É justo dizer que com “Ace”, lançado em abril de 2014 (leia resenha aqui), a Huey alçou-se a um patamar que a colocou como uma das bandas mais respeitadas do subterrâneo nacional. Mais do que isso, pra além do Brasil.
Ao gravar o disco nos Esteites, conseguiu um nível de qualidade invejável e não foi à toa: o produtor Aaron Harris, do Isis, identificou ali o potencial que a banda está hoje demonstrando em terra pátria.
Porrada, peso, consistência: três dos méritos que o quinteto paulista, instrumental e lírico, pois não simples, não fácil.
Essa identificação está bem pavimentada pela lista de Discos da Vida de cada um dos cinco integrantes. As escolhas incluem porrada, peso, consistência e uma dose de pop. Os integrantes formam um conjunto-união interessante: há pontos em comum, discos que aparecem em mais de uma lista (e note: ao invés de dez discos, cada um escolheu cinco apenas, uma tarefa bem mais árdua!), de modo que parece que a Huey nasceu mesmo antes deles próprios se conhecerem. A Huey sempre existiu, eles só não sabiam disso.
Daí que “Ace” só podia ser mesmo essa peça bem lapidada e coesa. São cinco cabeças pensando como uma só, com todas as suas diferenças e gostos diários, mas com as mesmas intenções, sem fronteiras entre elas, sem fronteiras pra banda. O mundo é o limite.
Foto que abre o post: Camila Miranda
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VINA (guitarra)
Kiss – “Destroyer” (1976)
Foi meu primeiro disco. Isso foi em 1983 e claro que, pela pouca idade, escolhi pela capa. Tenho até hoje o mesmo LP e ainda acho esse um puta disco. A partir daí, qualquer data festiva eu queria ganhar disco. Páscoa, aniversário, Natal, Ano Novo, Copa do Mundo, Dia das Crianças… Tudo era motivo pra pedir um LP de presente. É curioso porque eu nem sabia nada sobre a diferenciação de estilos e os presentes seguintes foram Slayer, Savage Grace, Icon, Venom, ou seja, nada a ver com nada, mas era tudo rock pesado e pra mim era isso que importava.
Ouça “Do You Love Me?”:
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Metallica – “Ride The Lightning” (1984)
Sempre que eu ia na casa de alguém queria saber onde ficavam os discos. Estávamos na casa de uns amigos dos meus pais e dessa vez não foi diferente. Lá fui eu fuçar nos discos até que o dono da casa chegou pra mim e disse: “vou colocar esse que acabei de comprar”. Era o “Ride The Lightning”. Eu era um moleque de onze anos, mas nunca mais esqueci o impacto de “Fight Fire With Fire”. Eu fiquei maluco por aquilo. Pra mim, o impacto que tiveram aqueles quatro caras tocando muito rápido pra época não tem como explicar.
Ouça “Fight Fire With Fire”:
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Vários – “Ataque Sonoro” (1985)
Foi o disco que firmou um dos meus pés no punk. Acho que o disco é de 85, mas eu ganhei uns anos depois. Nessa coletânea eu conheci Virus 27, Ratos de Porão, Cólera, Lobotomia e mais um monte de banda. É um dos LPs que eu não vendi na era do CD, tá comigo até hoje. É um álbum extremamente importante.
Ouça na íntegra:
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Napalm Death – “From Enslavement To Obliteration” (1988)
A gente sempre se reunia no fim de semana na casa de amigos e ficávamos lá escutando fita gravada de tudo quanto era barulho. Ele tinha comprado esse vinil e a primeira vez que eu ouvi foi o suficiente pro Napalm se tornar uma das minhas preferidas até hoje. É uma banda conhecida pelas músicas mais aceleradas, mas foi “Evolved As One” que fundiu minha mente.
Ouça “Evolved As One”:
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Deftones – “Around The Fur” (1997)
Talvez seja uma das unanimidades dentro do Huey e isso às vezes reflete um pouco no som da banda. Conheci pelo “Adrenaline”, mas o “Around The Fur” foi um dos discos que mudaram a minha vida. Ao vivo eles tocavam Bad Brains e Depeche Mode e isso era tudo o que eu sempre trazia comigo. De que, dentro da música que você gosta, não pode existir barreira e isso respinga muito nos rifes que eu escrevo. A primeira vez que ouvi esse disco foi algo como: “ok, agora tudo tá na órbita certa”.
Ouça “Lhabia”:
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VELLOZO (baixo)
Paul McCartney – “All The Best!” (1987)
Por quê não Beatles? Por quê uma coletânea? Porque eu tinha oito, nove anos de idade quando ele lançou esta coletânea e é uma das primeiras recordações que eu tenho de entrar numa loja, olhar pra o meu pai e falar: “pai, quero a fita daquele cara que eu fiquei vendo ontem na TV”. Ouvi esse K7 até rasgar no meio, é uma lembrança que vai além da questão “isso é legal, isso não é legal”, poderia citar o “Thriller”, do Michael Jackson, também.
Ouça: “Band On The Run”:
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Rush – “Moving Pictures” (1981)
A música “Tom Sawyer”, a famosa “música do MacGyver”, um seriado dos anos 80, foi meu primeiro contato com este trio de “nerds” incrível (nada contra nerds, muito pelo contrário). Depois, num belo dia, eu aluguei o CD “Moving Pictures” (sim, alugar CD era a melhor saída em tempos em que não existia a Internet) e quando ouvi a instrumental “YYZ”, fiquei completamente maluco, mas não esperava que um dia eu faria parte de uma banda instrumental.
Ouça na íntegra:
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Iron Maiden – “Live After Death” (1985)
Foi o disco que definitivamente despertou meu amor pelo baixo, por querer compor e o lance de “tenho que montar uma banda”. Sei que é quase uma “coletânea” por ser um show, mas foi exatamente essa energia de ser ao vivo que me fez querer viver isso.
Ouça na íntegra:
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Alice In Chains – “Dirt” (1992)
Eu não podia deixar de citar alguma banda do início dos anos 90 e que fazia parte do movimento musical mais marcante que eu vivi, que foi o grunge. Eu me identificava com muitas bandas, não só as mais famosas, mas o Alice In Chains sempre foi aquela que me pegou mais e esse disco é bom do início ao fim, pesado e sujo.
Ouça “Rooster”:
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Tools – “Lateralus” (2001)
Não tem muito bla bla bla aqui, não. Acho um disco foda demais em tudo. Composições, timbres, habilidade dos músicos e do vocal, fora a produção, que eu acho impecável. Mas é outra pegada, costumo dizer que é a arte de não ter pressa em fazer música, os climas e a preparação para chegar em algum rife mais marcante. Pena que o Tool lança um disco a cada encontro lunar com o solstício solar de Marte, situação que ocorre a cada 2765 anos.
Ouça “Parabola”:
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MINORU (guitarra)
Aerosmith – “Pump” (1989)
Minha mãe sempre foi professora de inglês, e um dos métodos da escola em que ela trabalhava era tocar algumas músicas pros alunos acompanharem as letras. Tinham milhares de fitas K7 em casa e uma das músicas era “Janie’s Got A Gun”. Gostava muito de ouvir e por causa dessa música comecei a ir atrás de um monte de bandas.
Ouça: “Janie’s Got A Gun”:
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Nirvana – “Nevermind” (1991)
Não está entre meus discos favoritos, mas ele tem total importância no meu primeiro contato com a guitarra. Vi um amigo “tocando” a intro de “Come As You Are”, tive que aprender a tocar no mesmo instante, mesmo nunca tendo encostado a mão numa guitarra.
Ouça “Come As You Are”:
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Alice In Chains – “Facelift” (1990)
Era pesado e sombrio, diferente de tudo que tocava na época. Passava horas em casa tentando tocar esse disco de cabo a rabo.
Ouça “We Die Young”:
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Sepultura – “Chaos A.D.” (1993)
O Rato, que estudava comigo no colégio, me emprestou esse disco e era uma coisa muito diferente de tudo que eu já tinha escutado, passávamos o fim de semana inteiro tocando Sepultura no quartinho da casa dele. Ficávamos uns dois dias surdos de tanto barulho.
Ouça “Refuse/Resist”:
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Deftones – “Around The Fur” (1997)
Esse disco mudou completamente a minha vida em muitos sentidos. Foi meio que uma bola de neve desde que vi “My Own Summer” na MTV pela primeira vez. Corri na mesma semana pra Galeria do Rock atrás desse disco. Pra mim, o Huey só existe por causa desse disco, ele que me fez querer ter uma banda, por causa dessa primeira banda conheci o Vina, o Dane e o Fê.
Ouça “My Own Summer”:
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RATO (bateria)
Pantera – “Cowboys From Hell” (1990)
Esse foi um daqueles discos que marcaram muito a minha vida. Quando escutei a batera do Vinnie Paul fiquei pasmo, um dos melhores batera que já vi. Isso sem falar nos rifes e o vocal do Phil Anselmo, que são destruidores.
Ouça: “Domination”:
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Sepultura – “Beneath The Remains” (1989)
Graças a esse disco eu comecei a tocar bateria. Um dos melhores que eu já ouvi. Até hoje quando ouço é do início ao fim.
Ouça “Inner Self”:
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Fear Factory – “Demanufacture” (1995)
O disco inteiro é genial, mas quando ouvi “Replica” pela primeira vez, foi incrível. Ficou marcado, pois escutava umas 30 vezes por dia.
Ouça “Replica”:
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Biohazard – “Urban Discipline” (1992)
Bom, lembro até hoje que um amigo meu me apresentou esse disco, ficou marcado até hoje. No dia seguinte, já estava na Galeria comprando o “Urban Discipline”.
Ouça “Shades Of Grey”:
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Sepultura – “Chaos A.D.” (1993)
Esse clássico dispensa apresentações. É o melhor disco que eu já escutei na minha vida. Acho que vai ser difícil surgir algum outro disco, na minha opinião, melhor que esse.
Ouça “Territory”:
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DANE EL (guitarra)
Led Zeppelin – “IV” (1971)
Por sorte, esse disco estava no acervo em casa antes de eu nascer. Ouvia muito e ficava impressionado com a diversidade de climas sonoros em um mesmo disco. É a banda que considero mais completa do mundo.
Ouça: “Black Dog”:
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The Beatles – “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (1967)
Mesmo caso de já ter o disco em casa, comprado pelos meus pais. Ainda novo, gostei do clima de psicodelia e cores musicais, desde a capa até as experimentações do produtor George Martin. Mas nunca fui um beatlemaníaco, tive a fase de conhecer e admirar. Acho difícil encontrar alguém que iniciou uma vida na música sem ter ouvido Beatles.
Ouça “With A Little Help From My Friends”:
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Black Sabbath – “Paranoid” (1970)
Um dos primeiros discos que ouvi através de amigos mais velhos, em vez de já ter em casa. Aquela fase de gostar de desafiar o medo me fez gostar muito do clima pesado e sombrio. Era como se toda vez que o disco tocasse, eu entrasse em um trem fantasma. Toca a mítica em volta da banda, sobre satanismo e acontecimentos obscuros me deixava ainda mais curioso e atento no próprio som. Influência que carrego até hoje em qualquer rife que faço.
Ouça “Electric Funeral”:
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AC/DC – “Back In Black” (1980)
Com o AC/DC, eu conseguia enxergar uma mistura do rock malvado com o despojamento, saindo um pouco do terror black sabbazístico. No auge de aprender guitarra, percebi que o rock poderia ser também divertido, balançando a cabeça e imitando aqueles passos desengonçados do Angus. Qualquer criança guitarrista se identifica com o visual sempre infantil dele e a simplicidade de acordes, onde o bom gosto supera os excessos.
Ouça “Back In Black”:
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Faith No More – “The Real Thing” (1989)
Foi um disco que me tirou de um saudosismo das bandas consagradas da formação roqueira/metaleira. Já adolescente, pude presenciar algo que nascia na minha geração, em vez de fazer parte de um catálogo obrigatório de iniciação musical. Me pegou de cara a mistura de uma guitarra pesada, com uma cozinha mais groove e um vocal tão versátil, que inclusive possui projetos tão diferentes, que continuam perpetuando minha admiração. Uma das minhas bandas favoritas até hoje, sem dúvida.
Ouça “Underwater Love”:
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Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Luiz Mazetto”.