A iniciativa é sempre boa: fazer em São Paulo um pedaço do conceituado festival Coquetel Molotov, de Pernambuco. O festival que já trouxe nomes importantes do alternativo mundial, como Dinosaur Jr, Teenage Fanclub, Tortoise, Nouvelle Vague, Beirut e Peter Bjorn And John, sempre faz salivar os anseios dos admiradores na maior cidade do país.
O nome da vez, porém, ainda é “alternativo” demais pro gosto mais popular: o Perfume Genius de Mike Hadreas, com dois discos lançados, é intimista e sensível em excesso pra embalar as pistas dos indies-festivos, de modo que o que se percebeu no Cine Joia, no começo da noite de domingo, 20 de outubro de 2013, foi uma sensação desconcertante de fracasso.
Pouco mais de cem pessoas devem ter comparecido ao show. Era possível sentar-se no chão pra apreciar o espetáculo, o que muita gente fez, e convenhamos é a melhor forma de curtir uma apresentação da banda.
Antes, porém, uma tortura desnecessária: Thiago Petit tentando sensualizar em cima do palco, com músicas próprias e coveres, um espetáculo vergonhoso. O show desse sujeito, embora com um tecladista e um guitarrista competentes, é tão emocionante e sensual quanto presenciar uma capivara caçando um bicho-preguiça. Num mundo ideal, Petit não conseguiria emprego nem mesmo como crooner de churrascaria no ABC Paulista. Mas no mundo indie-festivo, ele consegue destaque e críticas positivas nos sites e blogues.
Melhor pensar que deve ter sido proposital. Porque quando Mike Hadreas e seus companheiros (um tecladista, Alan Wyffels, e um baterista) subiram ao palco, aquela frágil figura pareceu gigante ao piano. Na comparação com o patético show anterior, o Perfume Genius cresceu.
Tímido, Hadreas não dava pistas se estava cansado, se é assim mesmo ou se havia se frustrado com a baixa presença de público na maior cidade do Brasil. Não se sabe qual era sua expectativa quanto a isso. Profissional, fez o seu show, ora alternando luzes solitárias ao teclado, ora dividindo atenção com os parceiros de palco, momento em que o show ganhava corpo, volume (e, surpreendentemente, talvez pela falta de público, o som do Cine Joia estava ótimo, mesmo que a voz de Hadreas variasse pra baixo).
Com músicas bem curtas, o Perfume Genius foi posicionando seu set, incluindo uma nova canção, “No Good”, e as duas coveres já conhecidas, “Helpless”, de Neil Young, e “Oh Father”, da Madonna, já no bis. Os momentos mais marcantes foram “Look Out, Look Out”, “Learning”, que tocou com Wyffels (também seu namorado) ao piano, e a bela “Hood”, a única que ganhou coro da plateia.
Pediu licença pra sair “por cinco segundos”, e voltou pra iniciar o bis, com três músicas. Ao final de “Katie”, as luzes se acenderam, o relógio marcava uma hora de show, ninguém pediu mais, as portas foram abertas, fim.
É compreensível que a plateia não ache esse um grande espetáculo. Não é. Não no sentido show business a que estamos acostumados. Hadreas deve ter sofrido um bocado na vida e coloca isso nas canções. As apresentações ao vivo parecem ser pra ele um efeito colateral dessa carreira: é preciso cumprir esse ritual pra pagar as contas. Talvez por isso ele não saia do roteiro imposto pelo setlist grudado aos seus pés. Não há muito espaço pra improvisos (ele até se recusou a tocar canções pedidas pelo público).
Com um quadro desses, em que o próprio artista isola a plateia, é avesso à auto-promoção, o fracasso na venda de ingressos é compreensível. Entretanto, o Perfume Genius ao vivo merece ser visto. É uma ousadia que leva a assinatura do Coquetel Molotov, o grande vencedor da noite. Que outros produtores – e o público – também não tenham medo de arriscar.
01. Perry
02. Take Me Home
03. Look Out, Look Out
04. No Tear
05. 17
06. No Good
07. Dark Parts
08. Sister Song
09. Helpless (Neil Young cover)
10. Floating Spit
11. Learning
12. Dreeem
13. Rusty Chains
14. All Waters
15. Hood
BIS
16. Mr. Peterson
17. Oh Father (Madonna cover)
18. Katie
Veja como foi “Hood”:
E a cover de Neil Young, “Helpless”: