No Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH, da ONU, a Noruega está em primeiro lugar. Significa que em questões como “riqueza”, “alfabetizaç?o”, “educaç?o”, “natalidade”, “esperança de vida”, “aacesso à informaç?o” e outras, a Noruega é a melhor do mundo.
Dando uma volta por Oslo, você pode obeservar muitas dessas e outras qualidades. A segurança é uma delas. Quase n?o se vê polícia nas ruas. Quando se vê, os policiais nem est?o armados. Sim, políciais n?o usam armas em Oslo – só um cassetete. N?o precisa. Se você esquecer algo de valor em local público, é bem provável que você encontre ali mesmo intocável, ou num posto de achados e perdidos. Eu tive essa experiência e foi bem agradável. Além disso, há a sensaç?o de que você pode caminhar pra todo lado com tranquilidade.
Existem mendingos. Eu vi mais deles aqui do que na Suécia (que fechou em décimo lugar o IDH de 2011), mas eles n?o pedem nada. Ficam esperando que você dê seus trocos, em copos de plástico no ch?o, de cabeça baixa. Est?o envergonhados da situaç?o. Ou s?o drogados sem esperança, desempregados, ou vagabundos, ou imigrantes ilegais sem emprego presos no país, ou desafortunados de alguma espécie.
Na Sentralstasjon de Oslo, vi uma cena curiosa: uma pedinte abordou um homem, que parou pra ouvir a lamúria da cidad?. Foi educado ou, claro, nunca esteve num país como o Brasil. Se ele fosse ouvir a história de todos os pedintes…
A Noruega é melhor por isso? Certamente n?o. O número baixo de mendingos ou a maneira como eles se portam n?o faz de nenhum povo melhor do que outro. Mas a forma que o estado e os próprios codad?os tratam uns aos outros, sim. Nível de corrupç?o está perto do zero. Respeito pra com os contribuintes é total, ruas limpas (cheguei a ir bem além do centro por onde abelham turistas), transporte público eficiente, tudo em troca de uma grande parcela do seu salário em impostos (mais de trinta por cento – e da grande maioria).
Há uma igualdade aparente. Pobres s?o menos pobres perante os ricos, que s?o abastados, como em qualquer sistema capitalista, mas menos infames na riqueza (aparentemente, reforço). E há oportunidades a todos que queiram trabalhar pra burro.
Sim, porque n?o há outra alternativa. Ou se trabalha onde é possível ou se morre de fome. Há uma falta de m?o-de-obra da base da pirâmide de qualificaç?o, que sobram aos jovens ou as imigrantes (s?o muitos muçulmanos). A comida é muito cara. O aluguel é muito caro (750 euros por mês por um cubículo?). O custo de vida é alto, mas retorno em qualidade parece valer a pena.
Até no básico, com cultura. Livros baratos ou pockets chegam a algo como 50 reais em livrarias de rede (espécies de Sariava), mas os lançamentos chegam a 120 reais. N?o achei um sebo relevante, mas existem, por certo.
Queria mesmo era ver algo sobre música. Disseram-me que um lugar bom pra achar discos de bandas locais era a Tiger, na Hammersborggata, uma pequena rua sobre a Ring 1. É uma loja pequena mesmo, com três estantes com CDs e vinis, além de uma modesta de livros usados, que n?o me serviriam pra nada, a n?o ser que eu falasse norueguês, o que n?o é o caso.
A loja existe há mais ou menos quinze anos (o rapaz que trabalha ali n?o soube precisar) e tem de fato uma boa coleç?o de bandas locais, mas nem assim a preços diferenciados. N?o s?o caros, todavia: algo em torno de 40, 50 reais, o CD, ou 90, 100 reais o vinil, sem muitas raridades.
Comprei por comprar, como souvenir apenas, o primeiro EP do Dråpe (do qual já falei aqui). Mas recebi boas dicas de bandas locais, sobre as quais falarei em breve.
Nessa época, final de primavera, começo de ver?o, os shows interessantes s?o raros em Oslo. As bandas est?o excursionando pelos festivais europeus e v?o bater pela Noruega apenas no final de julho, começo de agosto. Por isso, de bom mesmo, minha agenda bateu com o Lee Ranaldo na cidade, em dois shows, um com sua banda completa (n?o o Sonic Youth, claro), outro naquele seu projeto com a esposa, que esteve recentemente no Brasil, em Belo Horizonte. Foi no Blå, uma especialíssima e linda casa de shows. A agenda aqui é preciosa nesse período.
Vale se ligar também na programaç?o do Cafe Mono, no centro, e do complexo Rockefeller (veja essa lista!).
Ainda tem a Revolver, uma casa que reúne bar, restaurante, palco pra shows e pista de dança, rolando só bandas alternativas, “indies” e afins. Os preços, perto da média da cidade, s?o apresentáveis (principalmente a comida). É pra colocar essas “indie parties” brazucas no chinelo. Detalhe: aqui dificilmente tocam bandas cover.
Todas essas casas tomam cuidado de seus espetáculos acabarem a tempo do público retornar pra residência com transporte público, algo que em S?o Paulo (no Brasil inteiro, é verdade), tirando o SESC, é um ato de respeito ignorado – até desprezado por alguns “produtores de shows”. Os preços das apresentações ainda variam de 50 a 100 reais, dependendo do artista. Elvis Costello, por exemplo, fugiu dessa regra, e custou perto de 300 reais.
Mas no custo de vida do norueguês de Oslo, onde uma cerveja num bar pode custar facilmente 25 reais e um hambúrguer, 40, esses preços parecem bobeira.
Mesmo assim, ninguém é bobo, Pra boas pechinchas, n?o há ponto melhor do que a lojona Råkk & Rålls (que quer dizer literalmente “rock & roll” – foto de abertura deste post). É uma baita loja no centr?o turístico da cidade, com três andares, e muitas, muitas raridades de bandas locais, rock, indie, dance, eletrônica, jazz, blues, punk, hardcore, vinis, compactos, camisetas, revistas, jornais de música, broches… Parece ter tudo aqui. Se você tiver dinheiro, certamente vai ser difícil resistir à tentaç?o. Fica na Akersgate, 39. A visita vale mais até do que o Slottsgarten, os jardins do palácio real e os preços s?o bem mais convidativos, dependendo do grau de raridade do disco. Tem peça, por exemplo, de 10 reais.
O atndimento n?o é lá muito amigável, mas quem se importa, quando é possível achar singles raros do Kraftwerk, do Stone Roses ou do Velvet Underground?
Oslo é uma cidade pequena. S?o apenas 600 mil habitantes. Parece-me bem mais fácil arrumar soluções pra beneficiar a vida de 600 mil pessoas do que de 5 milhões, por exemplo, do Rio de Janeiro (que sofre ainda por cima, como qualquer cidade brasileira, com a epidêmica corrupç?o que esvazia o dinheiro público, dos impostos). A comparaç?o é injusta até. E a Noruega, independnente há pouco mais de cem anos (da Suécia, 1907), pobre até a descoberta do petróleo na década de 1950, é um país e um povo ainda descobrindo seu potencial, longe daquele milenar dos vikings, cheio de histórias emocionantes e surpreendentes. Custa caro viver e passear por lá, mas a descoberta de seus tesouros é uma delícia, principalmente dos pequenos tesouros pra quem gosta de música como esses.
[…] a boxes e CDs raros novos, a loja (que oferta bons preços) pode falir economias claudicantes. A dica esperta do amigo Fernando Augusto Lopes rendeu algumas preciosidades para o acervo pessoal, e se um dia eu voltar a essa cidade, passar na […]