Peter Hook e Bernard Summer não se bicam desde sempre. Mas a convivência profissional era suportável até o final do século passado, enquanto o New Order ainda fazia seus shows, gravava seus discos e ganhava uma grana. Ficou insustentável durante a última turnê, lá por 2005.
E agora azedou de vez. O New Order anunciou que vai tocar uma pá de shows na Europa, mas sem Hook, que estrilou, calçou as sandálias da humildade e respondeu: “todo mundo sabe que o New Order sem Peter Hook é como o Queen sem Freddie Mercury, o U2 sem The Edge”.
A resposta de Hook também vem sendo musical. A bordo do seu infame The Light, que vem excursionando “homenageando” o Joy Division, ele tá enchendo a carteira sendo cover dele mesmo. Semana passada, no Music Box de Los Angeles, Esteites, chamou alguns amigos pra mais um capítulo constrangedor dessa briguinha vulgar: Moby e Perry Farrel, dois assumidos fãs do Joy Division, deram uma canja, pra delírio da audiência saudosista (os vídeos você vê abaixo).
Farrell já havia cantado “Transmission” no mesmo palco, a convite de Hook, em dezembro do ano passado.
Sou partidário daqueles que acham que os cadáveres não devem ser exumados, salvo extrema necessidade, como judicial. Não é o caso da música. O New Order e o Joy Division vivem no Olimpo da memória e lá devem ficar. Já deram bem mais do a necessária contribuição artística pra história. Hook e Summer deveria seguir em frente.
Mas como pais que se apegam ao filho falecido, não conseguem se desvencilhar das recordações e da vida sem ele. Acabam perdendo tempo em criar algo novo e maculando a memória do ente querido. Por outro lado, há uma turba que paga pra ver essa mácula, então, por que não? Se não há vergonha social no ato, se não há abuso de direito, não há crime.
Mas a história há de cobrar a conta. Não das bandas irretocáveis, mas dos seus membros insensíveis. Por enquanto, essa banalização vem falhando miseravelmente em se vestir de homenagem – e esses espetáculos vis irão ser riscados dos anais, ou atribuídos à galhofa. É um projeto caça-níquel, como bem admitem as partes. Enquanto essa fonte não secar ou os egos não desincharem, vamos continuar assistindo essa zorra.
“Transmission” (com Moby)
“A Means To An End” (com Moby)
“Isolation” (com Perry Farrell)