OS DISCOS DA VIDA: THE CLEANERS

Não tem jeito, você ouve The Cleaners e pensa em Teenage Fanclub. Com o disco “Behind The Truth”, de 2011, o trio de Mauá, São Paulo, deixou as coisas ainda mais claras. Mas será mesmo?

Essa edição de “Os Discos da Vida” mostra que não só o Teenage Fanclub tem notória influência sobre a banda, como também Pavement, Jeff Buckley, Nick Drake…

O trio começou como um quarteto, em 2006. Em 2007, lançou o primeiro EP, “Let Music Be Music”. Assim que assumiu a formação atual (Rodrigo Milk, vocais e guitarras; Rodrigo Lima, baixo; e Duca Olimazzi, bateria), a banda moldou o som à maneira das três mentes e fez o que considera um avanço ao seu ideal em “Behind The Truth”. Um pedaço do disco pode ser ouvido aqui pra comprovar.

E na lista abaixo, como a banda chegou a essa sonoridade: esses são os seus “Discos da Vida”.

RODRIGO MILK (guitarra e voz)

“Quando recebemos o convite do Floga-se pra “Os Discos da Vida”, pensei “hell, yeah!” e logo em seguida, “oh, shit!”. ??Fazer um Top 5 não chega a ser uma tarefa difícil, mas bem desafiadora, pois dá pra fazer um Top 5 de álbuns que você mais gosta, de álbuns que você mais ouve, de álbuns que mais odeia, que menos ouve e, no meu caso, fiz um Top 5 de álbuns em ordem cronológica que foram importantes pra minha formação cultural, pessoal e musical!?”

Queen – “At Night At The Opera” (1975)
??Meu pai já foi músico e DJ nos anos 80 e, quando eu tinha dois anos de idade, ele ia discotecar e eu ficava na cabine junto com ele, ao lado dos vinis, por isso, cresci ouvindo A-ha, Bee Gees e tudo o que melhor que se produziu nos anos 70/80.?? Uma banda que não poderia ficar de fora e que amo até hoje é o Queen. ??Em 94, ouvia os discos e os gravava em fita pra poder ouvir no carro. “A Night At The Opera” era um dos que não saiam do porta-luva. “The Prophet’s Song” é uma das músicas que estão no meu TOP 10 de masterpieces da música britânica, pois, já naquela época, abusavam de efeitos como o delay na voz e várias camadas de guitarra.?

Ouça “The Prophet’s Song”:

John Frusciante – “Niandra Lades And Usually Just A T-shirt” (1994)
Bem, em 99 eu comecei a ouvir música como músico, e foi com o Red Hot Chili Peppers, no “Californication”. Não teve jeito, virei fã incondicional do John Frusciante. Comecei a ir atrás da carreira dele até chegar ao “Niandra Lades…”. Eu tinha que ter este álbum na prateleira e reservei na Galeria uma cópia importada do álbum. Dá pra contar, em uma mão, as vezes que emprestei este CD pra alguém, pois é o meu xodó. É bem diferente de tudo o que se tem hoje, falando também em relação a produção do CD, pois aparentemente foi gravado do jeito que tinha que ser gravado, natural, com timbres diferentes, sem seguir um modelo, apenas tocado, sem fórmulas, sem a ideia de alcançar o sucesso, que foi exatamente o que aconteceu. Lembrando que este álbum é duplo numa única mídia! Experimental é pouco pra descrevê-lo.

Ouça “Your Pussy’s Glued To A Building On Fire”:

Teenage Fanclub – “Songs for Northern Britains” (1997)
?A primeira música que ouvi e vi o clipe foi “Ain’t That Enough”. Foi meu início no mundo alternativo. Nunca tinha ouvido algo tão puro e sincero e logo me peguei ouvindo o álbum “Songs For Northern Britains”. Quando percebi mesmo estava no show do Teenage Fanblub, no Sesc Pompéia, em 2004, que é algo inesquecível. O “Songs…” pra mim é despretensioso, lindo, mágico, esperançoso, É uma tarefa árdua escolher um “melhor álbum” do Teenage, mas simpatizo muito com este, que foi o primeiro dos caras que eu ouvi e que me inseriu no mundo europeu de ver as coisas.?

Ouça “Ain’t That Enough”:

Nick Drake – “Five Leaves Left” (1969)
Não teve jeito, 2005, downloads à flor da pele e, de repente, cheguei e não me lembro como ao fantástico Nick Drake. Tenho os três álbuns que são maravilhosos do começo ao fim, mas me identifico muito com a energia do “Five Leaves Left”… É um mundo misterioso esse do Nick, pois te alegra, te faz pensar, te pôe numa realidade totalmente diferente da que está vivendo e quando a música acaba, é como se você tivesse dado uma “rápida” ida á um passado alheio. É obscuro, mas centrado, sabendo mesmo onde se quer chegar. Tem muito “trio” e banda hoje em dia que acha que tocando num violão modelo Dreadnought e cantando sobre as “cores” pode entrar no gênero folk. Que dó!

Ouça “River Man”:

King Of Convenience – “Riot On An Empty Street” (2004)
Estava passando os canais da TV e acabei deixando na Cultura. Estava no fim do “Metrópolis” quando eles anunciaram o Kings Of Convenience, com o clipe “Cayman Islands”… Pensa num bem-estar daqueles, uma paz se espalhando por toda a alma, como se tudo fosse realmente ficar bem pro resto da vida. Foi isso o que senti quando ouvi essa música. Ganhei o “Riot On An Empty Street” e fiquei pouco tempo com ele, pois assaltaram a casa de um amigo e eu tinha emprestado o CD pra ele um dia antes (soooorte danada, né?!). Ainda cheguei a gravar um CD, num estúdio bem simples, com nove faixas, apenas voz e violão, e coloquei “Cayman Islands” no repertório. Entreguei ao Erlend Oye num show que ele fez no Studio SP, na primeira versão, na Vila Madalena. Se ele ouviu eu não sei, mas que foi um puuuuuuuta show, ah foi!

Ouça “Cayman Islands”:

RODRIGO LIMA (baixo)

Sonic Youth – “Sister” (1987)
Esse disco eu comprei numa loja de discos na Teodoro Sampaio quando tinha uns 19 anos. Lembro do Rodrigo Milk estar junto comigo e ter indicado a compra. Já tinha ouvido várias musicas do Sonic Youth, mas nunca havia ouvido um disco de cabo a rabo deles. Quando coloquei a porra desse disco pra tocar e foram se passando cada uma das músicas eu ia ficando besta, tamanha a conjuntura e harmonia soadas com tanto barulho. Até hoje fico me matando tentando tocar com afinações abertas como as de Turston Moore. Um dia consigo (risos).

Ouça “Catholic Block”:

My Bloody Valentine – “Loveless” (1991)
Esse é o disco que mais me inquietou. Baixei como quem não queria nada, mal havia escutado alguma coisa do My Bloody na época. Lembro-me da primeira vez que o escutei (parece que foi esses dias) e não conseguia acreditar que aquilo era de verdade, aquela massa sonora, aquele feeling e as alavancadas nas guitarras de Kevin Shields, pensei que o arquivo das faixas tinha vindo com algum tipo de problema, porque nunca tinha ouvido nada igual. Pra mim, esse disco é um símbolo de como se gravar um disco, é delicioso ficar procurando sobre como foi gravado e de onde vem todos aqueles sons de guitarra, como foram captadas pra chegar num nível sonoro tão foda. É o álbum que mais escutei na vida e não consigo enjoar de forma alguma.

Ouça: “To Here Knows When”:

Guided By Voices – “Alien Lanes” (1995)
Com certeza esse é o disco que mais me fez pensar sobre estrutura musical. Aprendi a ver a música de uma outra forma com ele, uma forma mais sincera a quem compõe, algo totalmente de dentro pra fora. E ainda existe aquela estória de que o custo da Matador pra gravação desse disco, tirando o valor das cervejas, não passa de dez dólares!

Ouça “Motor Away”:

Teenage Fanclub – “Bandwagonesque” (1991)
Trilha sonora de várias “viagens” de trem do ABC pra casa, tanto na época que comecei a tocar com os Cleaners quanto na época que estávamos gravando. Adoro as letras, tem uma simplicidade que eu gosto demais. A forma como cada uma das faixas foram encaixadas é um caso a parte. É tudo certíssimo e “Is This Music” é um instrumental daqueles que te deixam sem ar. Gosto de quase tudo que o Teenage já fez, foi com muita dor que deixei o “Catholic Education” de fora dessa lista, mas pelo “Bandwagonesque” me trazer essas boas lembranças do “trenzão”, escolho esse puta disco pra lista.

Ouça “Is This Music”:

Pavement – “Salanted And Enchanted” (1992)
Provocador, não vejo outra palavra que possa descreve-lo. Cada vez que o escuto parece algo novo, tem um ar de quem quer mudar, de quem quer fazer as coisas sem andar por lugares comuns, me inspira desde o primeiro segundo até o ultimo. Consigo escutá-lo seguidas vezes sem reclamar.

Ouça “Zurich Is Stained”:

DUCA OLIMAZZI (bateria)

Paralamas do Sucesso – “Vamo Batê Lata” (1995)
Apresentado de maneira intuitiva, um dia cheguei em casa e olhei em cima da estante e, por um acaso, estava um disco que eu não conhecia. Despretensiosamente coloquei no aparelho de som e era o “Vamô Bate Lata” dos Paralamas do Sucesso. Na hora que comecei a ouvir, pirei, pois foi nessa época que decidi montar uma banda fiquei empolgado em ver aquele power trio misturando rock, reggae, ska, blues, quebrando tudo junto a naipe de metais, percussão e um piano carregado de levadas latinas.

Ouça “Luís Inácio E Os 300 Picaretas”:

Nação Zumbi e Chico Science – “Da Lama Ao Caos” (1994)
Nação Zumbi, tenho que dizer que chegou a mim em um período de comoção. Em 1997 partira o líder Chico Science, num trágico acidente de carro. Confesso que nesse tempo ainda não havia parado pra dar uma atenção de verdade ao trabalho dos caras. Um dia, entrei numa loja junto ao meu amigo Denis e ele me indicou o melhor de todos, “Da lama Ao Caos”. Na hora que ouvi foi como levar uma porrada no meio do estômago: era um disco que tinha distorção, sotaque pesado, canções energéticas e bem estruturadas, sem falar no diferencial que jamais tinha ouvido em outra banda, era um instrumento de percussão chamado alfaia, que ficava de fundo dando um peso impressionante à música. Esse disco foi revolucionário, uma banda de rock conseguiu mesclar ritmos regionais, como maracatu, e deu início ao movimento manguebeat, que mais tarde se popularizou mundo a fora.

Ouça: “A Cidade”:

Jeff Buckey – “Grace” (1994)
Disco marcante. Foi na época que decidi ir embora da casa de meus pais. Lembro-me da primeira vez que ouvi o grande Jeff Buckley. Enquanto arrumava minhas malas, no meu quarto minha mãe me ajudava e sutilmente chorava… O som que tocava tinha um tom de coincidência, “Last Goodbye”. Não consegui esquecer nem por um minuto aquela canção. Foi um momento único pra mim. Quando cheguei em meu novo destino, Londrina, fui atrás de algum material do cara. Então comprei um dos CDs mais fantásticos que já ouvi na vida, que mudou pra sempre minha visão sobre o assunto, “Grace”. Na minha opinião é um disco com sensibilidade, complexidade e tons agressivos em determinados trechos. Aquilo ali era tudo que eu queria ouvir, parecia representar exatamente o que eu vivia naquele momento.

Ouça “Last Goodbye”:

Foo Fighters – “The Colour And The Shape” (1997)
Se fechar os olhos, posso lembrar perfeitamente sobre o que fez o Foo Fighters ser especial: era verão de 1998, eu estava tocando uma festa onde ganharia meu primeiro cachê como músico (de R$ 50,00), pra dividir com toda a banda. O momento foi inesquecível, estava desmontando minha coisas e pensando como seria interessante ter novas influências de outras bandas. Eis então que surgiu a pérola: o DJ rolou um som com uma pegada marcante de voz expressiva. A musica era “Monkey Wrench”. A partir dai, “The Colour And The Shape” se tornou meu hino de cabeceira. Músicas como “Hey, Johnny Park!”, “My Hero” e tantas outras tinham uma reserva em minha mente. Conhecia todas as passagens de cada uma delas, mas minha total admiração se deu por completo quando soube que o líder daquela banda havia sido baterista do Nirvana. Aí, a casa caiu de vez (risos)…

Ouça “Monkey Wrench”:

Led Zeppelin – “II” (1969)
Esse último disco não tem como passar despercebido. Dono de uma propriedade em corpo sonoro inigualável, o “Led Zeppelin II” me chamou atenção em todas as faixas – e, pra ser sincero, até hoje me assusta como quatro caras do final da década de 60 faziam melodias tão marcantes. Minhas preferidas sempre foram “Whole Lotta Love”, “Rambler On”… Tenho que admitir que quando assisti o VHS nem uma outra me deixou tão bestificado quanto “Moby Dick”. O grande Jonh Bonham solando com as mãos livres me deixava realmente questionando como um baterista de origem do jazz tem uma pegada absurda dessas e consegue tocar com uma bateria em acrílico, de medidas gigantes, que mais pareciam um canhão: o que era aquilo?

Ouça: “Moby Dick”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Mario Bross”.

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Comentários

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7 comentários

  1. Caraca, que mistura galera…

    Na parte brasileira das influências eu não curto muito não, mas de resto, só pedrada.

    Falando nisso, parabéns pelo trabalho, achei bem original, mesmo com a salada de influências.

    Eu, perdão se será parecer uma ofensa, discordo do Fernando e não ouço Teenage no som de vcs, ouço algo bem original, com influências sim britânicas e americanas.

    Coisas como Placebo e até Flaming Lips.
    De qualquer maneira, ficou tudo bacana nesta matéria!

    Parabéns a banda pelo som!

  2. Ótimos discos.

    Incrível banda, acompanho desde 2009, num show que ví em plena Avenida paulista.

    Sucesso sempre pra vocês.

    Abração!

  3. Agora tá explicado pq o Duca Olimazzi arregaça aquela YAMAHA STAGE CUSTOM!! hahha

    Mt bom galera,
    Congrats!

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