Nenhuma pessoa que goste de música decente dá crédito pra parada da Billboard. Mas o mercado dá. Conseguir um “número 1” é um feito que vira manchete – e não só em publicações de música ou culturais. A Billboard e seus “números 1” ganharam tanta importância, que as vendas dependiam disso e não o inverso.
A primeira lista da Billboard saiu em 27 de julho de 1940: “a jovem Lista Nacional de Discos Mais Vendidos, de apenas 10 posições, abriu o caminho para sete décadas – e contando – de monitoramento da Billboard da popularidade da música”, diz o site brasileiro da revista. E segue: “posteriormente, o Country Songs, então intitulado Most Played Juke Box Folk Records, começaria destacando as maiores gravações de country na edição de 8 de janeiro de 1944. O Billboard 200 começaria mostrando os álbuns mais vendidos semanalmente a partir de 24 março de 1956. A premissa introduzida nesta data 70 anos atrás de elencar as músicas mais vendidas nos Estados Unidos iria se expandir para incluir um componente de rádios, estimulando o nascimento do Billboard Hot 100 singles com a estreia da parada na edição de 4 de agosto de 1958. A quarta parada sênior da Billboard em atividade, Adult Contemporary, foi lançada em 17 julho de 1961”.
Mas foi a Lista Nacional de Discos Mais Vendidos que começou a apurar nacionalmente as vendas no varejo. Uma lista semanal, a partir de informações de lojas de Nova Iorque e Los Angeles: “além das lojas especializadas em discos, o pout-pourri de contribuintes incluía Sears, Roebuck & Co., em Chicago, JB Branford Piano Co. em Milwaukee e Nolen’s Radio Service Shop em Birmingham, Alabama”.
Em 1940, obviamente não tinha uma só música de rock (ou coisa que o valha). O estilo viria a nascer uma década e meia mais tarde. Na verdade, a lista se baseia em vendas, 0u seja, no que é pop (de popular, literalmente). E isso pode querer dizer qualquer coisa. Mesmo.
Senão, veja a primeira de todas as listas:
Nº 1 – “I’ll Never Smile Again,” Tommy Dorsey
Nº 2 – “Imagination,” Glenn Miller
Nº 3 – “Imagination,” Glenn Miller
Nº 4 – “Playmates,” Kay Kyser
Nº 5 – “Fools Rush In,” Glenn Miller
Nº 6 – “Where Was I?,” Charlie Barnet
Nº 7 – “Pennsylvania 6-5000,” Glenn Miller
Nº 8 – “Imagination,” Tommy Dorsey
Nº 9 – “Sierra Sue,” Bing Crosby
Nº 10 – “Make Believe Island,” Mitchell Ayres
Quem mandava na parada eram as big bands e nesse quesito não havia ninguém maior do que Glenn Miller, a Mariah Carey das big bands. Tommy Dorsey e Bing Crosby não ficavam atrás em termos de popularidade. Os casais e as famílias nasciam no embalo dos naipes dessas bandas.
Os nomes hoje mudaram. A grana pra se conseguir um “número 1” aumentou assustadoramente. O público é que não. As pessoas ainda se deixam seduzir pela lista: se tá lá, deve valer a pena comprar o disco. Qualidade não é critério.
Assim caminha a humanidade…