OS DISCOS DA VIDA: MAVKA

A segunda edição do “Discos da Vida” traz o quarteto sorocabano Mavka, uma das melhores surpresas de 2011. A banda lançou no começo do ano o seu primeiro EP, “Mavka”, e expôs uma música recheada de influências, que passam por Hole, Sonic Youth, Killing Joke e… Bom, não adianta ficar adivinhando ou elucubrando.

Sonic Youth todo mundo já sabe que a banda adora. O Mavka vai participar nesse sábado, dia 16 de julho de 2011, do projeto Big Bands do Asteroid Bar, em Sorocaba, tocando apenas Sonic Youth. Eis aqui o setlist que vai rolar.

“Os Discos da Vida”, porém, vai resolver essa parada de uma vez por todas: afinal de contas, quais os discos que fizeram a cabeça de cada um dos integrantes da banda? Cada um teve que escolher cinco, numa tarefa que se mostrou insana, árdua, penosa pelo o que se teve que deixar de lado, excluir na dor, mas que resultou numa bela lista de referências.

Veja aqui – com uma breve descrição das escolhas:

Bea Rodrigues (baixo e voz)

– Hole – “Live Through This”
– Pearl Jam – “Vitalogy”
– Sonic Yough – “Sonic Nurse”
– Silverchair – “Neon Ballroom”
– Queens Of The Stone Age – “Songs For The Deaf”

“Não necessariamente em ordem cronológica, de importância ou ordem alguma. A voz daquela vagabunda me mostrou qual a postura que eu queria ter pra minha vida – e mais importante que isso, a que eu não queria. Eddie Vedder foi mais pai e mãe do que meus pais. Daniel Johns foi meu existencialismo precoce e embalou todos os momentos em que eu achava que eu existia como um viciado-sem-heroína. Sobre o Sonic e sobre o Queens, eles me disseram assim: entendeu que tudo que você pensou até agora poderia ser de uma forma bem diferente? Pois é”.

Ouça “Corduroy”, Pearl Jam:

Duda Caciatori (teclado)

– Bikini Kill – “Pussy Whipped”
– Sonic Youth – “Evol”
– My Bloody Valentine – “This Is Your Bloody Valentine”
– The Doors – “Strange Days”
– The Velvet Underground – “The Velvet Underground & Nico”

“O Bikini Kill foi o alicerce da minha revolta interior transformadora de mim mesma. Aquelas tardes de sol aos 14 anos pareciam longas e cheias de possibilidades. Cheias de coisas pra ver, pra mudar, pra me engajar, pra conseguir.

O Velvet e o Doors embalaram outras tardes da minha vida. Foi quando tudo parecia mais pesado e mais poético do que realmente era. Eu tomava o vinho do meu pai (escondida) e deitava no chão da sala pra pirar com a voz da Nico e do Jim e romantizar a melâncolia. Eu ia ao único sebo legal que tinha em Criciúma e comprava qualquer livro/revistinha sobre o Doors que eu encontrava. Isso parecia a coisa mais legal do mundo pra se fazer e eu voltava pra casa me sentindo muito muito muito feliz.

Daí um dia – uns dois anos depois – era um domingo e eu tava em Nova Veneza (como sempre), e o meu primo me mostrou o Sonic Youth. Passou horas me mostrando tudo que ele mais gostava deles. E aí meu mundo virou de cabeça pra baixo. Eu descobri que quando o barulho vem junto com a doçura (aí que entra o My Bloody Valentine também) é pra morrer de tanto amar e viver. ‘Green Light’ e ‘Tom Violence’ tocaram no repeat em todas as noites sem fim da minha angústia adolescente. E ainda tocam”.

Ouça “Green Light”, Sonic Youth:

Pedro Yue (guitarra)

The Beatles – “Abbey Road”
“Por influência do meu pai, ouço Beatles desde criança. ‘Abbey Road’ é o melhor álbum dessa que, para mim, é a melhor banda que já existiu. Esse álbum é bom desde a capa, com sua referência divertida à suposta morte do Paul McCartney, passando pelo lado A do disco, que termina com ‘I Want You (She’s So Heavy)’ (com sua viajeira sensacional e com seu final abrupto – John, gênio!), e terminando com seu lado B, tendo a sequência de oito músicas se juntando lindamente. Esse álbum (e todo seu contexto) me impressiona até hoje”.

Needous – “The Red Demo”
“Needous foi uma banda de Sorocaba que existiu há 10 anos, mais ou menos. Conheci quando comecei a sair de casa pra ouvir bandas tocando músicas próprias. Eu a via tocando as músicas desse álbum ao vivo e pensada ‘que foda, preciso ter uma banda!’. Era meio que um grunge com letra bem depressivas. Nessa banda havia um guitarrista, Fabinho, que foi (e ainda é) minha maior inspiração em termos de técnica e presença de palco”.

Sonic Youth – “Sonic Nurse”
“O álbum que eu mais gosto de ouvir dessa banda que eu sou fanático. Sonic Youth só tem gênios como integrantes. Mas fora toda a parte técnica genial, o Sonic Youth mexe comigo desde a minha adolescência de uma forma que nenhuma outra banda mexe. Eles sempre foram uma grande inspiração para mim. O destaque desse álbum é a música ‘Dripping Dream’: a forma como ela vai subindo e descendo de intensidade é sensacional. E a última subida com o noise, então calmaria, então a volta com o maravilhoso rife principal da música? Não tem nem o que falar, é só sentar, ouvir e sentir”.

Silversun Pickups – “Carnavas”
“Descobri essa banda jogando ‘Rock Band’ (!). Esse álbum tem tudo o que eu gosto: melodias simples, diretas e bonitas, distorção e delay. Muito delay! Me inspiro muito nesse álbum para criar músicas pro Mavka. Destaque pra ‘Common Reactor’, a última do álbum, com um noise lindo! Quem gosta de Mavka provavelmente irá se identificar com esse álbum (e com a banda)”.

Violins – “Tribunal Surdo”
“Violins é a minha banda nacional preferida. A primeira música que ouvi foi ‘O Anti-Herói (Parte 1)’, há alguns anos. Fiquei admirado com tudo, principalmente com a letra forte. Corri atrás do álbum todo e não me arrependi. Pensava a cada final de música: ‘como assim ele está cantando isso?’. Simplesmente sensacional. Todo mundo deveria ouvir. Mudou minha cabeça de várias formas”.

Ouça “Common Reactor”, Silversun Pickups:

Victor V-B, o Gringo (bateria e vocal)

Hot Water Music – “Never Ender”
“Primeiro disco do Hot Water Music que comprei – tinha 13 anos, em 2003, bem atrasado na existência da banda, na verdade. Mesmo assim, acho que eu pirei na sinceridade do som. Eram quatro pessoas fazendo uma musica rápida, com raiva e sinceridade. Até hoje considero HWM uma das bandas mais influentes pra mim, não somente em termos musicais, mas em termos de postura também. Minha banda favorita até hoje, eu acho”.

Ornette Coleman – “The Shape Of Jazz To Come”
“Eu estudava num colegial pública em Chicago e aos 14 anos me inscrevi no clube de jazz porque eu não queria jogar futebol americano. Admito que no começo essa era a única razão. Achava que jazz era meio musica de esnobe. Eu era bem ignorante e só ouvia bandinhas toscas de punk. Com o tempo, fui conhecendo coisas diferentes e um dia baixei esse álbum porque gostei da capa. A introdução da ‘Lonely Woman’ me deixou arrepiado. Esse álbum abriu a porta pro mundo de free jazz pra mim. Eram pessoas fazendo jazz com uma mentalidade meio ‘punk’ assim. Pirei. Comecei estudar vibraphone e descobri as profundidades do gênero, tipo Peter Brötzmann, Evan Parker, The Art Ensemble of Chicago, Han Bennink etc. Influenciou-me muito na área experimental, como músico”.

Owls – “Owls”
“Owls é formada praticamente pelas mesmas pessoas de uma banda antiga de punk de Chicago, chamada Cap’n Jazz’. Após o Owls, foram formar bandas como Make Believe, Owen, Joan Of Arc e The Promise Ring. Não sei como explicar esse álbum na verdade, mas é bem louco. Sei lá. Procure num lugar e depois me mande um e-mail sobre o que achou”.

Nobuo Uematsu – Compositor da trilha sonora da maioria dos jogos do Final Fantasy
“Não sei se isso vale como um álbum, mas eu achei justo colocar nessa lista. Hoje em dia não tenho muito costume de jogar videogame, mas da mesma forma que cresci tocando bateria, cresci no videogame. Quem já jogou ‘Final Fantasy’ deve me entender. Talvez não apreça nas minhas composições, porém a música do ‘Final Fantasy’ mexeu muito comigo e eu realmente acho que influenciou muito o jeito que eu encaro música hoje em dia”.

Daitro – “Laisser Vivre Les Squelettes”
“Daitro é uma banda francesa. Eles gritam bastante e fazem umas melodias bem doidas. Se não tiver acostumado, provavelmente a primeira vez que você ouvir esse álbum não vai gostar, mas escute inteira duas vezes, daí me liga”.

Ouça “Lonely Woman”, Ornette Coleman:

Na próxima edição do “Discos da Vida”, o @indiedadepre.

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Floga-se”.

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