PENSE OU DANCE: TAGS, ESTILOS E GÊNEROS

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Essa é uma discussão antiga. Os músicos, em grande parte, dão de ombros e preferem não ser classificados, mas há de se pensar pela ótica do ouvinte, do fã ou até mesmo do mercado. Classificar tipos de músicas e distingui-las por gêneros e, no termo mais usado no novo século, por tags (etiquetas), ajuda bastante, sempre ajudou, as pessoas a quebrar barreiras de aproximação com o artista.

Mais do que isso, agrupa socialmente indivíduos, proporciona uma identificação mínima do ser.

Mas a “taxonomia da música” não é tão precisa quanto a taxonomia como disciplina exige. Vale dizer que taxonomia vem do grego antigo “táxis”, que indica “arranjo”, e “nomia”, que indica “método”. Nossas tags musicais são exatamente isso: um método de arranjar estilos diferentes de música.

Caso contrário, seria um tanto difícil responder à pergunta: “a banda toca o quê?”. Se você arriscar dizer “rock”, danou-se, o receptor poderá imaginar desde o Jota Quest até o Megadeth. É preciso ser mais preciso. As etiquetas servem pra isso.

Listar está na origem da cultura. “Ela é parte da história da arte e literatura. O que a cultura quer? Fazer o infinito compreensível. Ela também quer criar ordem – não é sempre, mas o quer com frequência. (…) Como alguém tenta segurar o incompreensível? Através de listas, através de catálogos, através de coleções em museus e através de enciclopédias e dicionários”, sublinha Ricardo Resende, em “A Classificação das Coisas”, texto pro livro “Marcelo Moscheta”.

É assim que sabemos que um “rock” é diferente quando é “punk” e quando é “progressivo”; quando um “samba” é “de enredo” ou “pagode”. Basta ouvir essas diferenciações e sabemos muito mais do que se trata – embora ainda não seja o suficiente.

É um processo mental. Aristóteles já se debruçava sobre a questão – pra se ter uma ideia da importância. Inerente à necessidade do ser humano de responder a tudo, de saber a fundo, de identificar, de ter segurança pra falar sobre o que trata, as etiquetas na arte (e não só) ajudam a compreender o mundo.

“A antiga arte de classificar, tão antiga quanto a humanidade, apenas recentemente adquiriu uma base teórica adequada – base esta que nos permite presumir que ela progrediu do status de arte para o de ciência”, diz Ingetraut Dahlberg, um dos pioneiros na teoria da organização (quem quiser se aprofundar na história e teoria, vale, ao menos ler esse texto).

Obviamente que essa discussão, aqui nesta tribuna, não tem condições de se aprofundar (nem filosofica, nem antropologica, nem social, nem cientificamente), mas como somos todos apaixonados por música e há uma recorrente discussão sobre classificação de gêneros, ora dispensáveis do ponto de vista do artista, ora essenciais do ponto de vista do ouvinte (e do crítico, eventualmente), vale o embate.

Numa das edições mais bacanas do podcast “O Resto É Ruído”, a de número 44, com a Huey (ouça aqui), o bate-papo caiu nesse tema.

Da parte do artista, “quem gosta de rótulo é prateleira”, porque ele sequer pensa nisso. Ele vai lá, junta todas as suas referências, seu histórico cultural, sua bagagem musical e cria a obra que lhe é capaz criar. A não ser que especificamente queira criar em um estilo qualquer, por exercício ou por contrato, o artista, por certo e em sua maioria, não pensa conscientemente nisso.

Mas o mercado precisa localizar o ouvinte. Em tempos em que tempo é mais valioso que dinheiro e os filtros clássicos (revistas, jornais, MTV) perderam um bocado de sua força, antes da aproximação com o artista, o público precisa identificar onde está pisando, o que irá consumir ao aceitar a abordagem daquele artista. Etiquetar é imprescindível.

O papel do crítico e do jornalista cultural nesse momento é importante. É ele que oferece a luz ao consumidor, etiquetando e sub-etiquetando e sub-sub-sub-etiquetando até que a árvore da identificação musical pareça a mais clara possível.

Podem, daí, vir etiquetas das mais bizarras possíveis, inventadas, que pouco queiram dizer ou que soem estranhas, algumas incomodam, outras são risíveis, outra são incompreensíveis, mas a intenção – e aqui não há norma científica alguma – é facilitar e dar ao consumidor o máximo de identidades e características possíveis sobre aquele produto artístico. Nos dias atuais, é isso que vai ajudar a vender o produto – ou ser a porta de entrada que possibilite tal venda.

Uma rápida olhada em sites como o Rate Your Music, na parte de gêneros, é possível ter uma ideia de como facilita a árvore de classificação.

É um processo que facilita pra todos, embora seja compreensível a irritação de alguns artistas quando são ligados a esse ou àquele gênero. É como se o “mundo aqui fora” não tivesse entendido a obra dele, quando na verdade há apenas a tentativa de asfaltar o caminho da compreensão pros outros. É tangibilizar o infinito.

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