PENSE OU DANCE: MÚSICA É SENSAÇÃO

Porque eu tenho um site de música (que quase ninguém lê, ok) recebo trocentos e-mails de artistas, assessorias, selos, gravadoras e casas de shows tentando divulgar suas criações. É legítimo. E muitas vezes bem chato, porque há muito e-mail com conteúdo que simplesmente não tem nada a ver com o perfil do site. Eu só ignoro, sem traumas, sem problemas. O único trabalho, além de ignorar, é deletar o e-mail da pasta de entrada. Qual o problema disso?

Bom, aparentemente, pra algumas pessoas – blogueiros, jornalistas e músicos incluídos – esse é um trabalho incômodo. Parecem que querem que o próprio artista (ou assessoria, ou selo, ou casa de show) tenha um filtro não só sobre o site pra onde enviam seus releases, como um filtro que de alguma forma determine o que vai acontecer no futuro.

Parece-me que há blogueiros e jornalistas que gostariam que os artistas que protagonizam suas páginas fossem “profissionais” o suficiente pra valer o tempo e o espaço pra escrever sobre eles.

Cada um escreve sobre o que quiser, e tem as expectativas que quiser, mas não creio que um artista só mereça espaço se se mostrar “profissional”, se tiver um release completo, redondinho. A meu ver, basta a música. Música é sensação, ela precisa dizer alguma coisa pra quem ouve.

No Floga-se, há muitos exemplos de bandas que ganharam um artigo apenas, com uma música ou um EP apenas e depois sumiram, acabaram, ninguém nunca mais ouviu falar. Mas as obras delas estão aqui, em algum lugar, pra quem quiser achar – e eventualmente, eu volto a compartilhar nas redes sociais.

Não espero que uma banda seja “profissional”, que saiba se divulgar, que vá ter um futuro qualquer, ou fazer sucesso. Não me importo com isso, não dou a mínima. É um problema da própria banda querer ou não fazer disso a sua profissão. Só me preocupo se a obra daquela banda vai me dizer algo, mesmo que não diga algo pra mais ninguém. É isso o que me importa, é isso o que faz ela merecer um espaço por aqui.

Porque o Floga-se procura informar, e não apenas noticiar. São coisas diferentes. Tento mostrar aqui o que ninguém mais mostra por aí. É pretensioso, e é um objetivo. Não é uma regra, mas é bom porque sei que tem gente ousando, provocando, tentando fazer uma música que não se encaixa comodamente nos ouvidos da audiência. Se é provocação que o Floga-se procura, não é de se esperar que tal música vá atingir grande público. E se o artista não se preocupa em ser profissional na divulgação, qual o problema?

Isso é um posicionamento. Não é o certo, nem é o errado. Não é uma fórmula de correção. Não precisa ser seguido. Quero descobrir e informar que existe uma música que ofereça alguma forma de sensação, não uma música que eu tenha que noticiar porque ela tá fazendo um burburinho por aí, ou porque o artista é uma pessoa descolada, ou porque a assessoria fez um release completinho, profissa. Quero informar que ela existe, se vai fazer burburinho são outros quinhentos. Não me importa.

Não há, entretanto, aos artistas, nenhuma regra a seguir. Posso apenas dar um conselho: faça música. Crie. Alguém vai dar espaço pra sua música. Pode não ser aqui, pode ser ali. Não se importe em ser “profissional”, a não ser que você queira fazer da música a sua profissão. Daí, você tem que pensar em montar um release completo, compreensível e instigante. Daí, quem sabe, você tem que contratar ajuda pra mídias sociais, divulgação, postura. Daí, você precisa procurar um selo profissa. Daí, você precisa fazer um vídeo profissa. Daí, você precisa saber se vestir e se comunicar, pra alcançar o máximo de pessoas possível. Daí, você precisa entender que há meios e fórmulas a seguir – não garantem nada, mas são um caminho (esse cara pode te ensinar).

O Floga-se não é parceiro de ninguém, de banda nenhuma, de selo nenhum, de assessoria nenhuma; não faz divulgação, não ajuda a divulgar nada. Só publica o que acha interessante pros seus leitores. É simples. Não tem nada sobre “profissionalismo”. Música não é sobre isso.

Fora do subterrâneo pode ser sobre isso, pra grandes públicos pode ser sobre isso. Se você é artista, só precisa se decidir sobre isso: que caminho quer seguir? Se quiser o caminho do “profissionalismo” (assumir a música como sua profissão ou assumir que sua música precisa de um amplo público), dificilmente sites como este aqui vão contribuir de alguma forma, então, por que se importar com eles?

De qualquer forma, o conselho é o mesmo: arregace as mangas e crie. Mas depois, há um longo e árduo caminho a seguir.

Qualquer que seja sua escolha, crie músicas que digam algo às pessoas, mesmo que sejam músicas fúteis, isso é o de menos. É que música é sensação, isso não muda, seja no mainstream, seja no subterrâneo.

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