O Rolling Stones é como feijoada e caipirinha. Feijoada é basicamente um cozidão de feijão com partes do porco. Caipirinha é gelo, açúcar, limão e cachaça. Qualquer variação disso é uma heresia, deixa de ser feijoada ou caipirinha.
As iguarias são assim desde sempre e nem por isso deixam de ser maravilhosas, quando bem feitas. Há um equilíbrio de ingredientes na receita que é imbatível.
Com a música do Rolling Stones é a mesma coisa. Há cinquenta anos, esses caras fazem a mesma música. Qualquer variação na receita pode desandar o sabor, como a própria banda já fez algumas vezes na sua trajetória, escorregando – ou detectar uma imitação que não cai bem, tipo caipirinha de vodca ou de qualquer fruta que não seja limão. É uma questão purista.
Nessa nova “One More Shot”, uma das duas inéditas que a banda incluiu no disco comemorativo aos cinquenta anos de existência, “Grrr!”, junto com “Doom And Gloom”, o bluesão, a ginga, a malemolência, tá tudo aí.
É pra saborear e lamber os beiços.
“Doom And Gloom” evidenciava perigosidade, ferocidade e a voz de Jagger, qual diabo à solta, parecia ameaçadora. “One More Shot” acaba por ser uma música a meio gás dos Rolling Stones. É uma espécie de encontro entre “Street Fighting Man” e “Mixed Emotions”. Tal como muito material recente dos Stones, aproxima-se de um conceito quase redundante, por não comprometer nem sobrevalorizar o seu património. Ainda assim escapa da mediania, porque a banda inglesa raramente inclui músicas fracas em coletâneas.