PENSE OU DANCE: O TEMPO QUE DURAR

A maioria dos sites que eu acompanhava quando comecei o Floga-se, em 2006, já não existe mais. Sobraram poucos. Ou escrever sobre música é uma brincadeira passageira pra alguns aventureiros divagarem sobre seu gosto, e ganharem uns mimos de gravadoras, assessorias e bandas; ou o grande estouro dos blogues desidratou e seguem apenas os fortes de estômago (ou tolos).

Vi muitos dos “favoritos” do meu navegador sumirem: sessenta por cento já não estão mais entre nós (a minha bíblia – aqui, desatualizada – pelo menos está inteirona, firme e forte). Fico imaginando o que se deu com aqueles escribas tão dedicados a entrevistar pequenas bandas, a resenhar discos e shows, e cavocar o subterrâneo atrás da próxima “grande notícia” da música. Se formaram? Viraram engenheiros, médicos, advogados, balconistas, motoristas de ônibus? Qual foi a nota de corte financeira pra eles se tocarem que precisavam de um emprego: a conta de luz, de água, o carro novo?

É uma diversão escrever. Muita gente deve achar isso, o que é bom. Mas certa vez, encontrei Edgar Scandurra e fiz esse comentário a ele, que me respondeu um tanto a contra-gosto: “na época da Bizz, já havia poucos leitores; hoje há menos leitores e parece que há mais gente que escreve do que gente que lê” (as aspas eu montei de memória).

É porque a diversão de escrever ficou bastante facilitada nos tempos atuais. A Internet 2.0, que permitiu às pessoas produzirem e publicarem seu próprio conteúdo, se tornou um convite pra se formar esse quadro. O “efeito colateral”, na visão de alguns, é que há a interação e o confronto com o oposto: existem leitores que não gostam do seu texto e comentam, discordam, tiram sarro, compartilham xingando. Pra muita gente, isso deixa de ser diversão. Pra mim, torna tudo ainda mais divertido.

Há também acesso mais fácil à mesma informação que esse escriba conseguia “em primeira mão”. A não ser que ele produza algo exclusivo, que vá atrás da notícia, da história, todo e qualquer leitor pode fazer o mesmo. Só que dá trabalho produzir algo próprio que seja relevante.

Sem conteúdo relevante, sem um texto de credibilidade e próprio, menos gente se interessa.

Creio, então, que Scandurra está certo: há muita gente escrevendo, há gente de menos lendo. As redes sociais, com seu tiro-curto de manchetes e links, acertam muito mais na agilidade. Daí, as pessoas entram menos nos sites. As estatísticas caem – bem, há exceções – e as pessoas desistem de tocar em frente algo que aparentemente ninguém dá a mínima bola.

É o que está acontecendo com o Floga-se. Cada vez menos gente lê, as estatísticas não mentem. Eu considero que há conteúdo relevante aqui, pelo menos há algo que eu mesmo gostaria de ler. Porém, é um fato: os número minguam. De qualquer forma, há aquelas pessoas que têm a coragem de ler e seguem fiéis, algumas se guiam por essas páginas, e isso não tem preço. Não dá pra desistir.

E não dá pra julgar quem desiste. Porque esse tipo de trabalho não é um trabalho pra ganhar dinheiro. Esqueça isso, eu aconselharia – salvo aquelas exceções que seguem crescendo nas estatísticas de acesso.

Não daria pra ser de outro modo, do jeito que as coisas são hoje: a banda não ganha dinheiro, a casa de shows que resolve abrir espaço pra essas bandas também não ganha dinheiro, e a mídia que divulga essa parte da criação cultural também acaba não ganhando dinheiro.

Mas isso não deveria fazer as pessoas lerem menos. Há, pelo visto, descrédito ou desinteresse pelo o que é produzido nas letras daqui. Se muitos sites e blogues sobre música fizeram por merecer a morte, ao copiarem conteúdo de fora e não produzir seu conteúdo próprio, outros tantos vão sobrevivendo pela paixão e pelo conhecimento, seja jornalístico, seja cultural. Quanto tempo vão durar é uma incógnita.

No fim, o leitor há de se perguntar porque diabos alguém gasta tempo, disposição e inteligência pra sustentar algo que quase ninguém se importa. No meu caso, um hobby. Pra muitos, um exercício de escrita. Pra outros, uma forma de praticar um jornalismo que o jornalismo de massa não permite. Pra alguns outros, um veículo pra desabafos. Os motivos são muitos. Sem dinheiro, sem leitores e sem motivação, é difícil prever até quando esses motivos vão ser suficientes pra manter viva a chama.

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Comentários

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14 comentários

  1. Ótima reflexão Fernando.
    Eu quase parei o meu veículo esse ano, por todos os motivos que você bem elencou, no meu caso ainda adiciono uma particularidade: me questiono sobre a minha competência nessa área, tem muita gente melhor que eu, qual é o sentido então? Depois de um tempo parado e refletindo cheguei a conclusão que os motivos de tonalidade da lógica e da razão sugerem parar e os motivos com o tom da emoção sugerem continuar. O desabafo, a vontade de compartilhar opinião e sugerir sons. exercício de escrita, tudo isso entra na conta do prazer. Você cita o lance dos mimos de gravadoras e assessorias, lógico que é bom, mas… é um sentimento mais romântico que isso, o cdzinho digipak que mandam pra gente ocasionalmente não vale nem um quinze avos do que vale conhecer a galera das bandas, assessorias (existem exceções), produtores, gente como você e tantos outros, pessoas com uma caralhada de coisas em comum e que se interessam em gastar o próprio tempo discutindo elas. Depois do site eu conheci muita gente boa que de outra forma não teria conhecido. Eu acho que enlouqueceria se ficasse o tempo inteiro conversando com máquinas (minha área TI), ou no cafézinho da empresa falando apenas sobre o Corinthians x Palmeiras, (ou pior política), essa gente que dá duro pra cacete, mas que estão chafurdados no senso comum, que não conseguem tirar o crachá da empresa nem pra ir almoçar, mas que é gente boa também, apenas não completa o álbum de figurinhas. E você foi certeiro nesse lance de conteúdo relevante, acho que isso é reflexo do trabalho que o pessoal vem fazendo durante todos esses anos, aos poucos o sarrafo vai subindo mais 5cm. O pulo precisa melhorar sempre, é um reflexo da boa competição. Pena que a via financeira não acompanha esse sarrafo, pelo contrário, quase inexiste. O grande público simplesmente não se interessa e o pequeno público está cada vez mais independente. Mas ainda acredito no poder dos blogs influenciarem meia dúzia de cabeças e entreter outra meia dúzia. E você sabe: o prazer de fazer isso é imensurável. Abraço.

  2. É verdade. Se uma única pessoa ler, já terá valido a pena. Não dá pra falar pra não desistir, cada um sabe a própria nota de corte. A minha ainda dá pra aguentar. Só não sei até quando.

    Valeu pelo comentário.

  3. Para aqueles que se atrevem a sustentar um blog sozinho como tu e como eu acho que a cada postagem nova dá uma mexida no ego que funciona como combustível para continuar com o trabalho. É pouco, mas funciona. Ter um blog hoje em dia em ativa ainda que ele carregue um conteúdo relevante e atualizado deve-se acima de tudo pelo hobby que isso se tornou, o prazer pessoal. Criei o Música Café pensando nisso.

    Evidentemente que a interação entre os leitores acaba sendo outro objetivo a ser alcançado, porém isso nem sempre acontece daí você acaba ficando refém do seu próprio gosto o que de todo modo não é tão ruim assim. Além da dificuldade de se criar um público em alguns casos você acaba tendo que “competir” com outros blogs/sites que já tem um público firmado.

    De todo modo a gente segue até a nossa paciência com isso se esgotar e o prazer de postar se extinguir.

    Abraços

  4. Por favor não desistam gente, até uns 4 anos atrás eu não tinha muito conhecimento sobre música e ainda não tenho, mas o pouco que eu aprendi foi com vocês, eu só conhecia as grandes bandas, as bandas do Rock in Rio e coisa e tal, eu não conhecia a maioria das bandas que conheço hoje e devo isso aos blogueiros que sigo no twitter, eu sei que a a maioria das pessoas tem preguiça de ler, confesso que também tenho, mas eu me esforço pra ler e estou melhorando isso a cada dia, acredito que deve ser difícil mesmo não ter um retorno como vocês esperavam, mas sempre tem alguém que vai ler, e acredito que escrever também seja um dom, uma coisa especial que a gente faça por amor e prazer, vocês são muito bons no que fazem, podem acreditar nisso 🙂 beijos <3

  5. pois é. igual fazer música e manter (com grana e tempo) site próprio sobre tal música. mas fazer o quê, né? vamos fazendo sabendo que precisa mas tentando descobrir por quê.

  6. Acho que, fora a Silvia, todo mundo que comentou aqui também tem um blog sobre música e tal – aliás, pode ser que a Silvia também tenha uma página, mas isso não vem ao caso agora.

    De resto, concordo inteiramente com tudo o que disse a Silvia. Minha trajetória é um pouco diferente da dela – já conheço música com barulhos diferentes há uns dez anos ou mais -, mas mesmo assim devo dizer que o trabalho de vocês, dos blogs, podcast Resto é Ruído, selo Sinewave e Balaclava, dentre tantos outros que peço desculpas por não citar, é excelente – e não fica devendo em nada ao que se tem no exterior. De verdade.

    Poderia escrever mais, mas acho que a Silvia já resumiu bem a minha sensação sobre o que penso do assunto. Quanto ao dinheiro que não entra – e sei que o Fernando e a maioria aqui nem se pauta por isso -, acho que essa questão está perdida mesmo em nossos nichos alternativos. Façam com amor e por amor – e com reflexão, seriedade e bom humor. O dinheiro vem da “vida real” – infelizmente.

    Mas, de verdade, o que me incomoda mesmo é a falta de leitura, comentários, interação e tudo mais – até entre as bandas da MTB (seus integrantes mesmo, conversando nos blogs, sites e tal, não só para divulgar discos, mas debater assuntos, comentar outras bandas e sobre os textos) e entre os blogs que, vamos falar a real, mais do que concorrentes, são complementares.

    Um abraço!

  7. Este Blog é um dos melhores e mais imparciais blogs que eu conheço sobre musica, as resenhas sobre festivais são as mais honestas possíveis. Mas infelizmente sabemos que muita coisa boa não eh valorizada o quanto merece. Sei que existe vários blogs que lucram ao se posicionar beneficiando certo artista ou festival. Mas esse blog não se corrompeu, eu entendo a tristeza de não estar tento o feed back esperado, mas peço como leitor assiduo da coluna pense ou dance, não desfaça deste bem que você construiu.

    Parabéns para o Blog

  8. Tente aguentar firme com o blog! O máximo de tempo possível.

    Mais vale 7 leitores fiéis do que 1000 leitores de títulos.

    Abraço!

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