PENSE OU DANCE: A MORTE DA MTV BRASIL

A estreia se deu em 20 de outubro de 1990, pelos canais 32 UHF (em São Paulo) e 9 VHF (Rio de Janeiro). Era a segunda aventura da MTV fora dos Esteites. A primeira havia sido a MTV Europe. Não havia tevê a cabo naquela época, vale lembrar, e Internet era papo de uma turma de privilegiados das grandes universidades dos Esteites.

No Brasil, com os anos 1980 bastante fervilhantes pra cultura jovem – do pop da Blitz à Legião Urbana, Ultraje A Rigor, Paralamas do Sucesso, RPM, passando pela criação da Bizz e do Rock In Rio – a novidade chacoalhou todo moleque que gostasse de música. E o mercado também, claro.

A proprietária, o Grupo Abril, porém, enfrentaria um problemão: nem todo mundo tinha acesso aos tais canais transmissores do sinal. Era realmente um público restrito. Mesmo assim, valia a pena arriscar.

Do ponto de vista comercial, não foi a melhor empreitada do mundo, como se vê agora, com o fechamento total do canal e a devolução da marca à detentora mundial, a Viacom. Dia 30 de setembro de 2013, encerra-se a MTV Brasil. Dia 1º de outubro de 2013, surge a MTV (sem o “Brasil” no nome) tal como é no mundo, só na tevê por assinatura, baseada na produção gringa, mas com maior potencial de audiência e, talvez, comercial.

Do ponto de vista cultural e social, foi um dos melhores acontecimentos no Brasil. Era uma época em que uma turba de jovens finalmente se tornava consumidora e era ouvida. O sucesso dos produtos culturais pra jovens nos anos 1980 dava bom lastro pra essa empreitada. Sem a tecnologia horizontalizada proporcionada pela Internet, a MTV e seus DJs cumpriam um importante papel de apresentar novos nomes ao público e de inflar e sedimentar a carreira de astros que a indústria queria consolidar. Havia espaço pra todos.

Marina na sua versão remixada de “Garota De Ipanema”: o primeiro vídeo da MTV Brasil

Nessa época, com sua inovadora opção de transmitir durante as vinte e quatro horas do dia, havia bastante espaço pra expressões musicais de todos os estilos. Era uma emissora segmentada, e que abria-se aos nichos: tinha o “Fúria Metal” (heavy metal), o “Yo!” (rap), “Lado B” (alternativos em geral) etc.

E o videoclipe era uma ferramenta e tanto pra divulgação de discos – até o surgimento do YouTube, em 2005, com sua rápida popularização.

Foram vinte e três anos de vida. O que fez a MTV Brasil afundar e ver determinado seu fim?

Lembro que naquela época, tal como se fazia ao ouvir rádio, a gente deixava uma fita VHS no video-cassete na esperança de surgir um clipe bacana e gravar pra poder ver a hora que quisesse. Parece estranho tal mania, em tempos de YouTube, mas era como se fazia. Uma K7 pra gravar músicas do rádio e um VHS pra gravar clipes, as fitas sempre de prontidão. Até a chegada da MTV, clipes eram filminhos difíceis de assistir no Brasil, na escassa tevê aberta (a única disponível).

Ou seja, a MTV fazia de fato jus ao nome: era um canal de música, que informava e que, no fim da ponta, ditava comportamentos de consumo, inclusive na moda, nos esportes e no modo de pensar.

A MTV também possuía uma estética. Clipes tinham “uma cara”, uma seara de onde surgiram vários cineastas que tomaram as telas do cinema bons anos depois. Foi onde, mais do que na publicidade, uma turba de profissionais de cinema e vídeo construíram currículo.

Clipes já não tinham aquela “cara do Fantástico”, o programa quarentão da Globo que era um dos poucos espaços pra produções do tipo: nada de gelo seco, edições e fotografia cafona, e direção preguiçosa.

Mas veio a Internet e o YouTube, e a MTV Brasil, mais do que a gringa, precisou se renovar de alguma forma – e foi aí que perdeu o rumo da história. Lutou nos últimos dez anos contra um inimigo inefrentável: a captação de novos espectadores que estavam diante da disponibilidade do mundo inteiro na tela do computador.

Apelou, então, pro que acreditava que o jovem queria: programas de humor toscos, se tornando trampolim pra humoristas infames, além de hipsters de toda espécie, que se preocupavam mais com a imagem, com moda, estilo, do que com música. Uma emissora jovem que buscava o jovem e largava mão dos que cresceram e amadureceram, mas ainda podiam ser espectadores. A MTV atirou errado, errou o alvo.

Dizer que o YouTube matou a MTV não é besteira, mas não é a verdade absoluta. Pode ter havido planejamento equivocado de orçamento, má administração ou coisa que o valha. Pode ser. Mas provavelmente a causa está no desvio de foco. A MTV deixou de lado o seu objetivo principal, a música. Se o último grande programa musical e “inovador” foi o “Acústico MTV”, isso dá a conta do quanto o canal derrapou até se danar.

Acústico MTV Legião Urbana na íntegra (28 de janeiro de 1992):

Enquanto isso, outros canais foram dando, nos últimos anos, uma pista do caminho que a MTV poderia ter seguido: criar programas musicais cujo produto musical fosse único.

É o que se vê no “Experimente” e no “Contos do Rock” (ambos do Multishow), é o que o Canal BIS tenta fazer com documentários e afins, é o que a própria MTV fazia no “Lual” ou na “Casa Da Praia”: produções próprias que só se veriam ali.

E é o que se vê nos programas de entrevistas “tarde da noite” estadunidenses, do David Letterman e Jimmy Fallon, com bandas e nomes que ocupam o palco em performances únicas e que acabam replicadas em dezenas de blogues e sites pelo mundo.

Onde estava a MTV Brasil nesse tempo todo? Deixando a música de lado e fazendo comédia?

Lual MTV Raimundos na íntegra (2000):

Nesse último suspiro, em 2013, já com o caixão encomendado, a emissora despirocou e abriu espaço novamente pra música. Há clipes e há clipes ditos “alternativos”. Pena que não importa o tamanho da audiência que essa derradeira fase dará: o que a MTV Brasil fez nos últimos dez anos deixa pouca saudade, há quase nada a se louvar.

O canal perdeu a chance de abraçar e construir um novo público, de uma nova era. A relação com a música mudou completamente nos dias de YouTube-MP3-Stream. Na incapacidade de acompanhar os novos tempos e entender os desejos da “geração milênio”, a MTV Brasil simplesmente perdeu a importância e morreu.

Provavelmente, deixará saudades apenas naqueles que presenciaram a MTV falando, discutindo e mostrando música.

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9 comentários

  1. Quero apenas registrar que em 2011 eu, Chuck Hipolitho e China entramos no canal com quatro programas estritamente musicais: o Goo, o Big Audio e o Na Brasa. Esse último foi o primeiro a mostrar na TV Emicida, Criolo e muitos outros. A aventura durou cerca de oito meses – em 2012 a grade estreou com a música relegada à drops nos intervalos dos outros programas (de comédia, papo sobre sexo e afins). O único programa musical que durou foi a parada de sucessos chamada Top10. Mas digo isso apenas para corrigir: nós tentamos colocar música na mtv nos últimos dois anos. Pena que quase ninguém viu e a própria emissora não abraçou como gostaríamos. []s!

  2. Tens toda razão. Uma pena que a tentativa de vcs não tenha vingado. Se não tivesse salvado a emissora (que acredito já estar em estado terminal a essa altura – chute meu apenas), teria ao menos sido uma bela amostra ao novo público de como a MTV deveria de fato ser. Oito meses ainda foi uma sobrevivência heróica. Eu já havia aplaudido isso em “Os Discos Da Vida” da Gaía. Valeu pelo comentário!

  3. Ou, eu quero falar uma coisa que está engasgada na minha garagnta há muito tempo. A MTV É UM ARRASO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! É O MÁXIMO!!!!!!!!!!!!!!!!!! TÁ BOM???!!!!! Quem fala o contrário não sabe nada. A MTV me apresentou recentemente excelentes bandas. Mas não é só isso. Apresentou excelentes humoristas, bons momentos, VAMOS ASSUMIR, GALERA. A MTV é criativa, única, louca, descontraída, inteligente. A MTV É FANTÁSTICA. SE um adolescente dessa geração medíocre e nerd que só fica em computador vendo e escrevendo baixarias critica vocÊs, não levem em conta. Ele não pensa. A MTV É FANTÁSTICA. As vinhetas, os programas. Só foi ruim quando voces compraram, sei lá, programas dos EUA. Aí era um lixo mesmo, aquele “My sweet sixteen”. 😛 Ou “Pimp my ride”. MAs a MTV BRASIL É MAR SEM FIM DE CRIATIVIDADE, ALEGRIA, DESCONTRAÇÃO E MUITO MAIS. BEIJOS E ABRAÇOS E QUEIJOS! EU SIMPLESMENTE ACHO VOCES IMPOTANTÍSSIMOS. NUNCA ACABE, MTV!

  4. Pois é Gaia, fiquei até feliz quando anunciaram que teriam os programas de vocês, até pensei por aquele momento: finalmente a MTV vai voltar a passar música!
    Infelizmente foi durante pouco tempo e quase nada virou, a programação já era dominada por “comediantes” que não entendo aonde aquilo era engraçado e se dava no conteúdo de uma emissora que tinha MUSIC TELEVISION no nome!! Sem contar com programas que eram audiência em canais do YouTube que acharam q seriam interessante passar na MTV, fazer o q? Má administração da nisso mesmo!
    Enfim, as únicas coisas que ainda prestavam na MTV de 10 anos pra cá eram as madrugadas, onde ainda se passavam as reprises de vários programas que deixaram de existir e alguns ainda sendo segurados como CLASSICOS MTV, FURIA MTV e outros do tipo.
    As vinhetas artísticas tb eram umas das poucas coisas que restavam de bom na programação atual.
    Saudades de programas de conteúdo musical onde Gastão, Kid Vinil, Masssari, Thunder e tantos outros que realmente entendiam de música apresentavam, e isso n é papo de velho que diz: Na minha época…, é papo de quem gosta de música de verdade com conteúdo!
    Enfim, finalmente depois de pouco mais de 10 anos a ZTV (Zumbi TV) anunciou o fechamento, já era hora de assumir tanta merda que foi feita, e deixando claro q poucos programas como a Gaia citou, n foram dado as devidas atenções!
    E que venha a MTV Gringa com bons conteúdos, assim esperamos, caso contrário que ficamos com nossa boa internet vasculhando, o que há de melhor, mais distante, mais alternativo e de boa qualidade, conteúdos que possamos realmente ouvir com prazer!

  5. Só acho injusto crucificarem a comédia da MTV. O Comédia e o Furo, por exemplo, eram ótimos no que se propuseram a fazer e não era humor babaca, a lá Pânico na TV, e nem humor pedante que se diz inteligente a lá CQC (embora fosse bem sutil e crítico em várias esquetes). E teve uma época que inclusive tinha clipe no final de cada edição do Comédia MTV, se é que isso “ajuda”. E não sei muito o que a MTV tinha na cabeça pra jogar programas tipo o Goo MTV num SABADO A NOITE e deixar aquele “Não tem clipe mais é legal” antes do carro-chefe da emissora na época (Furo MTV) pra afundar até o que dava certo. Errinhos que custaram caro, infelizmente, porque a nova MTV de brasileira não vai ter praticamente nada.

  6. Na minha opinião Gaia e Chuck Hipólito tem a cara da MTV que eu amo dos anos 90, claro que são apenas 2 contra os astros da minha adolescência Cuca, Massari, João Gordo, Mion,Didi Wagner, Edgar, Fernanda Lima… mais esses dois me deram esperanças que a MTV iria dar a volta por cima. sentirei falta do trabalho pesado da MTV em pesquisar todas as tendencias e me jogar “mastigado” na tela com imagem e som em HD, e agora só me resta o youtube sem graça porque eu tenho que pesquisar e sem a surpresa da MTV, é chato!!! é triste!! a MTV além de tudo nos apresentava uma surpresa!! bandas e estilos que jamais vou saber pesquisar sozinho no meu computadorzinho com o som terrivel!!

  7. Gaía, Chuck e China realmente fizeram possivel para recobrar a credibilidade e a audiência da MTV brasileira. Ouso dizer que os três entraram para o hall onde estão Cuca, Astrid, Thunderbird, Léo Madeira, Fábio Massari e tantos outros vj’s que invejamos e temos como heróis por estarem função sonhada por nós em nossa adolescência. Os três sacam tremendamente de música e seus programas eram ricos em informação e clips. Sim, video-clips! Mas, era tardea tentativa porque Zico Góes fez com que o povo perdesse o hábito de assistir a emissora. O mérito pela falência da nossa MTV é toda dele que, em 2006, anunciou “o fim do video-clip”. Que desastre! Agora, nas mãos da Viacom, teremos uma mera repetidora da péssima programação gringa, que é alvo de críticas dos americanos por causa da ausência da música.

  8. Mera bobagem achar que a MTV acabou por causa do Youtube, por causa da comédia, porque tava falida. Quer canal mais falida que a Rede TV? E ainda não fechou as portas, meus amores… A MTV acabou por algo muito maior. Vamos lá: foi a única emissora que falava abertamente de homossexualismo, de drogas, da AIDS, de música pop e alternativa, de palavrão, da política (e não era bem), de sexo. Era uma TV livre por ser escrachada. Só para vocês verem, Hermes e Renato fez sucesso na MTV porque eram pobres e depois foram para a Record e ficaram umas bostas. A MTV era a única canal que era politicamente incorreta. E hoje em dia é muito feio ser politicamente incorreto. Hoje em dia você tem que amar os animais, salvar o planeta, ser contra o aborto e ter amigos gays, mesmo não gostando deles. A MTV foi uma canal única. Claro, tinha coisas que não gostava na emissora, mas sentirei falta do meu escape da Tv brasileira. O que temos em relação a canal de música? Multishow? Mix TV? Vh1 (se você for pobre você não tem esta opção). A MTV vai virar uma canal evangélica, que é super legal porque os evangélicos vão para o céu, mas quem transa antes do casamento não. Nada contra, sabe, é só que não há espaço para a subversão na TV brasileira. E é este o verdadeiro motivo, dentre os outros que são reais, para a MTV ter acabado. Minha opinião, claro ^^

  9. a mtv era boa nos anos 80 e 90 depois foi decaindo cada vez mais,porque a família tradicional brasileira começou a assistir,aí tiveram que mudar o conteudo jovem irreverente e contestador pra agradar a um bando de velhos e criancinhas catarrentos,caretas e cheios de preconceitos,aí fizeram um monte de programas estilo caldeirão do huck,as vinhetas criativas e engraçadas sumiram.e foi piorando até os videoclipes sumirem também,depois veio a falência e a compra da mtv pela globo,hoje em dia só passa programas de realyt shows mostrando um monte gente sem cérebro fornicando embaixo do edredon
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