OS DISCOS DA VIDA: VICTOR DE ALMEIDA

“O Festival LAB nasceu, em 2009, com a proposta de apresentar ao público alagoano novas tendências sonoras, com ênfase na música contemporânea”. Essa é a apresentação oficial do Festival LAB, que tem em Victor de Almeida uma das cabeças pensantes e organizadoras.

Já valeria o espaço só por essa iniciativa. Mas Almeida é um abnegado daqueles que, ainda bem, volta e meia surgem neste país e não desistem ao som do primeiro obstáculo gigantesco se formando. Assim, o LAB, mesmo beirando o prejuízo financeiro aqui, sobrando um dinheirinho acolá, vai sobrevivendo e com cada vez mais força e tesão.

A edição de 2012, a quarta, tem data, local e um bocado de nomes bons fechados pra participar. Ele acontece dias 7 e 20 de outubro no Teatro Linda Mascarenhas; e dia 26 de outubro no Armazém Uzina. Este ano tocam a ruído/mm (PR), o uruguaio Franny Glass, Momo (RJ), Lise + Barulhista (MG), além de ter um cine-concerto com o filme “O Gabinete Do Dr Caligari”; e, de 22 a 25 de outubro, oficina de “Trilha Sonora Para Cinema”, realizada em parceria com a Coordenação de Audiovisual do SESC/AL.

Pra ficar por dentro de todas as atualizações do festival, é só seguir o evento no Facebook. Vem mais coisa por aí, a programação ainda não está completa.

Se o pessoal de Maceió resolver agradecer Almeida e seu asseclas por todo esse esforço pra dar à cidade um evento extraordinário, o Floga-se resolveu ir mais longe e estender esse agradecimento a quem fez Almeida se apaixonar por música.

Nessa edição de “Os Discos da Vida”, Victor de Almeida relaciona os dez discos que fizeram ele trilhar o caminho que trilhou, até se formar a personalidade que virou. São escolhas e textos honestos que emocionam (como ficou claro numa passagem da lista), num rol de obras que explica o motivo de tanta paixão pra levar música e arte a todos.

VICTOR DE ALMEIDA

Vinícius de Moraes – “A Arca De Noé” (1980)
Meus pais sempre foram muito fãs de música e os grandes responsáveis por desenvolver o meu gosto pelos discos desde muito novo. Sou o filho mais velho (em casa, somos três homens) e quando eu era ainda muito criança, eles montaram uma “discografia” pra mim. Lembro, especialmente, de um disco infantil do Toquinho e desse disco do Vinícius que contava com a participação de “grandes nomes da MPB”, interpretando canções infantis. É a primeira lembrança musical que eu tenho desde que eu me entendo por gente. “A Arca De Nóe”, cantada por Chico Buarque e Milton Nascimento, e “O Pato”, interpretada pelo MPB-4, foram a trilha sonora de boa parte da minha infância.

Ouça “A Arca De Noé” (com Chico Buarque e Milton Nascimento):

Belchior – “Alucinação” (1976)
Chico Buarque, Fagner e Belchior. Esse era (e ainda é) o trio que meu pai colocava pra tocar durante as viagens de carro que fazíamos quando eu e meus irmãos éramos crianças. Sejam nas viagens pra visitar a família em Penedo (cidade onde nasci, no interior de Alagoas) ou em viagens mais longas. Desses três, o que me marcou mais foi, sem dúvida, o Belchior. Esse disco é arrasador: “A Palo Seco”, “Como Nossos Pais”, “Apenas Um Rapaz Latino-Americano” e, claro, “Alucinação”. Belchior foi o cara que fez eu me interessar por Beatles e Bob Dylan mais a frente… Devo isso ao meu pai, DJ de viagens.

Ouça “Alucinação”:

The Beatles – “Abbey Road” (1969)
Discos da vida, né? Um tio meu tinha uma coletânea dos Beatles que revisitava a carreira da banda em ordem cronológica e, por mais que gostasse das músicas do começo, as últimas eram minhas preferidas. E a maioria dessas músicas eram do “Abbey Road”. “Something”, “Come Togheter”, “Here Comes The Sun”… Foi através dessa coletânea que eu descobri os Beatles e desde então é um disco sempre presente na minha vida. Ainda tem o medley-mais-bonito-de-todos-os-tempos: “Golden Slumbers” / “Carry That Weight” / “The End”. (Certamente, o Fernando – editor do Floga-se – deve estar rindo agora… – N.E.: não, não estou rindo; e, ao contrário e de fato, estou emocionado com as escolhas até aqui)

Ouça “Golden Slumbers/Carry That Weight/The End”:

Oasis – “(What’s The Story) Morning Glory?” (1995)
O Oasis foi a primeira banda que descobri em uma loja de discos. Aqui em Maceió, existia uma loja chamada Estação CD, talvez a única loja de shopping de discos que contava com um estoque interessante e vendedores que conheciam o que vendiam. Era o local mais legal pra gastar a mesada (quando eu comecei a ganhar). Numa dessas em comprei esse disco do Oasis e aí muita coisa mudou. Li no “Discos da Vida” da Sinewave com o Luiz Freitas: “até o Oasis se tornar a maior coisa do mundo, meu interesse em música era irrelevante”. Concordo totalmente com ele.

Ouça “Morning Glory”:

Dead Fish – “Sonho Médio” (1999)
Uma das bandas mais importantes da minha adolescência. Sem dúvida. Esse disco é um pouco o retrato dos meus anos 2000, os shows que eu ia, as pessoas que eu andava, os amigos que eu fiz, tudo, de certa maneira, estava ligado ao hardcore. Mesmo ouvindo menos Dead Fish hoje em dia, toda vez que vou no show deles volto a sentir as mesmas emoções que sentia naquela época. Parece que com o passar do tempo as músicas desse disco fazem mais sentido pra mim, é um disco que vou ouvir com 60 anos.

Ouça “Canção Para Amigos”:

Noção De Nada – “Trilogia Suja De Copacabana” (2004)
Alguns discos ganham um significado muito maior quando ouvidos num período certo da sua vida. Na minha opinião, o “Trilogia Suja De Copacabana” é um disco sobre amadurecimento. E na época eu passava por aquele período de fim do colégio, vestibular, escolha do que fazer dali em diante. Nessa época também, um grande amigo meu Daniel Hogrefe (mestre!) montou uma loja de discos, um desenvolvimento da banquinha de merchandise que ele tinha. Eu e o Daniel éramos muito fãs do Noção De Nada e foi na Máquina que eu comprei esse disco. Bem, ver a loja nascer e fechar as portas foi um processo de amadurecimento. Crescer não seria fácil.

Ouça “Ímpar”:

Radiohead – “Ok Computer” (1997)
Clássico. Sem dúvida, um dos discos que mais ouvi. A grande coisa do Radiohead foi ter aberto a minha cabeça para coisas mais experimentais. O meu interesse por coisas mais estranhas, com certeza, passa por esse disco. Foi um álbum importante pra pensar as coisas de maneira diferente.

Ouça: “Exit Music”:

Constantina – “Constantina” (2005)
Para mim, uma joia da música independente brasileira. Um álbum presente de maneira forte na minha vida desde 2006, de certa maneira um balizador pra algumas escolhas que fiz (como ingressar na carreira acadêmica e criar o LAB em 2009). Criei grandes amizades (Daniel, Bruno e Flora) a partir desse disco, sem dúvida algo que sempre me trará lembranças incríveis. Talvez o Constantina nem saiba, mas sempre serei grato a eles por esse disco!

Ouça “Santa Rosália”:

Mogwai – “Rock Action” (2001)
Falar do Mogwai é sempre complicado. Se o “Ok Computer” foi um disco que abriu a minha cabeça pra coisas mais experimentais quando eu tinha 17, 18 anos, o “Rock Action” virou tudo do avesso quando eu fiz 20. Esse ano vi mais um show do Mogwai (durante o Sónar SP) acompanhado de alguns amigos (Elson, Joaquim, Marcelo e, inclusive, o editor deste blogue). Todos ainda temos aqueles momentos registrados na memória e tenho certeza que não serão esquecidos tão cedo. Mogwai é isso aí…

Ouça “2 Rights Make 1 Wrong”:

Owls – “Owls” (2001)
Esse é o disco dessa lista que eu conheci por último. Foi um dos casos de amor à primeira ouvida e fiquei com a impressão que eu já gostava desse disco antes mesmo de conhecê-lo. Sempre fui fã da “família” Joan Of Arc, dos irmãos Tim e Mike Kinsella e do guitarrista Victor Villarreal. Esse disco representa, na minha humilde opinião, o melhor de cada um desses caras. Canções complexas, tortas, quebradas e mesmo assim muito assimiláveis. Se não fosse Túlio Castanheira e Thiago Vieira, poderia haver outro disco nesse lugar.

Ouça “Holy Fucking Ghost”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: My New Device”.

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