PENSE OU DANCE: QUAL O LUCRO?

É muito triste ver revistas e jornais fechando as portas, simplesmente porque por trás deles há profissionais que precisam pagar as contas e sobreviver. Com o anúncio da quase falência da Editora Abril, com os jornais vendendo cada vez menos em bancas, com os “cérebros” pensantes das redações não sabendo como recalcular o rumo no século XXI pra ganhar dinheiro, com profissionais sendo deslocados pras áreas de marketing e mídia social (que no fundo são a mesma coisa), me admira muito que alguém ainda acredite ser possível ganhar dinheiro competindo com um mundo de não-informação.

A tal era da informação, tão propalada e vendida, é, como se vê, a era da não-informação. A era da desinformação. A era em que se desvirtua a verdade em troca de interesses escusos quaisquer. A era da informação rasa, da leitura de manchetes em detrimento do conteúdo – este, também, cada vez mais curto. É o caos pra quem imaginava o paraíso.

Informação segue sendo produzida. Notícias acontecem como sempre aconteceram. A questão é como contá-las: vão ser apuradas, haverá ética no seu tratamento, elas servirão à busca da verdade ou ao negócio de alguns?

Quem ganha dinheiro hoje em dia são aqueles que amplificam o conteúdo, não quem gera o conteúdo. A publicidade que segue pra Facebook e Google, por exemplo, segue em linha ascendente e sem perda de fôlego à vista. Facebook e Google, a gente sabe, não produzem uma única linha de conteúdo, apenas algorítimos. Não há compromisso com a verdade e Donald Trump está eleito pra ninguém pensar que é uma engenhosa teoria da conspiração – e Dilma caiu pelo mesmo motivo e a ascensão da extrema-direita tem a mesma raiz.

As tentativas dos grandes veículos, em especial no Brasil (há casos de sucesso lá fora, certo New York Times?), de migrarem pra nova realidade, até agora se viram inócuas. Talvez porque quem pensa essas alternativas não está de fato em sintonia com o que pensa o novo consumidor. Talvez porque pensa com vícios do passado. Talvez porque não haja espaço pra veículos tão grandes e as pessoas prefiram acreditar em pequenos formadores de opinião (nem que seja pra corroborarem suas próprias visões de mundo e assim se sentirem bem/inseridos no mundo), mesmo em detrimento da ética e da veracidade do que é informado, mesmo em detrimento do contraditório. Ninguém mais tem compromisso com a verdade.

Vivemos num tempo em que muita gente acha que pra fazer jornalismo basta um release, um WordPress e uma penca de opiniões sobre qualquer coisa. Sim, opiniões sobre tudo são bem-vindas, mas elas só deveriam ser endereçadas a fatos bem checados. Rasgamos a lei da verificação porque verificar leva tempo e tempo é o que o consumidor de informações (ou meia-informação) menos tem – ele precisa ser o primeiro a publicar a notícia nos grupos de Whatsapp.

O Floga-se já tem doze anos de vida. Surgiu em 2006 como um blogue qualquer (mais um) no UOLBlog. Depois, migrou e ampliou pra ser um site que não vivesse de releases e opiniões de artistas, assessorias e produtoras. Já ganhou dinheiro, deixou de ganhar e segue sobrevivendo, se adaptando ao que acredita que o leitor queira ler, mas essencialmente fugindo do que os outros sites e blogues se baseiam. Estamos todos aprendendo constantemente e recalculando a rota baseado no que parece ser mais interessante contar – histórias que merecem ser contadas.

Como obter lucro disso? É difícil. No Brasil, tal como bandas e selos subterrâneos feitos por jovens idealistas (ou que até então não tinham mais o que fazer), veículos de informação (em muitos casos, veículos de “divulgação”) também desaparecem conforme esses jovens crescem e as contas pra pagar se multiplicam. Bandas perdem sentido com a maturidade. Selos somem quando se descobre que mesmo uma netlabel dá um baita trabalho (quantos selos você conhece, se empolgou e de repente viu sumir a atividade que era tão fervorosa?).

Escrever o Floga-se dá um baita trabalho. Há poucas pessoas que ajudam e o fazem de graça. Se o site parar suas atividades ninguém ficará na rua da amargura porque o site não sustenta ninguém. Não seria pra ficar triste. E talvez por esse motivo é que se mantenha ativo. O lucro é o idealismo, a vontade de contar histórias e de soltar pequenas notas informativas. O lucro é poder opinar sem estar amarrado a nenhum interesse – nem político, nem comercial, nem de amizade. O lucro é essa liberdade que nossos colegas jornalistas de grandes veículos infelizmente não possuem, porque os boletos continuam chegando e a gente bem sabe disso, porque os nossos continuam chegando também.

Torço pro mercado se ajustar e os farejadores de histórias – não só no mercado cultural – sigam fazendo seu trabalho sem medo de ficarem à deriva novamente. Jornalista tem que trabalhar com jornalismo, alimentando as manchetes, colunas e linhas com a verdade trabalhada na busca e na checagem. Por enquanto, estão todos zonzos atrás de um lugar pra se segurar.

Só que um povo que só conhece meias-verdades ou mentiras simplesmente não sabe o que está acontecendo e acredita em qualquer coisa que queira acreditar. Credibilidade e qualidade da informação são melhores do que quantidade e conteúdo (só) explosivo. As notícias falsas só vão voltar pro limbo quando o jornalismo voltar ao protagonismo. É uma utopia boa de se alimentar.

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