A Herod é uma das mais “corajosas” da música subterrânea brasileira (vai entre aspas porque “coragem” e “banda subterrânea” já vêm ligados): sem medo de ousar e errar em projetos que podem se revelar um mico, a banda mergulha de cabeça e tem acertado nas suas escolhas até aqui. Foi assim recentemente no acertado tributo ao Kraftwerk – que deve render um disco (veja aqui duas músicas) – é assim nesse estranho projeto chamado “BRINK”.
“BRINK” é uma coletânea organizada pela ATTN:Magazine, que tinha apenas uma regra: os artistas voluntários deveriam entregar duas peças musicais, uma com o título “DEATH” e outra com o “LIFE” e cada uma das duas deveriam ter exatamente um minuto, nem um segundo a mais ou a menos.
O resultado divulgado hoje tem incríveis cento e cinquenta e seis minutos de música (setenta e oito artistas abraçaram a causa), num esquema que pode ser baixado de graça em dois formatos: as músicas separadas (“DEATH” – “LIFE”) e elas unidas numa única peça de dois minutos (“DEATH” + “LIFE”). Baixe a loucura toda aqui ou ouça tudo na conta do Instagram do projeto.
A ATTN:Magazine ainda sugere três maneiras de ouvir o projeto, já que não há uma ordem indicada de “lista de músicas”: baixar tudo separado e ouvir “LIFE” e “DEATH” no randômico do seu tocador de MP3; ou ouvir apenas as “LIFE” ou apenas as “DEATH” no randômico; ou baixas as faixas unidas, de dois minutos, e ouvi-las no randômico.
A maioria são artistas experimentais. Dentre esses, a brasileira Herod é a única banda com baixo-guitarras-bateria.
Elson Barbosa, baixista, conta como o grupo trabalhou o desafio: “a gente foi pro estúdio Bureau gravar a ‘Koma’ (veja aqui). E combinamos que se saísse a ‘Koma’ e ainda sobrasse um tempo, íamos tentar gravar essa “LIFE”/”DEATH”. Daí sobraram trinta minutos, decidimos fazer, compusemos os detalhes em uns dez minutos, ensaiamos umas três vezes, e mandamos gravar. Tirando uns overdubs que fizemos com uns efeitos, o resto foi ao vivo”.
Nas duas faixas, ouvimos o noise da “LIFE” ser abruptamente interrompido e seguindo no início de “DEATH”. Elson explica: “a ideia era meio essa – a “LIFE” começando no ambient, passando pela vida em si (a parte noise-rock) e acabando no noise. E a morte começando no noise, no fim da vida, até acabar no ambient com o mesmo efeito do começo da vida, fechando o loop. O corte abrupto é proposital, pra conceituar a diferença entre o fim da vida e o começo da morte. A gente pensou em vida ser pesada; e morte, leve”.
O resultado você ouve abaixo, com as duas faixas separadas e depois unidas: