Acompanhar a caminhada de Valciãn Calixto por um trajeto mais diretamente politizado tem sido um agradável prazer. Seu segundo disco, “Nada Tem Sido Fácil Tampouco Impossível”, que sai ainda em 2020, e que vem sendo divulgado, faixa a faixa, aos poucos, durante essa dura pandemia, revelou esta “Nya Akoma”, talvez a melhor canção criada pelo piauiense.
“Akoma é um símbolo que faz parte da simbologia Adinkra, manifestação cultural ancestral do povo Axante (Gana, África ocidental). Uma das mais antigas e conhecidas representações do coração, geralmente associada ao amor e ao romantismo, tem na realidade como significado ‘paciência e tolerância’. O provérbio Nya Akoma significa ‘tenha coração e tenha paciência’ e seu ideograma é conhecido mundialmente desde os tempos antigos”… Não, não sou letrado assim, roubei a definição da dupla niteroiense Aköma.
“A paciência é o pavio. A tolerância não dura pra sempre”, diz a dupla, no que Calixto deve concordar com todas as forças.
Os tempos pandêmicos, inacreditavelmente, são tembém tempos de intolerância, com o presidente abraçando o fascismo cada vez mais descaradamente, em manifestações que pedem o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, usando símbolos de supremacistas brancos e se insurgindo, veja só, contra movimentos antifascistas.
Não bastasse o problema de saúde pública, o mundo, especialmente o Brasil, tem que se preocupar em defender a democracia, e “Nya Akoma” é muito bem-vinda nesse cenário.
Em parceria com o rapper carioca Jeza Da Pedra, Calixto mistura ritmos da América Latina (que são muitos) e da África (que são infinitos, então perdão pelo simplismo) numa canção que mexe e faz mexer.
Há também uma melhora significativa no produto final, algo que incomodava bastante no bacana primeiro trabalho, “Foda!”, de 2016 (leia mais aqui).
Ouça, mexa-se e reflita: