PHANTOGRAM NO CIRCO VOADOR – COMO FOI

Chet Faker, Dinosaur Jr., F*cked Up, Don L, Chromeo, Schoolbell, Single Parents… Em 2014, em São Paulo, o Converse Rubber Tracks Live, evento promovido pela marca de vestuário, com distribuição gratuita de ingressos, tomou o Cine Joia de confusão, reclamações e certa frustração. Foi, em termos de organização e promoção da marca, aparentemente, um tiro no pé (entenda o caso aqui).

Era de se imaginar que diante do histórico desfavorável (apesar de uma outra edição, também em 2014 e também em São Paulo, ter sido bem sucedida), a marca resolvesse largar o projeto no Brasil. Mas não, mudou apenas de endereço. E de envergadura. Pensou de maneira mais modesta. Ao invés de cinco dias e vinte artistas, apenas dois dias e quatro nomes. Sai da rota São Paulo, entra o Rio de Janeiro. E, dependendo do ponto de vista, sai a ousadia da escalação, entra uma aparente temeridade.

O grande problema do evento de São Paulo foi a superlotação de alguns dias, de modo que esperava-se que em 2015 o sistema de distribuição de ingressos fosse revisto. Não ocorreu. Novamente foram distribuídos mais ingressos do que a lotação da casa; no caso, o Circo Voador. Os dois nomes-chamariz escolhidos foram Phantogram, dupla estadunidense com dois discos no currículo, e Marky Ramone, o baterista dos Ramones, que volta e meia tá por aqui.

Escolhi, claro, o Phantogram pra assistir, pela novidade. Os ingressos pro Marky Ramone se esgotaram rapidamente. Os pro Phantogram, não. Pelo contário, só bem perto da data do show eles se findaram. Mesmo assim, acabaram. Como dizem, “de graça até injeção na testa”.

Mas, aparentemente, no Rio de Janeiro, essa máxima não vale. Pro Phantogram, ou pra bandas novas de modo geral, nem de graça. O Circo Voador recebeu, por cima, umas trezentas pessoas – e olhe lá. Onde estava o resto do pessoal que solicitou o ingresso gratuito? Sabe-se lá…

Não há muita explicação pra esse fiasco de público, a não ser que o fiasco da organização em São Paulo tenha assustado os cariocas (mas vá saber quantas pessoas souberam ou se lembraram do que aconteceu ano passado). Pode ser. Mas também pode ser o apelo quase nulo que o Phantogram tem no Brasil (o show de Marky Ramone, com Andrew W.K., no dia seguinte, teve um excelente público).

É sabido por todos que no Rio de Janeiro os shows de bandas pouco conhecidas tendem ao público escasso. Creio que fosse o Phantogram pra São Paulo, a banda teria diante de si, mesmo com ingressos não gratuitos, um público bem maior e até mais caloroso. É um achismo, não uma certeza.

A dupla formada por Josh Carter e pela exuberante Sarah Barthel gozam de um inegável prestígio nos Esteites, a ponto de ter uma música escolhida pra embalar o novo comercial de uma marca famosa de barbeadores (com Gabriel Medina como estrela) e passear com desenvoltura por programas de tevê e palcos (menores) de grandes festivais.

Oferece um eletrônico-indie-pop descartável, mas bem divertido e eficiente. Não é de se jogar fora, longe disso. O primeiro disco, “Eyelid Movies”, de 2009, é maravilhoso, classudo, um pop soturno por vezes. Já “Voices”, o segundo disco, beira o tenebroso, de tão palatável, previsível – mas que abriu à banda um público bem mais amplo, a ponto de fazer boa figura na parada da Billboard.

Meu medo era que a dupla se prendesse à promoção desse álbum. De fato, foi o que aconteceu. Das onze canções do disco, apenas duas não apareceram no setlist. Mas surpreendentemente, ao vivo, as músicas parecem bem melhores, ganham corpo e perdem toda a artificialidade do estúdio, revelando-se dançantes e ruidosas em equilíbrio.

Sarah – é impossível tirar os olhos dela! – pula, dança, sussurra ao microfone, parece em transe. Josh tenta comandar a balbúrdia. Porém, quem dá as cartas está na linha de trás: o baterista Chris Carhart e o guitarrista e tecladista Nicholas Shelestak. Eles organizam a cozinha, dão corpo ao som da dupla e tentam consertar os eventuais erros cometidos pelas programações soltadas por Barthel.

Mesmo com pouco conhecimento da obra da dupla, os brasileiros se empolgam com as mais conhecidas “Running From The Cops”, “Black Out Days”, “Don’t Move” e, principalmente com “When I’m Small” e “Mouthful Of Diamonds”, essa última cheia de ruídos e com um final acachapante.

A banda pouco fala com a plateia. É assim mesmo. É como um “um, dois, três, quatro” ramonesiano com uma elegante roupagem pop – pop de publicidade que o quarteto no palco se esforça pra afastar. Os quatro não querem ser confundidos com uma banda descartável qualquer. Não são.

Por enquanto, estão servindo bem ao papel de ligação entre marcas e seu público jovem. Tentam manter a dignidade. Pena que tão poucos brasileiros presenciaram esse esforço. Foi divertido.

01. Nothing But Trouble
02. Running From The Cops
03. As Far As I Can See
04. Black Out Days
05. Turning Into Stone
06. Bad Dreams
07. Don’t Move
08. The Day You Died
09. Bill Murray
10. I Don’t Blame You
11. Fall In Love
12. Howling At The Moon
13. When I’m Small
14. Mouthful Of Diamonds
15. Celebrating Nothing

Veja como foi “Running From The Cops”:

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