OS DISCOS DA VIDA: LÊ ALMEIDA

A gente sabe muita coisa do Lê Almeida.

Ele é o homem que criou a “Loufailândia” mais contundente do Brasil, na Baixada Fluminense, com sua Transfusão Noise Records. Através do seu selo, ele lança uma série de bandas que adoram guitarras distorcidas e afins. Ele criou um “circuito” lo-fi brasileiro. Ele acaba de lançar seu primeiro disco cheio, o irretocável “Mono Maçã”. Ele é tido por muitos como “mestre” ou “gênio”. Ele tem ideias malucas que todo mundo adora. Ele é um abnegado que mereceria uma estátua se fosse estadunidense ou europeu. Ele cativa até os gringos, dando entrevistas pra sites e blogues além-fronteira. Ele é o cara do rock alternativo nacional. Ele adora bicicletas. Ele é modesto e acha que nada é com ele.

Mas uma coisa do Lê Almeida a gente não sabe: afinal de contas, que músicas moldaram seu caráter sonoro? Quais são suas preferências? Que discos mudaram sua vida?

Nessa nova edição de “Os Discos da Vida”, Lê Almeida responde essa pergunta e, acredite, surpreende quem acha que o lance dele é só lo-fi. Há um ou outro disco que você não conhecendo-o no dia-a-dia pode se espantar. Mas esse é o espírito.

Com essas escolhas, Lê Almeida é ainda mais “o cara”. Tanto que a seção abriu uma exceção pra ele…

“Eu tenho que fazer 3 mensões cara, nem vem!

Black Sabbath – ‘Vol.4′ (Pra mim esse disco é a melhor síntese de guitarra pesada dos anos 70, só isso!)
Eric’s Trip – “Warm Girl Belong’ (A junção de dois EPs absurdamente barulhentos e perfeitos)
Bikini Kill – ‘Singles’ (Sempre me fez perder a cabeça, o tipo de agito que não tem fim)”

Guided By Voices – “Alien Lens” (1995)
Meu primeiro contato foi de forma ultra significativa ouvindo pequenos trechos do disco numa loja. Foi tipo um total estalo do que eu queria fazer e do que eu vinha fazendo em termos de gravações caseiras e canções curtas ou não. Chapei de mais com esse disco. Até hoje não consigo enjoar ou ouvir passando as faixas, disco perfeito. Foi só o começo da minha fixação por GBV.

Ouça “My Valuable Hunting Knife”:

Hüsker Dü – “Flip Your Wig” (1985)
Descobri esse disco por volta dos meus 15 anos em um k7 todo abafado e tosco. Mas sempre foi tocante. Na época, eu nem fazia idéia de como era a banda e só conhecia os discos bacanas nos k7s. Lembro de sacar depois outros vários discos do Hüsker e me tornar um fã, porém o “Flip Your Wig” vai sempre ser “aquele” disco.

Ouça “Makes No Sense At All”:

Flake – “Spork” (1995)
Não lembro bem a partir de quando eu comecei a curtir o Flake, mas o Shins, que é a banda que se formou depois, eu já curtia muito. Esse EP de estréia deles é só guitarra linda, vai de um Superchunk ao Guided By Voices sem esforço, e a gravação lo-fi ainda ajuda a maltratar o coração. É o tipo de disco que nunca sai do meu tocador de MP3. Na real, é o disco que mais me deixa de bom humor. Elevador de humor…

Ouça “Pull Out Of Your Head Size”:

Second Come – “You” (1993)
Eu estudava numa escola onde tinham várias camaradas que curtiam som e um deles me emprestou o “You” em k7, e só me falava o quanto o cover da Madonna era animal. Foi amor à primeira vista e o k7 ainda tinha o “Time Will Burn”, do Pin Ups, do outro lado. Esse disco definiu um pouco a minha maneira de cantar com mais melodia e de aumentar ainda mais as guitarras. Hoje eu tenho o “You” em vinil e o grande prazer de ter conhecido quase todos da banda, muita honra! (N.E.: Lê Almeida gravou uma cover de “Run Run” pro recente tributo ao Second Come)

Ouça “Run Run”:

Dinosaur Jr. – “You’re Living All Over Me” (1987)
DDisco eterno, daqueles que nunca perdem a validade. Eu demorei até sacar esse disco na discografia, pois na época o “Where You Been” era o disco mais fácil de se achar. Mas a partir de um VHS, com um show dessa fase que eu tinha, a busca se tornou feroz na época. Pra mim, esse disco é tipo uma eterna busca de melodias perfeitas e guitarras matadoras. Fez e sempre vai fazer a minha cabeça.

Ouça “Kracked”:

Jay Reatard – “Blood Visions” (2006)
A capa já é chocante e diz a que veio. Já o som provoca ainda mais. É de se chapar de cara já com a intro de “Blood Visions”, ao mesmo tempo que é furioso é bonito. Eu curto o disco inteirinho, tá na minha lista de disco pra se ter em vinil zerado. “My Shadow” é trilha de briga, daquelas com sangue escorrendo pelo rosto. Pena o Jay ter morrido jovem, mas a parte boa é ter infinitos discos e projetos dele por ai, tudo que ele fez é genial!

Ouça “My Shadow”:

Kiss – “Hotter Than Hell” (1974)
Esse disco era aquele que eu sempre buscava conhecer na juventude (tipo 15 anos), já que tinha acolhido alguns outros vinis do Kiss do meu pai e adorava de uma forma inexplicável. Com o “Hotter Than Hell”, eu só aumentei a minha admiração pela banda, sempre achei e acho um baita disco significante dentro do roque setentista que rolava nessa época. Foi muito bom pra mim ter tido um tipo de aprendizagem com o Kiss em casa ao invez de ter tido a clássica aventura com Beatles que todo garoto tinha.

Ouça: “Parasite”:

Best Coast – “Make You Mine EP” (2009)
Conheci o Best Coast em um EP anterior a esse, mas o ‘Make You Mine” bateu forte no meu coração. É completamente redondo. De fato, acho que na véspera, antes do disco sair, eu fiquei totalmente achando que iria vir um álbum todo nessa mesma onda chapada lo-fi, mas não acabou sendo. Até demorei um pouco a simpatizar com o disco cheio por causa desse EP. Amizade e amor, acho que dá pra conquista alguém com essas quatro canções, fácil.

Ouça “Feeling Of Love”:

Pavement – “Slanted And Enchanted” (1992)
É a essência, não dá pra não sentir algo que seja somente inexplicável. “Slanted And Enchanted” é o disco abridor de mente, é tudo lindo e bem feito. O lo-fi é um lo-fi diferente do Guided By Voices, porém mágico da mesma forma e catequizador ao extremo. Se você quiser converter uma alma o disco é esse. Descobri no k7 na persistência de um amigo. Lembro dos vários amigos feitos ao longo da vida através do Pavement, devo muito não só à banda mais também a esse disco.

Ouça “In The Mouth A Desert”:

Built To Spill – “Nothing Wrong With Love” (1994)
Foi o segundo disco que eu conheci do Built To Spill e o disco responsável pela minha total descoberta de tudo o que eles já tinham feito. “Nothing Wrong With Love” é completo dentro do contexto melodia. Não é o disco mais guitarrada da banda, mas pra mim é o mais bonito e bem lapidado, bem feito mesmo. “In The Morning” é manhã de sol pura!

Ouça “Car”:

Na próxima edição de “Os Discos da Vida”, Sobre A Máquina.

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Hierofante Púrpura”.

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