“Este livro organiza tudo. Naquela mesma noite do lançamento, falei que queria publicar o livro – mesmo sem ter a Coleção na Edições Ideal, e aliás sem falar com o chefe da editora – logo depois do Luiz me apresentar o projeto revelando dúvidas quanto a sua realização, se valia a pena ou não… Do nosso papo, saquei que o livro sairia, o que me foi confirmado poucos dias depois, após a primeira leitura – vai sair e pela minha etiqueta. Porque eu precisava ler o livro de verdade e, a partir dali, não conseguia sequer conceber outro título para integrar o pacote de lançamentos da Coleção Mondo Massari (…). Escrevo essa apresentação poucos dias depois de ver o Pelican no Slim’s em San Francisco – casa cheia, incluindo alguns ilustres aqui presentes (…). Nessa noite, tive a nítida e saborosa sensação de que ali, naquela sala repleta de especialistas e estudiosos, ninguém estava mais bem informado do que eu.”
Assim escreve Fábio Massari na contracapa do livro “Nós Somos A Tempestade”, de Luiz Mazetto, que saiu em setembro de 2014, pela Edições Ideal, com assinatura da coleção Mondo Massari.
“A ideia para o livro surgiu lá pelos idos de 2012, um tempinho depois de eu publicar uma entrevista com o Scott Kelly, do Neurosis, que teve uma ótima repercussão. A partir daí, passei a pesquisar e vi que não tinha nenhum livro sobre essa ‘cena’ de metal alternativo e comecei a pensar em fazer isso, ainda de que forma independente. Aí me programei pra, no começo de 2013, focar nisso, e consegui várias entrevistas durante o ano. No final de 2013, já com umas quinze entrevistas feitas, fui no lançamento do (livro de Fábio Massari) ‘Mondo Massari’, pra saber se o Massari, que eu já sabia que curtia muito esse tipo de som, toparia por acaso participar do livro de alguma forma, talvez fazendo o prefácio. Pra minha sorte, ele gostou bastante da ideia e do projeto, levou até o pessoal da Ideal e o resto é história, como dizem por aí”, conta o próprio Luiz Mazetto.
Ele é jornalista formado, tem ampla colaboração com o reconhecido e apreciado Intervalo Banger, é guitarrista numa banda (a Meant To Suffer) e agora lança seu primeiro livro.
“Nós Somos A Tempestade” traz em torno de trinta entrevistas com bandas e personalidades que ajudam a formar uma ampla visão do que é o “metal alternativo”, como ele mesmo diz. Estão lá papos com grupos como Melvins, Black Flag, Neurosis, Eyehategod, Converge, Mastodon, Isis, Dillinger Escape Plan etc.
Algumas são inéditas. Outras já haviam sido publicadas na Internet: “acho que metade tinha sido publicada na Internet antes, e a outra metade foi feita especialmente para o livro. Mas atualmente todas só estão disponíveis no livro já que as que estavam na web foram deletadas”, diz. Já outras, muitas outras, estão no seu novo site, o Contra Corrente.
É um tratado pros fãs do estilo e uma bíblia pra quem quer se iniciar.
Pra conseguir o livro, basta correr ao site da Ideal Shop, ou procurar em livrarias especializadas (ou grandes, como a Saraiva).
Em 2016, Mazetto lançou o volume 2 do livro (veja aqui), com novas e imprescindíveis entrevistas exclusivas.
Pra marcar o lançamento, o Floga-se chamou o autor pra que ele listasse aos leitores quais seriam seus Discos Da Vida, álbuns que marcaram sua personalidade e que, de uma forma ou de outra, o levaram a catalizar sua profissão em prol da informação musical, culminando no livro.
Você pode até achar que imagina o que predomina na lista, mas terá uma ou outra surpresa.
LUIZ MAZETTO
Led Zeppelin – “Led Zeppelin II” (1969)
Clichê pra caramba começar com Led Zeppelin, ainda mais esse disco, mas é a vida. Já conhecia a banda e gostava, mas a primeira vez que ouvi aquela crescida da “Thank You” com a bateria absurda do John Bonham, numa manhã de domingo chuvosa em Araras, interior de São Paulo, quando tinha dez anos, foi definitivamente um ponto de virada na minha vida. Gosto mais do “Led Zeppelin III” e do “Houses Of The Holy”, mas esse é o mais marcante por isso tudo.
Ouça “Thank You”:
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Iron Maiden – “Iron Maiden” (1980)
É um disco que só fui ouvir depois de passar por toda a fase com o Bruce Dickinson, porque era bem moleque quando conheci a banda e ficava mais atrás dos clássicos que o pessoal falava tanto, como “The Number Of The Beast” e “Powerslave”. Mas sinto até hoje o “poder” do rife inicial de “Prowler” abrindo o disco e das músicas mais estranhas, como “Remember Tomorrow” e “Strange World”, que não se parecem com nada que eles gravaram depois. Virou meu álbum favorito da banda meio que na hora e continua sendo até hoje.
Ouça “Prowler”:
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Sepultura – “Chaos A.D.” (1993)
Primeiro disco que ouvi dos caras, me marcou muito e é influência até hoje no meu jeito de tocar, com rifes mais simples e diretos. Se já era um disco inovador por tantas coisas pra quem já ouvia música há muito tempo, imagina pra um moleque de onze anos começando a descobrir o lado mais pesado do metal. Continuo achando o melhor deles, apesar de gostar demais do “Arise” também.
Ouça “Slave New World”:
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Deftones – “White Pony” (2000)
Esse conheci quando era mais adolescente e o new metal estava estourando e insistiam em colocar o Deftones nesse meio. Já conhecia as músicas mais famosas do “Around The Fur” principalmente, mas a primeira vez que vi o clipe de “Changes (In The House Of Flies)” na MTV, lembro que pensei: “preciso comprar isso!”. Hoje tenho todos e já fui a uns cinco shows, tudo graças a esse disco que me fez ver como eles eram mais do que apenas mais uma banda de new metal.
Ouça “Changes (In The House Of Flies)”:
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Soundgarden – “Superunknown” (1994)
Meu disco favorito dos grunges todos – um pouco à frente do “Dirt”, do Alice In Chains. Comprei por cinco reais em uma locadora que estava se desfazendo do estoque lá no interior, na saudosa Araras. Lembro que teve um impacto muito grande em mim e nos meus amigos também, que sempre pediam emprestado – isso é claro, numa época pré-Napster e gravadores de CDs acessíveis. E tenho esse CD de cinco contos até hoje.
Ouça “Spoonman”:
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Metallica – “Master Of Puppets” (1986)
Sim, o Lars é um merda e a banda tá cada vez pior, mas esse disco (e tudo que veio antes) valem mais do que barras de ouro. Só a intro de “Battery”, com aquele começo pesadíssimo em seguida, já valem, mas ainda tem mais, muito mais! O rife principal da “Master Of Puppets” é uma daquelas pequenas obras-primas do metal, arrepia até hoje.
Ouça: “Battery”:
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Black Sabbath – “4” (1972)
Sempre gostei do Sabbath, que é uma das bandas favoritas do meu pai junto com o Deep Purple. Mas quando era moleque ouvia mais o “Paranoid” e os discos com o Dio. Isso até ouvir o “Vol 4” no colegial e tudo mudar com aquele começo hipnótico da “Wheels Of Confusion”. Meu favorito até hoje, mostra todas as “caras” da banda, incluindo “Cornucopia” e “Changes”, além da música que mais ouvi na vida toda: “Snowblind”.
Ouça “Wheels of Confusion/The Straightener”:
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Bad Brains – “Bad Brains” (1982)
Quando era mais novo, sempre fui mais ligado ao metal e o rock clássico, como deu pra ver. Isso até conhecer esse primeiro disco do Bad Brains. Até hoje acho impressionante, independente de ser encarado como um disco de hardcore ou de música pesada em geral, ainda mais por ter sido gravado naquela época. Muito, muito à frente do seu tempo.
Ouça “Pay To Cum”:
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Neurosis – “The Eye Of Every Storm” (2004)
Comecei a ouvir o Neurosis por causa do Ozzfest, no fim dos anos 1990 (eles estavam no primeiro CD do festival com Sabbath, Sepultura e Slayer, entre outras), mas só fui entender a banda de verdade quando estava no primeiro ano da faculdade, em 2004, justamente com o “The Eye Of Every Storm”, que não é o melhor disco deles, mas foi a porta de entrada sem volta pra uma banda que mudou a minha vida como poucas.
Ouça “Burn”:
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Neil Young – “On The Beach” (1974)
Já conhecia o “Harvest” e algumas outras coisas dele solo e com o Crazy Horse, mas foi esse disco, que escutei por meses sem parar, que fez dele um dos meus cantores favoritos e abriu caminho para ir atrás de outros cantores como Nick Drake, Leonard Cohen e Townes Van Zandt.
Ouça “Revolution Blues”:
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Na edição anterior, “Os Discos da Vida: The Arctic Flow”.