OS DISCOS DA VIDA: RENATO MALIZIA

Por que diabos são importantes dos discos da vida de Renato Malizia? Aliás, haverá que poderá perguntar quem diabos é Renato Malizia? Como diria minha priminha, “azar o seu que não conhece ele”. Ou mais ou menos isso.

Porque Malizia é um dos maiores agitadores e apaixonados por música que eu tive o prazer de conhecer nessa saga do Floga-se. Ele é editor do ótimo The Blog That Celebrate Itself, com várias dicas de bandas bacanas, barulhentas e infelizmente obscuras. Ele tenta entrevistar a maioria delas – e é um bom lugar pra ler esclarecedores papos com quem está no submundo showgazer mundial. Por conta disso, tá sempre com um projeto ou outro na cabeça, pra difundir essas bandas por aqui.

Em 2012, sua cabeça maquinou ao menos um grande evento – que será anunciado em breve. Definitivamente, você deverá querer saber quem é Renato Malizia.

Mais importante, pra mim, é que ele assumiu as rédeas da ótima coluna Noise Waves, aqui no Floga-se. É onde ele conta causos dos contatos com essas bandas e acaba apresentando-as, com lançamentos e boa música.

Malizia tá sempre ligado e tudo começou assim, com esses que ele considera “Os Discos da Vida”.

RENATO MALIZIA

“Quando recebi o convite para eleger os discos da minha vida, comentei com o Fernando que seria fácil, fácil, mas daí ele soltou a frase que me fisgou: “Malizia, são os dez discos que mudaram sua vida e não os dez melhores de todos os tempos”. É, dai parei e pensei “putz, como tudo isso começou?”. Um filme passou em minha mente e voltei à minha adolescência e à vida de estudante ginasial e filho do casal Renato e Regina Malizia. O berço roqueiro começou exatamente ali, no berço da família Malizia, e se hoje sou o xiita que sou, muito deve-se ao Sr. Renato Malizia, o pai. Então farei em ordem cronológica, resgatando memórias pessoais desde já…”.

Ira! – “Mudança de Comportamento” (1985)
Meu primeiro contato com rock começou exatamente aqui, e me pegou em cheio. “Longe de Tudo”, “Núcleo Base”, “Tolices”, o frescor de ouvir um álbum de rock’n’roll de verdade quando você é literalmente um pivete não tem preço e foi aí o inicio do meu fascínio pelo mundo do rock, e principalmente das guitarras. Edgard Scandurra era foda!

Ouça “Núcleo Base”:

The Rolling Stones – “December’s Children (And Everybody’s)” (1965)
Meu pai é um fanático por Stones e Beatles e eu cresci ouvindo o Sr. Renato escutando esse vinil inúmeras vezes. E sempre me excitava ouvir musicas como “She Said Yeah”,” Get Off Of My Cloud”, “I’m Free”, “Gotta Get Away”. Meu pai contava histórias sobre músicas, sempre acompanhado de seu uísque, e eu obviamente ouvia com total atenção. Fascinava-me a imagem da capa em preto e branco daqueles caras, principalmente Brian Jones e Keith Richards, que estão em destaque. Sempre fui apaixonado por este álbum dos Stones e depois de 37 anos meu pai me surpreendeu e me presenteou com seu vinil original, uma pepita de valor inestimável.

Ouça “I’m Free”:

Ramones – “Rocket To Russia” (1977)
Os Ramones definitivamente foram a primeira banda que eu idolatrei. Não que eu fosse conhecedor profundo da obra dos caras, mas simplesmente meu cassete de “Rocket To Russia” foi daqueles álbuns que despertaram em mim a rebeldia clássica adolescente. Talvez isso não exista mais hoje em dia, mas naquela época fazia todo sentido: calça jeans, camiseta, tênis, skate na mão e não havia limites com meu walkman, cantando, gritando, dançando até não ter mais forças pra nada. Algo me dizia que o caminho era esse. Como sempre digo, quem não gosta de Ramones boa pessoa não é. Ramones é atemporal!

Ouça “Sheena Is A Punk Rocker”:

The Smiths – “Meat Is Murder” (1985)
Não sei precisar exatamente o ano que ouvi o “Meat Is Murder”, mas sei que foi meu primeiro contato com algo realmente que me tocou profundamente, o primeiro divisor de águas na minha vida. Estava mais ou menos com meus 13 anos, quando o irmão de um grande amigo colocou o vinil pra rolar. Quando o desfile amargo e crítico de Morrissey começou, foi um tremendo baque. A partir deste momento, comecei a me interessar definitivamente por música: comecei a ler, ler, ler e descobrir bandas atrás de bandas e daí o negócio tornou-se religioso. Tomei conhecimento da história do punk, pós-punk, e os movimentos que estavam acontecendo na época, leia-se class of 86. Canções como “The Headmaster Ritual”, “Barbarism Begins At Home”, “Nowhere Fast” são obras-primas do mestre Johnny Marr, que pra mim é um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Aliás, Morrissey e Marr são imbatíveis.

Ouça “The Headmaster Ritual”:

Echo & The Bunnymen – “Crocodiles” (1980)
A partir da minha descoberta dos Smiths, comecei a devorar as bandas do pós-punk inglês e não à toa, poucos meses antes da antológica apresentação do Echo em São Paulo, comprei três cassetes do homens coelho, o “Porcupine”, o “Heaven Up Here” e o “Crocodiles”, e foi amor à primeira vista. Ian McCulloch definitivamente influenciou-me com sua postura, forma de se vestir… Enfim, o Echo foi sem sombra de dúvida minha banda predileta durante anos e anos. “Stars Are Stars”, “Villiers Terrace” são idolatradas por mim até os dias atuais, e vê-los exatamente quando os descobri foi um momento crucial pra minha vida, algo imortalizado eternamente na minha memória.

Ouça “Going Up”:

Jesus & Mary Chain – “Psychocandy” (1985)
Quem me conhece sabe que J&MC é algo intocável, digno de idolatria máxima, e tudo se deu por um comentário do Ian McCulloch a respeito dos irmãos Reid. Lembro que numa entrevista, ele havia dito que os Reid imitavam seu estilo, porém faltava-lhes qualidade musical, pois a música era um Velvet Underground de péssima qualidade. Bom, simultaneamente, fui ler a respeito do J&MC e do Velvet Underground e a sujeira envolta à história do VU, e a forma confrontadora das apresentações dos irmãos Reid me deixaram extremamente curioso para ouvi-los. Lembro que comprei no mesmo dia o vinil “VU”, do Velvet, e o “Psychocandy”, no finado e saudoso Museu do Disco, na Rua Conselheiro Crispiniano, centro de São Paulo. Sem ter escutado absolutamente nada de ambas bandas, coloquei o “Psychocandy” pra ouvir e lembro-me perfeitamente que meu 3×1 estava alto e quando começou aquela canção, minha nossa, “Just Like Honey”, aquelas guitarras, aquelas vozes… Aquilo me hipnotizou, me excitou, me seduziu, me abduziu por completo. Fiquei sentado à frente do aparelho de som até o final da música e completamente extasiado. Quando “The Living End” iniciou, rapidamente me abaixei, porque minha mãe deu um berro pedindo pra abaixar “aquele barulho”… Eu abaixei sim, mas coloquei fones e aumentei e aumentei e a sequência “Taste The Floor” e “The Hardest Walk” simplesmente funcionou como um soco na minha cara. Aquilo literalmente mexeu comigo, e foi assim que me tornei devoto de Jesus, aliás um dos mais fervorosos que conheço. Este álbum pra mim significa a essência da música, um marco sem precedentes na história, facilmente o disco que mudou a minha vida por completo.

Ouça “The Living End”:

Sonic Youth – “Sister” (1987)
É fato que a Stilleto fodeu com muitos caras da minha idade. Porque pelo menos uns três álbuns que o selo lançou no país viraram referência pra cultura alternativa da década de 90. O “Sister”, do Sonic Youth, foi um desses álbuns, um furacão, uma verdadeira bomba relógio, explodindo a cada música. “Catholic Block”, “Cotton Crown”, “Pacific Coast Highway” são coisas de outro mundo. O inicio do meu contato com a música underground americana se deu a partir deste disco, e meu culto ao SY idem. Um daqueles chamados discos de cabeceira.

Ouça: “Catholic Block”:

Pixies – “Surfer Rosa” (1988)
Logo após o estardalhaço que o “Sister” fez na minha cabeça, veio essa cacetada nos tímpanos. Black Francis e Miss John Murphey, nome que Kim Deal usava na época do álbum, me fizeram não conseguir parar de ouvir o “Surfer Rosa” durante meses. Um disco viciante, pesado e melódico, berros, sussuros, candura e violência tudo em um único lugar. “Surfer Rosa” é assim devastador do início ao fim. Um disco que mudou tudo na música alternativa, que o diga Kurt Cobain, que o digam todas as pessoas que cresceram nesta época. A influencia dos Pixies é grandiosa e eterna.

Ouça “Where Is My Mind”:

My Bloody Valentine – “Ins´t Anything” (1988)
Outro divisor de águas na minha vida. Comprei na Woo Boop, saudosa loja do centro de São Paulo. Apenas com o conhecimento de resenhas e comentários lidos sobre a banda. Eu não imaginava o que estaria prestes a acontecer, quando coloquei a bolacha pra tocar: aquela bateria, baixo e guitarras que não pareciam guitarras… Foi literalmente “Soft As Snow (But Warm Inside)”. Considero o “Ins’t Anything” um dos discos mais sexys que já ouvi na vida. E um dos que mais me perturbaram, pois estava começando a me empenhar em tocar guitarra e não compreendi como o tal de Kevin Shields conseguia fazer aquilo. Pensava: “meu deus, quero tocar igual ele!”. Queria ter composto “Suisfine” e “Several Girls Galore”, porque são absolutamente sedutoras e abrasivas. Depois que conheci o MBV, daí o xiitismo veio à tona definitivamente. Deus salve Kevin Shields.

Ouça “Sueisfine”:

Pin Ups – “Time Will Burn” (1990)
Este aqui é especialissimo. Cresci e vivenciei todo período Retrô, onde o Pin Ups era a banda da casa. Loucos tempos de insanidade total. Testamos todos os limites possíveis e impossíveis. Ver o Pin Ups ao vivo na primeira fase da banda era estar diretamente ligado a tudo o que estava acontecendo na época, tanto na Inglaterra, como nos Estados Unidos. O Pin Ups era a banda. “Time Will Burn” saiu pelo Stilleto e foi um marco na história da musica alternativa do país – e na minha tambem, porque depois de presenciar a banda por dezenas e dezenas de vezes, resolvi montar a minha própria, mas isso é outra história, aqui cabe apenas dizer que o “Time Will Burn” escutado hoje em dia tem a mesma importância de inúmeros álbuns de bandas gringas.

Ouça “Kill Myself (ao vivo)”:

Na edição anterior de Os Discos da Vida, “Os Discos da Vida: Marcelo Costa”.

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