OS DISCOS DA VIDA: MACACO BONG

Resumir a história de Bruno Kayapy em poucas linhas não é um troço muito fácil. O cidadão tem tanta história, por conta do Macaco Bong e do seu envolvimento com o Fora do Eixo, que é melhor você ouvir ele mesmo contar, numa exclusiva que deu ao podcast “O Resto É Ruído” (em duas partes: parte 1 aqui e parte 2 aqui).

Mas dá pra nortear da seguinte forma, como ele encerra aqui sua lista de “Os Discos Da Vida”, referindo-se ao disco de estreia da banda: “minha primeira experiência como músico dentro de um estúdio e foi eleito em primeiro lugar dentre os vinte e cinco melhores álbuns nacionais pela revista Rolling Stone. Inacreditável!”.

Sim, inacreditável que uma banda saída literalmente de fora do eixão Rio-São Paulo-Brasília-Belo Horizonte pudesse ter o alcance que teve, centralizador que o Brasil é. Talento, sem dúvida. Suor, é fato. Muita batalha.

O Macaco Bong começou em 2004, 2005, em Cuiabá, capital do Mato Grosso. Tinha Kayapy, Ney Hugo e Ynaiã Benthroldo. Se você ouviu a longa entrevista pro “O Resto É Ruído”, saberá o que culminou pra só Kayapy sustentar o Macaco Bong, após as tormentas, e renascer com Eder Uchôa e Igor Jaú (uma banda e tanto, como o Floga-se comprovou ao vivo recentemente).

Kayapy, até aqui, venceu as adversidades e segue em frente. Não do zero, porque muita coisa boa se sustentou na sua intensa carreira, daqueles tempos pro agora. Mas, mais forte, ele pode olhar pra trás e saber onde pisa, pra construir seu futuro.

Além das histórias, há a música, que se confunde, é certo, porém é exatamente ela que faz o artista. Aqui, ele lista os dez discos que pôde listar (por certo, há muitos outros) e que de alguma forma moldaram o artista trabalhador-pedreiro-talentoso-intrigante que é hoje.

Guitarristas, discos e som alto. O Kayapy músico nasceu mais ou menos disso.

BRUNO KAYAPY

Michael Jackson – “Thriller” (1982)
O solo de guitarra em “Beat it” do Eddie Van Halen! o que fazer com uma criança de cinco anos ouvindo aquilo?! Ali baixou o trem em mim… Começa por aí…

Ouça “Beat It”:

Nirvana – “Nevermind” (1991)
“Territorial Pissings” foi meu primeiro contato com a guitarra. O álbum foi o que me inspirou em sonhar montar uma banda um dia!

Ouça “Territorial Pissings”:

Black Sabbath – “Sabbath Bloody Sabbath” (1973)
Toni Iommi foi quem abriu a minha mente no quesito MELODIAS! Foi o primeiro álbum do Sabbath que ouvi. tinha seis anos de idade, era como um sonho ouvir cada segundo deste disco com aquela idade. Lembro-me como se fosse ontem a energia que “A National Acrobat” me arrebatava e me arrebata até hoje, inclusive. Black Sabbath é o meu Beatles, por isso não cito nenhum disco dos Beatles como um dos principais da minha vida, nem Velvet Underground ou Dylan… Meu negócio sempre foi Black Sabbath, por ser a primeira banda de rock que ouvi na vida! Ouço toda semana, foi o acaso, e até hoje são meus guias, sempre quando estou diante de uma “encruzilhada” com a música, penso: “o que Toni faria?” (ri).

Ouça “A National Acrobat”:

Motorhead – “Sacrifice” (1995)
Peguei este álbum quando chegou às lojas. Adquiri o meu, em torno dos meus dez anos de idade. Ouvia sem parar. Motorhead era a minha droga predileta de infância. Sagrado, ouvia todo “santo” dia!

Ouça “Sacrifice”:

Sepultura – “Roots” (1996)
Tenho uma consideração muito especial com este álbum do Sepultura, não por apenas ser o que ele se tornou, sendo um divisor de águas na história do heavy metal mundial e pela obra-prima que é em termos gerais. Mas o que sempre foi curioso deste álbum pra mim, foi que eles conceberam ele a cem quilômetros de onde morei e cresci, em um município indígena em Mato Grosso chamado Pimentel Barbosa, próximo a Cuiabá, em meados da década de 90. Essa relação próxima com coisas que a gente admira artisticamente sempre se tornam especiais, culturalmente falando. Ainda mais se tratando de uma banda de heavy metal, pra gente é o mesmo que os Beatles terem ido pré-conceber um disco com os índios em MT como fizeram na Índia, se tratando de tudo aquilo que ¨Roots¨ representou pra música mundial.

Ouça “Roots Bloody Roots”:

Pantera – “Cowboys From Hell” (1990)
Esse disco em especial, mais toda a discografia completa da banda. Dimebag é o guitarrista mais influente em toda a minha vida. Quando conheci Pantera ouvia “Domination” sem parar! E como já tocava guitarra em casa, foi uma escola pra mim tirar de cabo a rabo aquelas músicas todas dos discos do Pantera… Dime forever!

Ouça “Domination”:

strong>Slayer – “Reign in Blood” (1986)
Quando conheci Slayer, o negócio ficou sério. Dali, fui pra King Diamond, Mercyful Fate, Sodom, Nuclear Assalt, Possessed e do trash metal passei rapidamente depois pelo death metal, mas desemboquei direto no black metal – que sempre achei mais coeso apesar de sujo. Meu berço é Jeff Hanneman e Kerry King. Pra mim, sempre serão exemplo em como se compor um bom rife de guitarra!

Ouça: “Criminally Insane”:

Dark Funeral – “Vobiscum Satanas” (1998)
Dark Funeral foi um divisor de águas. Apesar da minha criação vir do heavy metal e do rock’n’roll, quando ouvi “Enriched By Evil” eu estudava música erudita, em especial a linguagem do chorinho e música flamenca e sempre muito Jazz – Charlie Parker, Paco de Lucia, Raphael Rabello, Baden Powell. É estranho associar o black metal ao jazz, chorinho e música flamenca, mas são linguagens que possuem muitas semelhanças estruturais harmonicamente falando. O que notei de semelhante ali foi que ambas adotam da mesma esfera tonal, aplicam harmonias e melodias consecutivas, sempre juntas e esse estilo determinou totalmente o meu estilo de tocar guitarra. esse álbum foi um divisor de águas na minha história com a guitarra, dali mergulhei no jazz e fusion por incrível que pareça. Passei a apreciar melhor outros estilos também, como o bolero. Estéticas sonoras à parte, sempre pensei dessa forma! Uma coisa é o estilo, outra coisa é a música.

Ouça “Enriched By Evil”:

Krisiun – “Apocalyptic Revelation” (1998)
Quando tinha treze anos, assisti a um show do Krisiun, lançando este álbum. Foi dali que entrei em minha fase death metal. Assim como o Black Sabbath, o Krisiun foi tipo um “Rebirth” na minha esfera musical. Eu estava meio de saco cheio dessa coisa de ficar estudando! Eu queria montar uma banda logo… Mas demoraria ainda mais cinco anos pela frente até surgir o Macaco Bong. O Krisiun mostrou pra mim uma pegada mais forte e real do mundo da música, pude falar com os caras depois do show, trocar idéia, falar de guitarra, tomar umas. Comprei o meu disco e camiseta direto da mão dos caras e ver os caras ali no rala que eu via nas revistas e rodando e tocando por aí pelo mundo foi muito inspirador e determinante em toda a minha vida. O Krisiun, no final das contas, foi a banda que me inspirou a montar o Macaco Bong, em todos os formatos.. Ser correria diante de tudo aquilo que for necessário, power trio, som porrada, vida simples, feijão com arroz… Com eles, entendi o significado da música na vida de uma pessoa enquanto seres humanos em todos os aspectos. O exemplo maior pra mim, na prática, de como ser um verdadeiro músico!

Ouça “Kings Of Killing”:

Macaco Bong – “Artista Igual Pedreiro” (2008)
Primeiro álbum da minha banda, primeiro disco gravado de minha carreira, minhas primeiras composições gravadas, minha primeira experiência como músico dentro de um estúdio e foi eleito em primeiro lugar dentre os vinte e cinco melhores álbuns nacionais pela revista Rolling Stone. Inacreditável!

Ouça “Amendoim”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Régis Tadeu”.

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