Contos de fadas… Lewis Carroll… Tweedledum, Tweedledee, Humpty Dumpty, Jabberwock, Red Queen… O This Lonely Crowd parece que vive num mundo de exceção, fantasioso, mas é mesmo de Curitiba, capitalzona do Paraná, Brasil.
Os integrantes assumem nomes de personagens do autor inglês Lewis Carroll (1832-1898), fazem letras com trechos de suas obras e reforçam o mistério em torno de si próprios. É um mistério bacana, ora. Porque o que interessa é a música.
E ela, com essa edição de “Os Discos da Vida”, passa a ser mais explícita na sua raiz. Que eles gostam de Smashing Pumpkins não é segredo – e discos como “Some Kind Of Pareidolia” não deixam dúvidas, e também as muitas citações de discos da turma do Billy Corgan aqui. Mas e o resto? O que fez essa banda ser o que é?
Os cinco integrantes desvendam esse mistério elegendo seus cinco discos mais importantes da vida, aqueles que mudaram a forma com que eles vêem a música.
Mas o resto do encanto e da fábula continua.
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HUMPTY DUMPTY (vocal e guitarra)
Carcass – “Heartwork” (1993)
Obra-prima do Carcass, que antes era um grindcore absurdo. O disco anterior, “Necroticism – Descanting The Insalubrious” (1991), já esboçava os elementos do “Heartwork”: peso melódico e beleza negra. A capa, feita pelo HR Giger, sempre me chamou demais a atenção por definir exatamente o que recheia o disco. E o negócio começa perfeito com “Buried Dreams” e seus harmônicos dissonantes. Tudo é tecnicamente impecável e coeso sem deixar de ser orgânico. Impressiona-me os detalhes dos rifes e, principalmente, como as guitarras foram arranjadas na faixa-título; sempre volto o pensamento pra aquilo, pra tentar descobrir como conseguiram conciliar uma sonzeira daquelas impecavelmente melodiosa. A coisa toda é uma tremenda pancada na cara, é como se o Kreator tivesse ido até o inferno e voltado. Grande, grande disco, que não canso de re-escutar.
Ouça “Buried Dreams”:
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The Gathering – “Nighttime Birds” (1997)
Esse é um disco-chave pro som que a gente tenta modestamente fazer, é como um Norte na nossa bússola. Engraçado que o Gathering mudou bastante nos álbuns seguintes, incorporando cada vez mais elementos trip-hop/shoegaze (e continuando fantástico do mesmo jeito). O “Nighttime Birds” tem melodias belíssimas. Impressionante como o teclado não deixa o som cafona e só completa as (desprezíveis) lacunas entre as guitarras. Não vou ficar falando dos vocais da Anneke Van Giersbergen, porque são impressionantes e passam a quilômetros de distância de qualquer coisa da época. A entrada da voz em “On Most Surfaces”, os versos em “The May Song”, a força da faixa-título e da forma como “Niiiight-time Biiirds” é cantado… Muitos detalhes cheios de cuidados, que reforçam mais ainda a beleza desta banda. Arrepiante.
Ouça “The May Song”:
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Smashing Pumpkins – “Pisces Iscariot” (1994)
Tinha que colocar algum deles, né? Não vou falar do óbvio, não vou falar sobre o “Siamese Dream” (meu preferido) ou sobre o “Mellon Collie…”, pois eu cairia na armadilha de não me calar nunca mais. Este disco humilha disco-cheio de boa parte das bandas da época: só sobras de estúdio com produção “tosca” e soando com uma energia de dar inveja. Dá pra sentir o estalo dos pedais sendo ligados na parte final de “Blew Away”; sentir o calor dos fuzzes e das válvula trocadas em “Frail And Bedazzled” e “Pissant” e das harmônias de “Obscured”, entre muitas outras coisas. São músicas primorosas, de simplicidade e energia. Claro que não é o melhor album, mas por si só é suficiente pra justificar a relevância do Smashing Pumpkins como a grande banda dos anos 90. Cheio de peso, melodias elaboradas e com referência/densidade musical de sobra. Ou alguém acha que qualquer “guitar indie” consegue tirar aqueles solos furiosos do fim de “Hello Kit Kat”?
Ouça “Hello Kit Kat”:
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Fleeting Joys – “Despondent Transponder” (2006)
Esse é um pouco obscuro e recente, feito em 2005 (N.E.: lançado em 2006, na verdade), mas tem a ver diretamente com o tal “revival shoegaze/anos 90″. Bom, eu adoro o Fleeting Joys porque, perdoem-me o que vou dizer, eles tiram a relevância do My Bloody Valentine em existir hoje. Considero o “Loveless” algo único (não quis colocá-lo nesta lista porque também é óbvio), provavelmente responsável direto até pelo “Smashing Pumpkins” soar tão forte no “Siamese Dream”, então me sinto injusto pensando dessa forma. Mas o fato é que o Fleeting Joys celebra a sonoridade dessa época como se desse continuidade a discografia do MBV, sem ficar copiando ou remoendo em cima de feedbacks. Ou seja, me faz escutar o “Loveless” sem ficar morrendo de saudade, entende? “Lovely Crawl”, “Go And Come Back”, “Satellite” são faixas fantásticas, soturnas e etéreas na medida certa. Dá pra ver o dedo do pop naquela nuvem de “reverb com RAT” e inspiração. Se The Gathering foi um norte pra nós, o Fleeting Joys foi a agulha da bússola pra nos inspirar a compor pra valer.
Ouça “Lovely Crawl”:
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Slayer – “Reign in Blood” (1986)
Olha aí. O que eu posso falar de quase trinta minutos furiosos disparando rifes impressionantes pra tudo quanto é lado, com um dos melhores bateristas de todos os tempos? Essa é uma fórmula fantástica criada pelo Slayer e quase todas as possibilidades são exploradas por eles nessa obra-prima. E o final de “Postmortem”? O rife principal de “Raining Blood”? Perdi dezenas de horas da minha vida tentando decifrar o songbook desse disco e, por causa disso, tenho uma guitarra até hoje afinada em Eb (não, não é por causa do Smashing Pumpkins! (risos)). FInalizo resumindo o Slayer em uma palavra: RESPEITO.
Ouça “Raining Blood”:
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RED QUEEN (baixo e voz)
Nine Inch Nails – “The Downward Spiral” (1994)
Meu preferido, mesmo eu gostando de praticamente tudo o que o Trent Reznor compõe. É sombrio, soturno e tem um monte de coisa lá: tem heavy metal, tem pioneirismo de som industrial e tem pop também.
Ouça “Burn”:
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David Bowie – “Earthling” (1997)
David Bowie é… David Bowie! Sem comentários. A música com o Trent Reznor em “I’m afraid Of Americans” é marcante. Sem falar nas minhas favoritas, “Dead Man Walking” e “Little Wonder”.
Ouça: “Little Wonder”:
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Depeche Mode – “Music For The Masses” (1987)
Definitivamente, não tenho palavras. Depeche Mode é único! Dave Gaham é o meu maior ídolo e a sua voz médio grave é muito singular. Esse disco é muito legal porque eles deixam de lado aqueles samplers do começo da banda pra trabalhar mais com os sintezadores e com aquele “climão” que é a cara deles. É hit atrás de hit. Graças ao Depeche Mode que Nine Inch Nails, Marilyn Manson e o próprio Smashing Pumpkins definiram seus estilos…
Ouça “Behind Wheel”:
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Marilyn Manson – “Mechanical Animals” (1998)
Gosto de todas as fases do Marilyn Manson, com exceção daquele CD meio “emucho” de 2007. E o principal, adoro as composições do Jeordie White, o Twiggy Ramirez, meu baixista preferido. Por isso que eu gosto de baixos Thunderbirds. Nesse disco, o MM conseguiu colocar mais musicalidade e tirar um pouco do caos, criando um som cheio e com partes melodiosas. Não preciso nem falar que tá cheio de David Bowie “fase glam” nesse disco, né?
Ouça “The Dope Show”:
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Smashing Pumpkins – “Adore” (1998)
É o disco que eu mais escutei deles, de longe. Adoro o “Mellon Collie…”, mas nesse aqui eles se refinam e essa é a obra-prima em beleza de tudo que já fizeram (e não foi pouco). O Billy Corgan aprendeu a cantar de vez a partir deste album, é só reparar nas músicas ao vivo, antes e depois de 1998. Pena que eu tenha desencanado com a banda, depois do retorno… Mas o Smashing Pumpkins não precisa provar mais nada, pra ninguém.
Ouça “Perfect”:
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TWEEDLEDUM (guitarra)
Tool – “Aenima” (1996)
Um disco aparentemente chato, de início, que você vai descobrindo aos poucos e imergindo na maluquice. Grande influência pra gente.
Ouça “Stinkfist”:
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Nirvana – “Nevermind” (1991)
O som característico do Polychorus que o Kurt consagrou, que gente de calibre como Hans Zimmer ainda utiliza.
Ouça: “Lithium”:
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Chavez – “Ride The Fader” (1996)
Apresenta um equilíbrio bem bacana entre o lo-fi e uma produção decente. Era assim que o Foo Fighters deveria soar.
Ouça “Top Pocket Man”:
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Smashing Pumpkins – “Mellon Collie And The Infinite Sadness” (1995)
Hoje virou moda a massa indie criticá-los, mas naquela época poucos aguentavam dez minutos de porrada com essa banda que fez em torno de cem músicas bacanas, entre 92/95.
Ouça “Bullet With Butterfly Wings”:
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Queens Of The Stone Age – “Songs For The Deaf” (2002)
Timbres bacanas, rifes animais e incomuns em C, bateria impecável e ainda o Mark Lanegan batendo ponto. Sucesso total.
Ouça “First It Giveth”:
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TWEEDLEDEE (guitarra)
Sigur Rós – “Ágætis Byrjun” (1999)
O Sigur Rós não tem um disco ruim. Nesse aqui eles formam o estilo frio e arrastado, cheio de texturas delicadas. É uma banda que não dá pra qualquer um ouvir, tem que estar no clima, tem que fechar os olhos mesmo.
Ouça “Flugufrelsarinn”:
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Sepultura – “Beneath The Remains” (1989)
Que “Chaos AD” ou “Roots”, que nada! Esse aqui jogou o Sepultura pro mundo. Disco insano, furioso, de deixar Slayer, Exodus, Metallica e todas as bandas pesadas da época com raiva e com inveja. Não acredito até hoje que aquelas guitarras usavam só um heavy metal da boss e com afinação convencional em E… É pra refletir mesmo, a prova definitiva de que não precisa de frescura pra fazer peso.
Ouça: “Lobotomy”:
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Placebo – “Without You I’m Nothing” (1998)
Do começo ao fim, um discaço. Não tem uma faixa mais-ou-menos. E o legal é que depois que você enjoa dos hits, você encontra uma música mais obscura, como “Brick Shithouse”, e se encanta de novo.
Ouça “Brick Shithouse”:
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Mew – “A Triumph For Man” (1997)
O Mew só melhorou com o tempo, mas esse primeiro lançamento é impressionante porque já define o estilo deles. Tem tudo lá. Se o pop fosse desse jeito, o mundo estava salvo.
Ouça “She Came Home For Christmas”:
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Melvins – “Houdini” (1993)
Antes de se falar em Nirvana, ninguém pode esquecer do valor dessa banda. Maluquices, experimentalismos e muito peso. Obrigatório!
Ouça “Going Blind”:
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JABBERWOCK (bateria)
An April March – “It Goes Without Saying” (1997)
Pena que essa banda não tenha tido o devido valor. Esse disco é inteiro bonito, com melodias delicadas e inspiradas. Acho que a gente persegue um monte de coisas de lá.
Ouça “The Roddy Frame Experience”:
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The Cure – “The Head On The Door” (1985)
É inspirador ver tanta coisa bacana em um disco só, com um pé no obscuro e outro na radio, pra todo mundo ouvir. Dá vontade de tocar. E é tudo extremamente simples.
Ouça: “Close To Me”:
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Radiohead – “The Bends” (1995)
Não gosto (acho que ninguém do TLC gosta) do caminho que o Radiohead tomou, mas respeito(amos) muito e tal. Basta ouvir os rifes principais da música “The Bends” e o de “Black Star” pra entender o que eu quero dizer. É bonito demais pra ser verdade.
Ouça “The Bends”:
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Suede – “Coming Up” (1996)
Outra banda que nunca foi valorizada porque os contemporâneos a ofuscaram, não sei porque. É que nem um Smiths com o David Bowie de 1971-74 cantando. Nesse disco eles provaram que mesmo trocando de guitarrista eram uma banda excepcional.
Ouça “Lazy”:
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Helmet – “Meantime” (1992)
Coloquei esse só pra exemplificar, mas podia ser qualquer algum deles. O Helmet reinventa o rock com suas fusões. É uma aula de tudo, de guitarra, de ritmo na bateria, de groove, de como tocar. O Page Hamilton é um dos maiores gênios da sua época.
Ouça “Unsung”:
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Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Gimu”.
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