OS DISCOS DA VIDA: TEAM.RADIO

“Summertime”, o EP que a Team.Radio lançou em 2011, é uma daquelas peças raras no alternativo nacional: cinco músicas perfeitas, num conjunto onde é impossível encontrar algo pra ser retirado sem que cause estragos catastróficos.

Foi assim, com esse brilhante trabalho, que conheci a Team.Radio, banda pernambucana que emula Mogwai, Explosions In The Sky, Stereolab e sei lá mais o quê – ou nada disso e tudo o mais.

Por gostar dessas referências, um tanto que o quinteto passou a ser uma das minhas bandas preferidas.

Mas, ok, o leitor pode achar que estou exagerando ou ouvindo errado as raízes da banda. Na verdade, nem eu sabia que estava. Não até receber essa edição de “Os Discos da Vida”. Não há nada na formação dos cinco músicos do que eu acho que a banda parece ou se baseia. Ou há pouca coisa, mas nada que forme argumentos suficientes pra explicar como eles puderam criar algo magnífico como “French Doll”.

A não ser o talento, ou a inspiração, ou a conjunção de cinco formações diferentes, que vão do heavy metal ao psicodelismo, do pop ao lo-fi etc. Talvez seja isso.

A Team.Radio pode nunca mais acertar na vida, que já teria cumprido sua missão. Mas acertou: o novo single, “Stormy Melodies”, lançado essa semana, mostra que a banda não é “um golpe de sorte”. É, sim, um time raro, com cinco cabeças de formações distintas e talento único.

ANDRÉ MARANHÃO (baixo)

Iron Maiden – “The Number Of The Beast” (1982)
Esse disco me fez entrar no mundo da música. Conheci o Maiden quando tinha uns 13 anos. Um colega no colégio tinha me emprestado esse disco e fiquei alucinado. Foi o momento que decidi juntar dinheiro pra
comprar um baixo (virei fã de Steve Harris) e ter uma banda.

Ouça “Run To The Hills”:

Ozzy Osbourne – “Blizzard of Oz” (1980)
Um dos melhores álbums de rock/metal que já ouvi. Conheci esse disco em 2002, na época que eu ainda tava entrando de cabeça no metal, e até hoje é um dos meus discos favoritos. Vez ou outra coloco pra ouvir
e é incrível como nunca enjoo. Na minha opinião, Randy Rhoads foi um dos melhores guitarristas que já passou por esse planeta.

Ouça “Crazy Train”:

Pink Floyd – “The Dark Side Of The Moon” (1973)
Acho que não preciso falar o quão genial é esse álbum, de uma ponta a outra. Eu não removeria uma nota sequer do que está ali.

Ouça “Breathe”:

The Who – “Who’s Next” (1971)
Uma das melhores cozinhas do rock, se não for a melhor. Esse álbum, pra mim, é sinônimo de rock’n’roll puro. Eu o recomendaria a uma pessoa que quisesse saber ou entender que é esse estilo musical.

Ouça “Baba O’Riley”:

The Smiths – “The Queen Is Dead” (1986)
Conheci o Smiths quando tinha uns oito, nove anos. Meu irmão tinha uma fita K7 com dois músicas desse disco. Eu ouvia direto, sem nem saber o que era aquilo. Só depois de anos que ouvi “The Boy With The Thorn In His Side” na MTV que reconheci. Atualmente, é uma das minhas bandas favoritas e todos os discos são muito bons. Mas o “The Queen Is Dead” é único.

Ouça “The Boy With The Thorn In His Side”:

ARTHUR AZOUBEL (bateria)

Frank Sinatra – “In The Wee Small Hours” (1955)
O primeiro trabalho de Sinatra lançado em LP de 12″, com todas as faixas gravadas especialmente pro álbum (ao contrário dos anteriores, que eram compilações aleatórias). Totalmente diferente da tão familiar voz marcante do swing jazz de big band, esse álbum traz um clima melow da primeira à última faixa, apenas com baladas, organizadas em torno de um tema central de isolamento nas horas da madrugada e a dor de um amor perdido (supostamente inspirado pela separação de Frank e Ava Gardner, sua maior paixão na vida).

Ouça “I See Your Face Before Me”:

Jack Johnson – “Sleep Through The Static” (2008)
É o quarto álbum de estúdio de Jack e, na minha opinião, o melhor disparado. Muitos críticos consideraram esse trabalho como um lado B dele, exatamente por não conter nenhum hit propriamente dito, como os anteriores. Mas é um álbum que carrega um conteúdo muito forte, uma atmosfera um pouco mais pesada e menos “praia de verão” (talvez um clima de inverno nublado à beira-mar seria o ambiente ideal desse CD). Boatos correram de que o álbum seria inteiramente dedicado a um primo de Jack que estaria internado com câncer entre a vida e a morte, e de fato, todas as letras, sem exceção, remetem a essa situação. Claro, de uma forma maravilhosamente poética. É um cd belíssimo pra se escutar como um todo, e não como faixas separadas e totalmente desconexas.

Ouça: “Sleep Through The Static”:

The Radio Dept. – “Pet Grief” (2006)
Um álbum que infelizmente conheci há pouco mais de um ano (gostaria de ter ouvido antes), que mostra o mais primoroso trabalho dessa banda sueca – que dispensa qualquer comentário. Com elementos do indie pop, “Pet Grief” é uma obra-prima que mistura harmonias lindas (os famosos acordes com sétima aumentada), timbres de synth e baterias eletrônicas sem soar piegas.

Ouça “Pet Grief”:

John Mayer – “Continuum” (2006)
É o primeiro trabalho dele com Steve Jordan como produtor, o que trouxe uma sonoridade totalmente diferente e única dos trabalhos anteriores. Com elementos do country, blues e pop, John Mayer gravou um álbum maravilhoso que cai como uma luva num fim de tarde de sábado. Algumas das músicas mais lindas e bem arranjadas que já ouvi fazem parte desse CD, como “Slow Dancing In A Burning Room” e “I’m Gonna Find Another You”, essa última uma baladinha com muitos elementos do blues, e mais ainda, de Eric Clapton.

Ouça “I’m Gonna Find Another You”:

Vários – “Crash Soundtrack” (2004)
O filme “Crash” foi um dos filmes mais marcantes da minha vida, e uma das razões pra isso foi a trilha sonora composta por Mark Isham. Ela se encaixa perfeitamente no filme, com vários elementos de space synths, e uma influência bem marcante da música oriental. É uma trilha totalmente urbana espelhada em grandes cidades noturnas, como New Iorque, fria e indiferente, e traz também uma atmosfera introspectiva e pesada. Simplesmente perfeito.

Ouça “Sens Of Touch”:

ROBERT KRAMER (guitarra e vocal)
“Muitos se apegam à melodia, ao solo de guitarra etc. Já eu, não. Eu prezo pela composição pura, pela harmonia, pelos acordes, pela sétima aumentada. Dessa forma defino essa lista, que contém cinco discos importantes pra minha formação, não somente musical, mas até mesmo de caráter. Observação: nessa injusta lista deixei de fora nomes como Neil Young, Nick Drake, Neal Hefti, mas eles têm a mesma importância pra mim, de fato, mas como são cinco…”

The Radio Dept. – “Pet Grief” (2006)
Definiria como “a harmonia limpa, e sofisticada”.

Ouça “The Worst Taste In Music”:

My Bloody Valentine – “Loveless” (1991)
Definiria como “a harmonia distorcida, e etérea”.

Ouça: “Sometimes”:

Lô Borges e Milton Nascimento – “Clube da Esquina” (1972)
Definiria como “a harmonia brasileira, do preto, e do branco”.

Ouça “O Trem Azul”:

Beach Boys – “Pet Sound” (1966)
Definiria como “A Harmonia”.

Ouça “God Only Knows”:

N.E.: Roberto Kramer definiu seu “quinto disco” como a “discografia completa de Eliott Smith: “Definiria como ‘a Harmonia da sinceridade'”. Obviamente, não podemos escolher por conta própria um disco qualquer pra preencher essa lacuna.

THIAGO GADELHA (guitarra)
“Eu não consigo justificar o porquê desses 5 discos estarem na lista. Por mais justo que seja, seria uma espécie de justificativa por não haver colocado os tantos outros importantes pra mim, o que seria injusto. Eu preferi apenas listar 5 discos importantes que me vieram na cabeça:

Jimi Hendrix – ‘Axis: Bold As Love’
Frank Zappa – ‘Hot Rats’
John Frusciante – ‘Curtains’
Pink Floyd – ‘The Piper At The Gates Of Dawn’
Red Hot Chili Peppers – ‘Blood Sugar Sex Magik'”.

MARINA SILVA (vocal e sintetizador)

N.E.: Marina Silva diz sobre sua primeira escolha: “Elliott Smith. Escolher apenas 5 discos pra uma vida é uma tarefa extremamente ingrata – e você nem precisa ser tão velho assim. Só a discografia do Elliott Smith (póstumos e b-sides inclusos) foi, quase exclusivamente, a minha trilha sonora indispensável por dois ou três anos. E até hoje não encontrei algo dele que não fizesse questão de ter ouvido”. Da mesma forma, não podemos escolher um aleatoriamente pra preencher essa lacuna.

Cat Power – “Moon Pix” (1995)
Um dos principais responsáveis por uma reviravolta no meu gosto musical. Foi um disco, junto com o “Cover Records”, que me fez mudar completamente referências.

Ouça: “You May Know Him”:

Guided By Voices – “Earthquake Glue” (2003)
Sabe aquelas músicas que deixam seus passos mais firmes enquanto você escuta? Então…

Ouça “I’ll Replace You With Machines”:

Syd Barrett – “The Madcap Laughts” (1970)
Soa incrivelmente simples e me passa uma sensação de liberdade como poucos outros.

Ouça “Terrapin”:

The Decemberists – “Castways And Cutouts” (2002)
O Decemberists traz um universo fantástico, principalmente até o “Picaresque” (2005), que sempre me chamou muito a atenção, mas que vejo poucas bandas usando tão bem.

Ouça “The Legionnaire’s Lament”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Wallace Costa”.

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