Na última sexta-feira, 27 de janeiro, tive a interessante e desafiadora missão de cobrir o show do Penguin Prison, em São Paulo. Era uma noite chuvosa e cinzenta, em pleno verão.
O Penguin Prison ainda é daquelas bandas que quase ninguém se importa. Nascida em Nova York, é formada por três rapazes. O líder Cris Glover é o cara da banda, cantando e produzindo os remixes que os tornaram famosos na gringolândia. Já remixou faixas do Goldfrapp, Lana Del Rey, Marina And The Diamonds, entre outros. Stern-Ascher (sintetizador) e Ernesto Karolys (bateria) completam a formação (nos shows, há um quarto integrante manejando a guitarra).
Os rapazes vêm causando alvoroço desde 2009, com os singles “Don’t Fuck With My Money”, “The Worse It Gets” e “Fair Warning”; e, segundo a revista Rolling Stone, “devem ser seguidos de perto, pois prometem ser um dos melhores no electropop“. Suas influências são boas e as referências oitentistas aparecem não apenas no uso do sintetizador, mas nos clipes cromáticos e minimalistas.
Por cá, o Beco 203 descreveu-os assim: “constantemente comparado a grandes nomes como Hot Chip, LCD Soundsystem e Miike Snow, Penguin Prison é liderado pelo multi-instrumentista Chris Glover”… Pois é…
Com o hype todo, tocando em importantes eventos europeus, com boas referências e respaldados pelo boom midiático em sites, impulsionou-se o crescimento da massa de fãs; e a Playbook, em parceria com o Beco 203, trouxe os caras pra Sampa e Porto Alegre, através do financiamento coletivo. É uma amostra de que o público tá cada vez mais disposto a ver e ouvir coisas novas. A iniciativa foi boa.
Mas… Vamos ao show. Porque nem tudo funcionou às mil maravilhas, a despeito do que se esperava pra um evento “pago” pelos fãs.
Primeiro, a paciência foi pro saco por causa da falta de respeito com o lance do horário. No site da casa, dizia-se que o show começaria as 23:00h. Ok, estavam segurando um pouco, a galera estava chegando ainda, mas, pra quem nem era fã, o atraso desanimou – e foi um grande atraso, já que a banda só entrou lá pela 1:00h. É muito difícil cumprir horários aqui no Brasil? O Floga-se já deu sua opinião sobre esse desrespeito e falta de bom senso.
Pra aquecer, DJs jogavam na pista hits dos já citados LCD Soundsystem, Mike Snow e Hot Chip. Expectativa grande, já que eram os grandes nomes que o Penguin Prison era comparado. Seguraram o clima.
Eis que a banda foi ao palco. E logo na primeira música, Chris Glover desce à plateia e começa a cantar junto ao público. “Agora vai!”, pensei, mas… A música não ajuda. É tão sem sal quanto as originais em estúdio. Os caras tocavam no automático, sem empolgação, coisa mecânica mesmo. E veio outra música, e nada. Olhamos pro público, e tinha uma meia dúzia de gatos pingados dançando e pulando. Ué, cadê os 150 fãs que pagaram pra trazer a banda?
Terceira música, uma das mais famosinhas, a “Something I’m Not” e… Quase! Melhorou um pouco, mas não chegou a empolgar o suficiente. Aí veio “Animal Animal” e desabou tudo outra vez. Rodei um pouco pela plateia, pra ver se não era birra minha, e as pessoas estavam conversando! Pagaram sessenta ou cem dinheiros, sei lá quanto, pra conversar durante o show?
É claro: trouxeram os caras mais pelo hype mesmo, já que o público era formado por aqueles modernetes da Augusta, que gostam do que “ninguém conhece” e ouvem Oi FM – ou algo do tipo: certamente você tem na cabeça o rol de tipinhos inúteis, como diria Angeli, que moldam esses “modernetes”.
Mais duas, três músicas, e mesmo com umas cervejas na cabeça, desisti e fui embora. Tava dando sono. A não ser que tenham contratado umas profissionais da Augusta pra fazer uma exibição no palco, acredito que não perdi nada na parte final do show.
A conclusão? A iniciativa é boa, o Beco e a PlayBook estão fazendo algo interessante em estimular o público com novos nomes. Na tática da quantidade, porém, nem sempre vão acertar. Algumas bandas vão ser programas de índio mesmo. Mas ainda é melhor do que apostar nos medalhões de sempre. Tem que seguir tentando. Torço pra que continuem e tragam novas bandas, algo que instigue o público.
Porque o Penguin Prison é muito ruim. Comparar com LCD Soundsystem é uma blasfêmia, tem que pedalar muito pra chegar próximo deles. O som elaborado por James Murphy, líder do LCD, é encorpado, sombrio, extremamente elaborado e – por que não? – original. É uma música que literamente entra pelos poros e te faz vibrar. Equivalente a Hot Chip? Pode ser, o que não é exatamente um elogio, porque tirando um hit ou outro, Hot Chip é bem mala, ruim mesmo.
O fato de produzir remixes vez ou outra interessantes não credencia uma banda ao estrelato ou faz dela algo aprazível. Mais do que isso, é importante a perfomance de palco e, claro, um tanto de insubordinação pra com suas próprias referências. Isso é algo que está longe de ser alcançado pelo Penguin Prison.
Segue o setlist do show (alguém se interessa?):
01. Golden Train
02. The Worse It Gets
03. Something I’m Not
04. Animal Animal
05. A Funny Thing
06. Fair Warning
07. Desert Cold
08. Don’t Fuck With My Money
09. In The way
10. Blue Jeans Remix
Bis
11. Multi-Millionaire
Veja o vídeo de “Fair Warning”:
Vídeo por RodolfoYuzo
Texto: Leandro Prone | Fotos: Leandro Devitte
Bela editada, Zero. Hehehehe
Valeu pelo convite novamente! Abraços
Palavra de crowdfunder experiente, já banquei muito show sem ser fã da banda, por simplesmente respeitar o trabalho de banda e achar válido um show improvável por aqui. Numa dessas tomei um “prejuízo” de 70 reais mas ganhei o melhor da minha vida. haha
De qualquer forma, esse Penguin Prision me parece mais uma banda indie genérica que serviria de abertura pra show de muita banda pouco conhecida por aí.
E… parece que crowdfunding virou moda e tem gente que tá simplesmente brincando de fazer isso. Chato.
[…] Howler foi da PlayBook, via financiamente coletivo (a mesma que já trouxe o Tokyo Police Club e o Penguin Prison). Eu repito que é preciso aplaudir tal movimento, independente da banda que se tente trazer. Isso […]
[…] e Chinese Cookie Poets, fomos “premiados” também com besteiras do porte do Howler e do Penguin Prison, cortesia do reduto indie que se tornou o M/E/C/A Festival, no Rio Grande Do […]