei boa parte da adolescência sem internet e meu acesso musical gringo era bem radiofônico. Meio que instintivamente pensava que rádio nunca mostrava o que a banda tinha de melhor, então se eu curtia alguma música na rádio, me mandava pra lojinhas do centro da cidade pra descobrir o que a banda tinha de melhor realmente.

Bom, voltando a lista, então resolvi pensar em cinco discos nacionais e cinco gringos realmente importantes na minha existência terrena (isso não quer dizer que a banda seja boa ou que venha a ser relevante de alguma maneira na minha vida atual). Favor não atrelar isso diretamente ao Hominis”.

Vangelis – “Chariots Of Fire” (1981)
Tenho memórias minhas aos sete anos de idade colocando esse disco na vitrola e ouvindo do começo ao fim. Tenho absoluta certeza que minha queda pela música instrumental é muita culpa desse disco aí. Eu sei as notas (o nome das notas eu digo) e a ordem delas na música-tema toda! E eu acho o filme genial, não faço a minima ideia do número de vezes que eu vi o filme com a vitrola ligada no disco (e isso eu era guri, não foi depois da Internet e daquele papo bravo do Pink Floyd, não!).

Ouça “Chariots Of Fire”:

Luiz Gonzaga – “Quarqué Dia” (1965)
Outro vinil que eu lembro muito de ter ouvido foi um clássico do Luiz Gonzaga chamado “Quarqué Dia”, de 1965. Acho que deve ser o melhor LP dele, recheado de clássicos sertanejos pra ninguém botar defeito. Gonzaga era um letrista absurdamente relevante (quer dizer, nunca parei pra pesquisar se todas as letras eram dele mesmo), mas existem diversas verdades sociais nas letras do cara e esse vinil era corriqueiro na vitrola lá de casa. Mesmo que eu não tenha a menor paciência pro ritmo musical.

Ouça “Respeita Januário”:

Queen – “Live at Wembley ’86” (1986)
Pra fechar a caixa de vinis caseiros com alguma relevância na minha vida (principalmente infância e inicio de adolescência), não poderia deixar passar o “Live at Wembley ’86”, do Queen. Eu acho que o Fred Mercury é um ET e que ninguém nunca vai cantar nem perto do que ele cantava, sem contar o desempenho que o camarada tinha ao vivo. Eu respeito muito a banda toda, mas ele era muito foda! PS: queria uma red special.

Ouça “New Mind:

“Vamos pros tempos modernos, Internet e essas paradas todas, ou não, porque eu vou falar de bandas e CDs que eu tive acesso por intermédio de terceiros e provavelmente bem longe da Internet. Eu realmente não lembro bem das coisas, mas ai vão alguns bons discos!”

Radiohed – “Ok Computer” (1997)
Um clássico moderno, né? Todo mundo gosta de pelo menos três musicas deste disco, e gosta mesmo, de cantar de olhinho fechado e tudo mais. Eu posso dizer que gosto do disco todo, até rebobinando. Na real, eu acho o Radiohead uma banda absurdamente feliz porque consegue experimentar e ser pop ao mesmo tempo, ter publico, crítica, dinheiro, mulheres e ouro. (risos).

Ouça “Paranoid Android”:

NOFX – “The Decline EP” (1999)
Pra mim, uma das melhores músicas já feitas. A melhor musica do hardcore melódico mundial e totalmente representativo do meu terceiro ano colegial. Lembro que eu e alguns amigos fugíamos da aula pra um boliche que tinha por aqui logo quando abria o shopping pela manhã, várias vezes jogamos boliche ao som de “The Decline” (que em uma hora, você ouve quatro vezes apenas!). A letra é bem relevante e já demonstrava o declínio americano que vemos atualmente.

Ouça “The Decline”:

Weezer – “Blue Album” (1994)
“My Name Is Jonas” só não é a melhor música de abertura de um álbum porque “Gold Soundz” abre o “Crooked Rain” (né ela a primeira?!) (N.E: na verdade, a música é a sétima do disco “Crooked Rain, Crooked Rain”, de 1994, do Pavement). Mas este álbum do Weezer e o “Pinkerton” são dois álbuns dos mais divertidos que ouvi na vida. Tenho ótimos momentos ao som do Weezer, recordações incríveis.

Ouça “My Name Is Jonas”:

Violins – “Aurora Prisma” (2003)
Conheci a Violins em 2002, por conta de um pedaço da música “27 Carnavais”. Um pedaço porque roubei-a no Soulseek e resolveram não liberá-la por completo pra mim. Na real, eu já tinha ouvido falar do Violins And Old Books e do EP em inglês, mas não conseguiria associar uma banda a outra. Considero Beto Cupertino um dos melhores letristas do Brasil (facilmente, bem longe dos demais da geração dele) e esse disco tem um lirismo absurdo. Foi a primeira vez que comprei um disco na Monstro Discos (acho que foi a primeira vez que comprei pela net), fiz logo um pacote com cinco ou seis CDs.

Ouça: “Empresta-me O Ábaco”:

Dead Fish – “Afasia” (2001)
Melhor disco da melhor banda de hardcore do Brasil. O nome do disco já é matador, as letras e melodias são muito bem amarradas. Uma porrada atrás da outra, fechando a tríade inicial da banda com uma formação classuda (na minha opinião a melhor formação da banda, com o Murilo na guitarra). Me remete muito a uma casa de shows independente do Recife, chamada Docas, reduto dos hardcores e metais locais. Vi os memoráveis shows do SuperChunk e Lagwagon por lá, entre outros.

Ouça “Afasia”:

Los Hermanos – “Bloco Do Eu Sozinho” (2001)
É “melhores discos da vida”, né? Então, dá pra ser clichê: melhor disco de samba que já ouvi na vida. O disco todo é feito em samba, pode prestar atenção. Sem contar que foi um dos melhores shows de uma banda brasileira que eu fui, o show do Los hermanos no Armazém 14, fechando a conturbada turnê do segundo disco do bloco coletivo fora da gravadora.

Ouça “Veja Bem Meu Bem”:

Devotos do Ódio – “Agora Tá Valendo” (1997)
Direto do Alto José do Pinho, um dos CDs relíquias da música pernambucana. Respeito muito a banda, o disco, o local, o protesto e os dizeres naturais do Alto José do Pinho. Ouvi muito esse disco quando foi lançado. “Punk Rock Hard Core Alto José do Pinho” é um hino, segui ouvindo muito até 2005 e a sensação continua sendo a melhor possível. Ano passado saiu um livro com a historia da banda: aconselho procurar o “Devotos: 20 Anos” e dar uma lida, ótimos registro do faça você mesmo! Não vou nem falar dos shows, só me lembro de momento melhor com a Nação Zumbi de Chico, mas isso é outra história…

Ouça “Punk Rock, Hard Core Alto José do Pinho”:

Na próxima edição de “Os Discos da Vida”, Dorgas.

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Sobre A Máquina”.

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