Eu sou do time que não dispensa um presta-atenção bem dado, com elegância – e, como não sei fazer música, tenho talento zero pra isso, ver alguém utilizando sua arte pra passar determinados recados causa certo conforto. Foi o que Jonathan Tadeu fez aqui em “Sorriso Amarelo”, extraída de seu terceiro disco, “Filho Do Meio”, de 2017 (leia aqui a entrevista sobre o trabalho).
“Essa música é uma homenagem pra galera que tanto me subestimou até aqui e pra quem sempre fez piadinha pelo fato de eu ser um negro fazendo ‘som de branco’. Um abraçaço prum cara branco que elogiou um show da Quase Coadjuvante dizendo que se assustou com dois negros fazendo rock e pruma mina que me chamou de exótico num show da Lupe (De Lupe) em Uberlândia. Cês podem até me rotular, mas eu vou continuar fazendo o que eu quero”, escreveu numa rede social, pra divulgar o vídeo-letra de “Sorriso Amarelo”.
“2016 eu toquei num festival pra mais de mil pessoas / e muita gente imaginou que eu era a banda de abertura / Parecia um milagre / 4 caras sem nenhum glamour / um vocalista meio exótico / e o batera também / dois negros no lugar errado // e quem ouve os meus discos / imaginando que eu sou um cara branco / ou quem acha um absurdo eu sair num site / sem ter feito nada além de música / eu só tenho a música / eu só tenho a música // talvez seja um insulto / eu ter mais talento que alguns amigos brancos / eu nunca me importei com nada / mas é bom lembrar / que eu faço o que eu quero / e quando eu faço o que eu quero / o mundo inteiro sorri amarelo pra mim”, diz a letra.
“Eu só tenho a música” é dito enquanto a guitarra rasga num enlouquecimento melancólico, quase dando uma banana a quem ainda fia suas análises em preconceitos seculares, num mundo cada vez mais alerta e com pessoas sem medo de responder a comentários idiotas (e pretensamente “inocentes”).
Jonathan deu uma resposta aqui. Ele não tem “só a música”, como se vê: há um ímpeto e uma coragem pra enfrentar as mentes despreparadas.