PENSE OU DANCE: A NOSSA REALIDADE

Uma boa questão apareceu por conta do mais recente Lollapalooza. Os horários de muitos shows se digladiavam por atenção dos participantes, acavalando-se e obrigando a todos uma escolha por esse artista ou por aquele.

Logo, os idiotas da objetividade sentenciaram: se é assim lá fora, tem que ser assim aqui. A resposta, porém, utiliza da generalização pra encontrar uma pretensa verdade.

Sim, “lá fora” os horários das bandas nos festivais se acavalam. Em festivais grandes, mas não nos menores, nos medianos. Há um bocado deles onde o espectador pode alternar de um palco a outro, de maneira a assistir a escalação toda. Isso é normal.

Mas vamos falar dos grandes, porque o idiota da objetividade (como bem diria o Nelsão – e perdoe-me o leitor pela intimidade forçada) dirá o óbvio, que o Lollapalooza é grande, mesmo que pra ele o critério sirva pra outros menores (o Planeta Terra é um festival pequeno ou grande?).

Entretanto, é importante considerar que não precisa ser assim. Quer dizer, o esquema escolhido não está errado, simplesmente porque é o esquema escolhido na maneira que a organização achou correta, dentro das negociações com a bandas – e ninguém pode simplesmente decretar o certo e o errado nesse caso, sem estar por dentro, nos bastidores. Mas não precisa ser assim só porque “lá fora” é assim, só porque os festivais internacionais – generalizando – são assim.

É preciso considerar a nossa realidade pra poder entregar ao cliente, o fã que compra o ingresso (usualmente – e alegadamente – caro), o máximo possível da escalação.

Essa realidade não considerada explica exatamente o motivo pelo qual um Lollapalooza, pra usar o exemplo de festival “grande”, é um sucesso: a maioria das bandas atraentes da escalação raramente vem ao Brasil.

Num festival “lá fora”, igualmente grande, as escolhas em horários acavalados, embora também dolorosas pra alguns espectadores, são um tanto mais fáceis de serem feitas, porque é fácil deixar de ver uma banda que está sempre visitando aquelas redondezas.

Um comprador do Coachella, do Reading, do Primavera, por exemplo, pra citar os maiores, pode facilmente decidir entre o Wilco e o Arcade Fire, duas das bandas que causam maior histeria por cá, simplesmente porque ambas as bandas volta e meia estão nessas praças ou bem perto delas em suas turnês usuais. Perdeu no festival, pode-se encontrá-la no mês seguinte, não é preciso esperar dez anos. A oferta é bem maior.

Por essa lógica simples é que festivais como o Lollapalooza deveriam estabelecer uma agenda mais amigável aos seus consumidores. Na edição 2014, as reclamações foram muitas. Não precisava ser assim – não apenas porque “lá fora é assim” (repito: deve haver uma explicação mais lógica do que essa, organizacionalmente falando, como por exemplo evitar que cem mil pessoas se acotovelem na frente de um só palco, por segurança).

O Brasil tem muito o que aprender com as experiências bem sucedidas no exterior, mas isso não quer dizer que precisamos seguir à risca o que é feito lá. São culturas, cenários, histórias, necessidades diferentes. Vale pra bobagens como festivais de música, vale pra coisas sérias como educação, segurança, economia, desenvolvimento social.

No caso dos festivais, com os preços sempre exorbitantes cobrados aqui, não custa tentar uma maneira de entregar o máximo ao pobre consumidor. O modelo de lá ser tornou vencedor, rentável, jogando a favor do cliente. O daqui segue na mesma linha, mas por enquanto olha só pro patrocinador.

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